Texto e fotos: Ascom SSPDS
A programação de Suellen
Vieira para o ensolarado 3 de setembro de 2025 era realizar um sobrevoo de
parapente pelos monólitos de Quixadá. Nada incomum para uma parapentista cross
country com seis anos na bagagem. Ela deslizaria pelas correntes de ar acompanhada
do marido e três amigos e percorreria um mísero quilômetro, caminho abaixo até
um campo de futebol. A decolagem foi do cume de um monólito. Quiseram os ventos
áridos que ela não pousasse ali – e insistiram que somente ela tivesse que voar
por quase três horas ininterruptas e pousasse sozinha, completamente perdida,
há mais de 200 km dali.
A parapentista, de 25 anos, é
apenas uma das várias vítimas resgatadas pela Coordenadoria Integrada de
Operações Aéreas (Ciopaer) da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social
(SSPDS) neste ano. O balanço da coordenadoria da SSPDS, que comemora 30 anos
nesta sexta-feira (10), aponta que os helicópteros resgataram diversas vítimas
em situações muito parecidas com as de Suelen. São pessoas desnorteadas na
complexa mata do sertão cearense, ou mesmo à deriva em alto-mar, com
comunicação extremamente limitada para informar aos entes queridos onde estão e
até mesmo sem noção de saber para onde devem caminhar.
Nem mesmo o pouso foi
tranquilo. O parapente ficou preso a uma árvore de “uns dez metros de altura”,
relata. Ela se livrou do equipamento e despencou de ponta cabeça em direção ao
chão. “Por sorte”, diz a parapentista, o pé se prendeu a um galho e amorteceu o
tombo, quando ela caiu com o peito direto no chão. A primeira sensação da
sobrevivente foi a falta de ar, logo depois veio o ardor do esgarçamento da
pele. Já havia passado a primeira hora da tarde, a garrafa com um litro d´água
não duraria muito e a fome seria a próxima companheira. Não bastasse o
sofrimento, o primeiro contato por rádio com o marido só viria daqui a duas
horas.
A informação não era muita e,
mesmo assim, foi o suficiente para que as aeronaves de asas rotativas da
Ciopaer localizassem Suellen. A primeira pista foi o tecido do parapente preso
no topo da árvore. Daí, mais de 100 cidadãos da pacata Morrinhos se voluntariaram
em motocicletas para localizar a parapentista perdida em um complexo final de
tarde. As primeiras imagens do resgate foram feitas pela tripulação do
helicóptero e percorreram os telejornais do estado no dia seguinte. Abatida,
com sede, fome e aos prantos, ela foi acolhida a bordo da aeronave, submetida a
exames médicos e pode finalmente retornar ao seio familiar.
Servir e proteger
Casos como esse, tornam a
existência da Ciopaer essencial para servir e proteger a população cearense.
Além dos resgates, a Coordenadoria aponta que as mais de 1.358 horas de vôo e
as 1.098 missões realizadas entre 1º de janeiro a 20 de setembro de 2025 foram
responsáveis por 156 transportes aeromédicos, 202 operações policiais e 319
ocorrências de patrulhamento. Sem essas aeronaves, situações de alta
complexidade se tornariam ainda mais desafiadoras.
Notícias recentes divulgadas
pela Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) demonstram o
quanto a distribuição em cinco bases instaladas em Fortaleza, Sobral, Juazeiro
do Norte, Quixadá e Crateús, é outro ponto forte do efetivo formado por 246
mulheres e homens responsáveis pela frota de nove helicópteros e um avião. Com
essa distribuição, são cerca de 30 minutos entre o acionamento e o atendimento
da vítima. Há apenas quatro dias, uma
vítima de acidente de motocicleta com um traumatismo crânioencefálico (TCE) foi
socorrida em Guaraciaba do Norte, na região da Ibiapaba, e encaminhada
estabilizada a uma emergência situada em Sobral.
Uma
outra ocorrência de acidente de trânsito, no dia 25 de setembro de 2025,
ocorreu em Piquet Carneiro, no Sertão Central cearense. A vítima atendida
pelo transporte aeromédico da Ciopaer, também com o apoio do Serviço de
Atendimento Médico de Urgência (Samu Ceará), possuía um quadro de traumatismo
crânioencefálico e politraumatismo. Como o tempo de deslocamento entre o local
do acidente e a unidade hospitalar de referência poderia levar três horas, o
modal aéreo foi adotado, sendo necessários apenas 40 minutos para que a vítima
fosse colocada em uma mesa de cirurgia no Hospital Regional de Juazeiro do
Norte.
Em
27 de agosto deste ano, a vítima de um acidente de trânsito em Limoeiro do
Norte, no Vale do Jaguaribe, era uma criança de apenas seis anos de idade.
Enquanto a mãe e a irmã, de quatro anos de idade, foram socorridas por
ambulâncias para o Hospital Regional de Limoeiro do Norte, a vítima mais grave
foi encaminhada de helicóptero para o Instituto José Frota (IJF), em Fortaleza.
Atualmente, cinco helicópteros da Ciopaer podem ser equipados para carregar uma
das UTIs móveis disponíveis à população cearense. Todo o processo de embarcar
os equipamentos de última geração não leva poucos minutos.
Transporte de órgãos
Apenas um pouco antes dos
resgates aeromédicos citados nesta matéria, a SSPDS também noticiou um
atendimento de transporte de órgãos da Ciopaer. Em
31 de julho deste ano, duas aeronaves transportavam um coração, um fígado e
dois rins do Hospital Regional do Vale do Jaguaribe, em Limoeiro do Norte, até
hospitais localizados em Fortaleza. A missão contou com o apoio da equipe
da Central de Transplantes da Secretaria Estadual de Saúde (Sesa) e salvou
simultaneamente quatro vidas em uma única manhã ensolarada de céu limpo e
azulado.
As aeronaves saíram da sede da
Ciopaer em Fortaleza às 05h15 e chegaram em Limoeiro do Norte às 6h. A aeronave
Fênix 08 foi responsável por transportar o coração, que exige mais urgência, em
razão do menor tempo de conservação do órgão. Ela decolou de Limoeiro do Norte
às 9h10 e chegou ao destino final em Fortaleza às 9h55. Já a aeronave Fênix 04,
com os demais órgãos, decolou às 10h e pousou às 10h45. Vista pelo ângulo da
eficiência e da prontidão, as equipes levaram menos de uma hora para riscar o
céu de uma ponta a outra e transportar os órgãos para quem precisa.
“A Ciopaer realiza diversas
missões essenciais, mas o transporte de órgãos e tecidos humanos para
transplante é, sem dúvida, uma das mais impactantes. Uma única missão pode
transformar várias vidas. Hoje, por exemplo, utilizamos duas aeronaves para
transportar um coração, dois rins e um fígado. São quatro vidas beneficiadas
diretamente. Sabemos que a atuação da Ciopaer é fundamental para garantir que
esses órgãos cheguem com rapidez ao destino, possibilitando a realização do
transplante. Isso nos traz grande satisfação”, comenta sobre o atendimento
essencial, o coordenador da Ciopaer, o coronel Marcus Costa.
O serviço não foi interrompido
mesmo durante o período da pandemia do Covid-19. Em
17 de agosto de 2020, uma equipe de médicos e enfermeiros realizou a captação
de um fígado no Hospital Regional do Sertão Central. A doação foi
autorizada pela família de um homem de 38 anos, que faleceu após sofrer um
acidente vascular cerebral hemorrágico. Ao chegar à capital cearense, o órgão
foi levado pela equipe médica até o Hospital Geral de Fortaleza (HGF), no
bairro Papicu, onde um paciente de 55 anos, com cirrose hepática, recebeu o
fígado. Toda a missão levou apenas cinco horas para ser finalizada.
“O tempo entre a retirada do
órgão e o implante no receptor é um importante fator para melhora dos
resultados no transplante. Sabemos como essa doação é valiosa e necessária.
Essa parceria com a Ciopaer torna viável a captação no interior do estado, trazendo
agilidade no transporte dos órgãos e da equipe”, reconheceu o cirurgião da
equipe de transplante hepático do Hospital Geral de Fortaleza, Dr. Cayo César
de Góis. Também participaram da missão o cirurgião geral do HGF, Bráulio
Filgueira; e os enfermeiros especialistas em transplantes, Patrícia Almeida e
Tomaz Edison Henrique.
Apoio em operações policiais
Uma outra linha de trabalho
realizada pela Ciopaer é o apoio a operações policiais. No dia 1º de outubro
deste ano, um trio suspeito de posse ilegal de arma de fogo foi preso por
composições da Polícia Militar do Ceará (PMCE) no bairro Dias Macêdo, em Fortaleza.
Os homens estavam em fuga por um matagal, quando as asas rotativas da
Coordenadoria localizaram com precisão os suspeitos, de 18, 19 e 21 anos, e
apreenderam dois fuzis, quatro pistolas, 239 munições e 30 g de maconha. Eles
foram imediatamente conduzidos até o 16º Distrito Policial (16º DP), unidade da
Polícia Civil do Estado do Ceará (PCCE), e autuados por associação criminosa,
posse irregular de arma de fogo e tráfico de drogas.
No
último dia 24 de setembro, as asas rotativas da Ciopaer foram novamente
solicitadas, desta vez para a realização de uma recaptura de um fugitivo do
sistema prisional. O trabalho contou com a integração entre as forças da
SSPDS e a da Secretaria da Administração Penitenciária (SAP), resultando na
identificação e localização do alvo, de 27 anos, que ao perceber a aproximação
de uma equipe do Comando Tático Motorizado (Cotam/PMCE), pulou a Ponte dos
Ingleses e tentou fugir pelo mar. O apoio do helicóptero permitiu a localização
do condenado, com uma passagem por porte irregular de arma de fogo e quatro por
roubo, e uma equipe do Corpo de Bombeiros Militares do Estado do Ceará (CBMCE)
o capturou na água.
Em 4 de setembro de 2025, um
novo acionamento e ação conjunta da Polícia Militar do Ceará (PMCE) e da
Coordenadoria Integrada de Operações Aéreas (Ciopaer). Um homem, de 32 anos,
realizou disparos de arma de fogo em uma via pública da cidade de Itapiúna. Com
o apoio de uma aeronave da Ciopaer sobrevoando a área, foi possível identificar
a posição do suspeito em fuga e prendê-lo. Ele estava em posse de um fuzil T4,
uma espingarda .12, duas pistolas e 69 munições de diversos calibres e foi
colocado à disposição da Justiça.
Um breve histórico
Tão presente na atualidade e,
ainda assim, tão necessária no passado, a trajetória que possibilitou a
existência da Ciopaer se confunde com a própria história do Ceará. O primeiro
uso de um helicóptero em uma ocorrência da Segurança Pública ocorreu em 8 de
junho de 1982, quando um Boeing 727-200 se chocou contra a Serra da Aratanha,
em Pacatuba, durante a aproximação para pouso no Aeroporto Pinto Martins, em
Fortaleza. Todos os 137 passageiros do voo VASP 168, incluindo o empresário
Edson Queiroz, perderam a vida naquele que se tornou um dos mais graves
acidentes da aviação comercial brasileira.
O resgate dos corpos,
realizado em uma área tão remota que curiosos se arriscaram apoiando-se em
pedras, foi possível graças a um helicóptero modelo Esquilo, gentilmente cedido
pela então Companhia de Energia Elétrica do Ceará (Coelce). A complexa operação,
protagonizada por policiais e bombeiros militares, começou por volta das 7h do
dia seguinte e levou dois dias para ser concluída. Além das Forças de Segurança
do Estado, a Força Aérea Brasileira também teve participação essencial,
sobrevoando a área com mais quatro aeronaves.
O mesmo helicóptero, cedido e
operado integralmente por funcionários da Coelce, participou de outras
ocorrências marcantes no estado, como enchentes e desastres naturais
registrados nos anos de 1985, 1987 e 1991. No entanto, foi o sequestro de dom
Aloísio Lorscheider por detentos do extinto Instituto Penal Paulo Sarasate
(IPPS), em 1994, que marcou o ápice daquele período. A chamada “Operação Serra
Azul” entrou para a história como uma das maiores ações de recaptura do Ceará:
os 12 detentos foram detidos novamente e todos os reféns libertados com
segurança.
A partir desse episódio, o
Governo do Ceará iniciou os projetos de aquisição de aeronaves voltadas à
Segurança Pública. O mesmo helicóptero que havia atendido à ocorrência de 1982,
um HB 350 B Esquilo foi adquirido e transferido para a Polícia Militar do Ceará
(PMCE). A aeronave recebeu o nome “Raio Uno” e foi incorporada ao recém-criado
Grupamento de Policiamento Aéreo (GPAer/PMCE), oficializado em 10 de outubro de
1995. Essa data marca o início da trajetória da Coordenadoria Integrada de
Operações Aéreas (Ciopaer/SSPDS) no Ceará. Entre 1997 e 2007, as
aeronaves da Ciopaer foram renomeadas como ´”Aguia”. Em 2007 veio a
nomenclatura definitiva, as aeronaves da coordenadoria passaram a ser batizadas
como Fênix, em referência ao pássaro mitológico que renasce das próprias
cinzas, símbolo da capacidade da Ciopaer de se reinventar continuamente.
“A Ciopaer não é só minha
casa, é também a minha segunda família”, descreve o Oficial Inspetor da Polícia
Civil do Estado do Ceará (PCCE), João Vieira Paixão Filho, ao relembrar a
própria trajetória na Ciopaer, que teve início em 2001. “Se pudesse voltar
atrás, faria tudo igual. Tenho orgulho de servir o nosso estado e de ser
respeitado pelas nossas Forças de Segurança”. Hoje, João Filho atua no serviço
de manutenção aeronáutica, mas ainda lembra a época em que foi tripulante. “Não
há preço que pague resgatar pessoas presas às ferragens, ou socorrer crianças
em uma situação de emergência, é uma emoção indescritível”, arremata.
Frota
Atualmente a frota da Ciopaer
é constituída por nove helicópteros, sendo duas aeronaves do modelo AS350 B2
Esquilo, um EC130 B4, um EC135 P2+, três EC 145 C2 e dois H135, além de um
avião Cesnna C-210 M Centurion II. A coordenadoria conta com um quadro qualificado
de pilotos, operadores aerotáticos, mecânicos de manutenção aeronáutica e
profissionais de apoio solo, todos formados dentro dos mais elevados padrões
técnicos e profissionais. Soma-se a esse grupo a equipe do Samu Ceará, composta
por médicos(as) e enfermeiros(as) que atuam como operadores de suporte médico,
desempenhando papel fundamental nas missões de atendimento aeromédico.
A Ciopaer dispõe ainda de uma
ampla gama de equipamentos de última geração, utilizados nas mais diversas
missões: câmeras de alta resolução com capacidade infravermelho, guinchos
elétricos, ganchos de carga, cestos para combate a incêndios e resgate em altura
ou em meio aquático, além de um vasto conjunto de ferramentas voltadas à
manutenção das aeronaves e de seus sistemas.
Com atuação marcante não
apenas no Ceará, mas também em operações conjuntas com outros estados, como
Piauí, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Paraíba, Alagoas, Pará e Rio Grande do
Sul, a Ciopaer Ceará consolida-se como uma referência nacional em aviação de
segurança pública, motivo de orgulho para todo o povo cearense.
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