*Dr. Leonardo Torres, 30 anos, psicoterapeuta junguiano e criador de conteúdo do perfil @Psiarque no Instagram
*Leonardo Torres
Com o advento da pandemia, trabalhar e estudar em
casa foi, em um primeiro momento, uma promessa de melhoria da qualidade de
vida. No entanto, alguns "inimigos" surgiram com mais força. Um deles
é a procrastinação.
Não é incomum clientes, colegas e amigos
relatarem que estão procrastinando mais e, em seguida, acabam por se
martirizarem por isso. O que leva a quadros de pânico, ansiedade, baixa
autoestima e outros sintomas.
Na realidade, o grande inimigo não é
procrastinar. O inimigo real é a guerra que o indivíduo inicia com a
procrastinação. No momento em que o corpo e a alma pedem pelo ócio - pelo fazer
nada - , o indivíduo se frustra e não vai buscar um ócio de qualidade. Sua fuga
são as redes sociais, por exemplo.
Quem navega nas redes sociais não se deixa levar
pelo ócio. Acaba por rolar as notícias e curtir, comentar e compartilhar
conteúdos. O indivíduo tenta anestesiar-se com as redes sociais para fugir do
ócio e do medo proveniente dele. Ou seja, parece que ninguém mais dedica tempo
para si mesmo; na verdade, parece que cada vez mais a atenção está voltada para
o aparelho eletrônico e suas conexões virtuais.
A palavra "ócio" está intrinsecamente
interligada com a de origem grega "sklolé", "escola", em
português. Escola como ambiente, para os gregos, do "fazer nada" que
gera grandes criações e invenções. Ou seja, há muito já se sabe que a
procrastinação de qualidade é necessária para alcançar o seu contraponto: a
proatividade e a produtividade. Se um indivíduo comum passa cerca de um terço
do dia nas redes sociais, sem descansar, sem procrastinar, com certeza, a
produtividade e a proatividade também serão afetadas.
Vale ainda entender que o ser humano não é uma
máquina que mantém sua produtividade em constância e consistência. Somos
pêndulos: em um momento precisamos procrastinar para em outro momento sermos
produtivos.
Procrastinar com qualidade não é consumir imagens
diversas: não é estudar, ver televisão, ficar nas redes sociais. Procrastinar
com qualidade é colocar a referência em si. Pode-se, por exemplo, dormir: o
sono produz uma homeostase psíquica e fisiológica. Expressões criativas como
desenho e escrita também são bem-vindas. Meditações também podem ser uma
procrastinação de qualidade.
O fato é que cada indivíduo deve encontrar o seu método de procrastinar
com qualidade, a fim de centrar-se, isto é, passar um tempo consigo mesmo, com
seu corpo e alma, para conhecer-se e compreender-se.
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