Algas da espécie Botryococcus braunii fizeram com que
Ocorrência que gerou
comparações com passagem bíblica do Livro do Êxodo, na verdade, é um fenômeno
natural, que não traz qualquer perigo para a saúde humana. Entenda.
Na última sexta-feira (8), um
fenômeno incomum fez com que a paisagem do Mar da Galileia se transformasse,
despertando sentimentos mistos de fascínio e temor. Isso porque a água do lago
adquiriu um tom vermelho-sangue intenso, em uma cena que rapidamente evocou
passagens do Antigo Testamento e gerou interpretações de cunho apocalíptico.
Como lembra o siteAncient
Origins, o espetáculo natural trouxe à memória a primeira das Dez Pragas do
Egito, narrada no Livro do Êxodo, quando Deus teria transformado as águas do
rio Nilo em sangue como julgamento contra o Faraó (Êxodo 7:17-21). No texto
bíblico, o episódio é descrito como o início de uma sequência de calamidades
enviadas para forçar a libertação do povo hebreu da escravidão.
o Mar da Galileia ficasse vermelho — Foto: Shiran Ungar
Vídeos e fotos do local em tom
carmesim viralizaram nas redes sociais, muitas vezes acompanhados de
comentários que iam desde o humor ao alarme religioso. “É um sinal da ira de
Deus pelo que está acontecendo”, escreveu um usuário no X (antigo Twitter).
Explicação científica
Apesar da aparência dramática,
os especialistas garantem que não há qualquer perigo para a saúde. De acordo
com o Ministério da Água de Israel, a mudança de cor foi provocada por uma
proliferação da microalga verde da espécie Botryococcus braunii, que, em
determinadas condições ambientais, adquire tons avermelhados devido à produção
de um pigmento natural.
Essa alga é encontrada em
corpos de água doce e salobra em várias partes do mundo e, segundo estudos,
produz hidrocarbonetos semelhantes ao petróleo bruto – um potencial recurso
para a indústria de biocombustíveis. O pigmento vermelho se desenvolve especialmente
em períodos de forte radiação solar, temperaturas elevadas e alta
disponibilidade de nutrientes na água.
Não é a primeira vez que isso
acontece. Fenômenos semelhantes já foram registrados em outros anos no Mar da
Galileia, normalmente, nas estações mais quentes do ano, quando também há maior
procura turística pelo lago.
O pigmento não é tóxico e não
há registros de reações alérgicas associadas ao contato com a água. Testes
realizados pelo Laboratório de Pesquisa Kinneret confirmaram que a água
permanece própria para banho e para uso humano, informa o jornal The Jerusalem
Post.
Simbolismo do Mar da Galileia
O Mar da Galileia (também
chamado de Lago de Tiberíades ou Kinneret) ocupa posição central na geografia
espiritual do Oriente Médio, e é considerado sagrado para judeus, cristãos e
muçulmanos. Para os cristãos, foi palco de alguns dos milagres mais conhecidos
de Jesus, como andar sobre as águas, acalmar tempestades, a pesca milagrosa e a
multiplicação de pães e peixes.
Essa carga simbólica amplifica
o impacto de qualquer fenômeno visualmente impressionante na região. Não
surpreende, portanto, que o episódio tenha alimentado narrativas de que se
trataria de um “sinal dos tempos”.
Comparações também foram
feitas com outros eventos de águas avermelhadas no Oriente Médio, como um caso
registrado em 2021. Na ocasião, um lago próximo ao Mar Morto ficou
vermelho-sangue, reacendendo especulações religiosas.
Embora o episódio atual tenha
explicação ecológica, a associação com narrativas bíblicas é inevitável.
Pesquisadores lembram que, historicamente, fenômenos naturais extremos
inspiraram relatos religiosos.
A travessia do Mar Vermelho
por Moisés, por exemplo, tem sido objeto de estudos que sugerem causas naturais
possíveis: ventos de até 100 km/h soprando de um ângulo específico poderiam
recuar temporariamente as águas rasas, criando um corredor seco. Quando o vento
cessasse, a água retornaria rapidamente, em um efeito comparável a um
mini-tsunami, o que poderia explicar a destruição do exército egípcio.
Monitoramento da água
As autoridades locais
continuam monitorando a qualidade da água e a biodiversidade do lago, um
recurso estratégico para abastecimento, pesca e turismo. A expectativa é que a
coloração se dissipe naturalmente à medida que as condições ambientais mudem.
Ainda assim, para muitos, o episódio será lembrado como um momento em que a
natureza pareceu dialogar com a história sagrada.
Seja interpretado como um
sinal divino, um eco das Escrituras ou simplesmente um fenômeno natural
fascinante, o Mar da Galileia vermelho-sangue de 2025 reforça como ciência e fé
seguem entrelaçadas na maneira como percebemos o mundo. Para uns, é prova da
força simbólica dos lugares sagrados; para outros, um lembrete de que a
natureza ainda guarda surpresas capazes de nos conectar ao passado.
Fonte: Arthur Almeida Revista Galileu
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