Açaí. — Foto: Unsplash
Estudo de 2020 apontou que a
ingestão de alimentos contaminados é a principal via de transmissão hoje no
Brasil.
O açaí não poderá ser vendido
nos restaurantes e quiosques durante a COP30, que ocorre em Belém em novembro.
A restrição está no edital da Organização dos Estados Ibero-americanos (OEI)
com as regras para a seleção de operadores, divulgado nesta semana.
O documento, antecipado pelo
jornal “O Estado de S. Paulo”, foi confirmado pelo GLOBO. O motivo citado é o
“risco de contaminação por Trypanosoma cruzi (causador da doença de Chagas), se
não for pasteurizado”. Porém, todos os tipos estão proibidos na conferência.
Mas afinal, o açaí transmite a
doença de Chagas?
O diagnóstico, também chamado
de Tripanossomíase americana, é uma infecção causada pelo protozoário
Trypanosoma cruzi, que pode ser disseminado para humanos principalmente por
meio do contato com fezes de triatomíneos infectados, insetos conhecidos como barbeiro,
ou pela ingestão de alimentos contaminados.
A ingestão de sangue pelo
barbeiro ao picar um humano estimula a defecação do inseto, por isso costuma-se
dizer que a picada causa a doença. No entanto, essa via tem deixado de ser a
principal forma de transmissão no Brasil, explicou o professor da Universidade
Federal do Acre (Ufac) Odilson Silvestre, que publicou um estudo sobre o tema
em 2020.
“No passado era mais a picada
do mosquito, agora é mais por ingestão de alimento contaminado, em especial, o
açaí. Mas também, cana de açúcar, sucos e outros alimentos”, afirmou Silvestre
em comunicado divulgado à época.
O pesquisador, junto com um
grupo de cientistas de 11 instituições, entre universidades brasileiras e
secretarias de Saúde, revisou 41 trabalhos conduzidos sobre o tema entre 1968 e
2018, que englobaram 2.470 casos de doença de Chagas e 97 óbitos.
A conclusão, publicada na
revista científica Clinical Infectious Diseases, ligada à Universidade de
Oxford, apontou que a maioria dos casos da doença de Chagas ocorrem na
Amazônia, em especial no Pará, e que, de fato, o açaí era a principal causa
dessa transmissão.
“Atualmente ainda temos isso
(disseminação) presente, inclusive no Acre; mas o principal estado com a doença
é o Pará. É importante que as pessoas entendam que o açaí pode conter sim o
‘Trypanosoma cruzi’, o protozoário que causa a doença. Há uma necessidade de o
governo atuar nisso, treinando os vendedores de açaí para que eles façam o
processamento adequado com um branqueamento”, defendeu Silvestre na época.
No processo de branqueamento,
o fruto do açaí é aquecido a 80ºC durante 10 segundos. Em seguida, é resfriado
antes de ser levado para os equipamentos que dão continuidade ao processamento.
“Além de passar por outros produtos de higienização. Isso tira toda a
contaminação e mata o ‘Trypanosoma cruzi’, tornando o açaí seguro para
consumo”, explicou o professor.
Sobre a letalidade dos casos
analisados, o grupo de pesquisadores estimou que a taxa é de 1,0%, sendo que
ela diminuiu ao longo dos anos. Segundo informações do Ministério da Saúde, na
fase aguda, os principais sintomas da doença de Chagas são:
Febre prolongada (mais de 7
dias);
Dor de cabeça;
Fraqueza intensa;
Inchaço no rosto e pernas.
No caso de picada do barbeiro,
pode aparecer uma lesão semelhante a um furúnculo no local
Quando o paciente não recebe o
tratamento adequado no momento agudo, a doença se desenvolve para a forma
crônica. Nesses casos, o paciente pode desenvolver, mesmo depois de anos,
problemas cardíacos, como insuficiência cardíaca, e digestivos, como megacólon
e megaesôfago.
O tratamento envolve o uso do
remédio benznidazol, fornecido gratuitamente pelo Ministério da Saúde no Brasil
e deve ser realizado imediatamente nos pacientes diagnosticados na fase aguda
da doença. Nos casos crônicos, a indicação do medicamento pode variar. Em
alguns casos é necessária uma alternativa, chamada de nifurtimox, que também é
ofertada pela pasta da Saúde.
Fonte: O Globo
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