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A IMAGEM DE BOLSONARO deslocado
entre os chefes de Estado no G20 em Roma foi um retrato fiel da nova condição
de pária do país no cenário internacional. Sem ideias, sem projetos, sem
agenda, sem visão de futuro, o presidente evitou conversar com outros
chefes de estado e preferiu iniciar uma conversa em português com garçons
italianos.
À imprensa italiana, contou
uma série de mentiras. Primeiro disse que Lula “quase faliu a Petrobras” e “foi financiado pelo narcotráfico”. Depois afirmou
que conta com “um apoio popular muito grande” e apontou uma vigorosa
retomada do crescimento da economia no Brasil. Na realidade, Bolsonaro atingiu
recentemente o nível mais baixo da sua popularidade e a retomada do crescimento
econômico é a pior entre todos os países do G20.
Durante o encontro, Bolsonaro
ignorou solenemente Olaf Scholz, que, além de ser o atual vice-chanceler e
ministro das Finanças da Alemanha, é o provável sucessor de Angela Merkel.
Despreparado e ignorante, o brasileiro provavelmente nem sabia de quem se
tratava. Scholz chegou a virar as costas diante da indelicadeza do
brasileiro. Segundo a emissora alemã Deutsche Welle, o fato “não
passou despercebido pela imprensa e foi usado como um exemplo do isolamento e
do comportamento errático de Bolsonaro durante seu giro pela Itália”.
O principal tema no mundo hoje
são as mudanças climáticas, mas, como sabemos, para Bolsonaro, isso é uma
grande bobagem promovida por ONGs interesseiras. Ele se recusou a participar da
Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a COP26, e preferiu ir
para Dubai, onde mentiu outra vez para o mundo ao dizer que a floresta amazônica não sofre com queimadas porque é úmida.
No Qatar, não tinha nenhuma agenda relevante e resolveu fazer uma motociata
fake. Fez um passeio de moto ao lado de meia dúzia de gatos pingados. Ao fim do
evento, mentiu mais uma vez ao dizer que suas motociatas estão virando uma febre mundial.
Enquanto Bolsonaro se dedica a
contar mentiras e a implodir pontes de diálogo com o mundo, o ex-presidente
Lula, em uma semana na Europa, fez mais pela diplomacia internacional do país
do que o atual no seu mandato inteiro. A turnê europeia de Lula começou em
Berlim, onde se encontrou com Olaf Scholz, o chanceler que Bolsonaro
ignorou. O ex-presidente ainda foi aplaudido de pé no Parlamento Europeu, recebido com
honrarias de chefe de estado pelo presidente francês Emmanuel Macron e se
encontrou com a prefeita de Paris e outros políticos e sindicalistas.
Na Espanha, Lula conversou com
o primeiro-ministro espanhol Pedro Sánchez sobre
interesses em comum dos dois países, a pandemia e mudanças climáticas —
assuntos pelos quais Bolsonaro não tem o menor interesse. Ao contrário do atual
presidente, o ex cumpriu uma agenda digna de um chefe de estado.
Muito se debateu nas redes
sociais sobre a falta de cobertura que a imprensa brasileira fez sobre a viagem
de Lula. Considero que a imprensa escrita fez uma cobertura razoável, mas a
televisiva demorou para noticiar. Desde segunda, o petista vinha cumprindo uma
agenda importante na Europa, que foi ignorada segunda e terça pelo jornal de
maior audiência do país, o Jornal Nacional. Somente
na quarta-feira, o JN resumiu a viagem de Lula em 30 segundos, mas de
maneira tímida, e sem mencionar a ovação que recebeu no Parlamento Europeu. Na
GloboNews, canal da TV fechada que pouca gente assiste, a cobertura foi maior e
até que ganhou o devido destaque.
O grupo Prerrogativas, que
reúne advogados e juristas ligados à defesa dos direitos fundamentais e da
democracia, emitiu uma nota em que aponta o “menosprezo de grandes
jornais e redes de comunicação brasileiros em relação à viagem do ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva a países europeus não constitui apenas uma
inexplicável lacuna informativa”. Para o grupo, “somente um propósito
intencional justifica a omissão noticiosa destes órgãos de comunicação quanto
aos significativos encontros mantidos por Lula com personalidades europeias nos
últimos dias”.
Fonte: theintercept.com
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