No início deste século, o sonho de
moradores de muitas localidades rurais era dispor de energia elétrica.
Programas como o Luz no Campo e o Energia para Todos, do Governo Federal,
universalizaram a rede elétrica rural, atendendo a comunidades isoladas e
remotas. Vinte anos depois, o cenário é outro.
O desejo agora é estar conectado
ao mundo através da internet de forma mais rápida.
De
acordo com dados da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), em uma
década, houve um aumento de 260% ao acesso à internet banda larga fixa no
Ceará. Em dezembro de 2010, o Estado contou com 268 mil acessos. O número
representa 11,4 acessos a cada 100 domicílios. Já em 2019, a Anatel
contabilizou 966 mil acessos e 33 acessos a cada 100 domicílios.
No
interior, a realidade é de um crescimento ainda maior comparado ao do Estado
como um todo. Em 10 anos, a expansão foi mais de 6 vezes maior. Em 2010, sem
contar com Fortaleza e os municípios da Região Metropolitana, se registrou 58
mil acessos à internet por banda larga fixa. A densidade é de 5 acessos a cada
100 domicílios. Em dezembro de 2019, no entanto, os acessos subiram para 388
mil, representando 27,2 acessos por 100 domicílios.
Outro
ponto que chama atenção, de acordo com os dados da Anatel, é que em 2010, dos
cinco municípios que detinham o maior número de acessos por 100 domicílios,
três estavam no interior. A maior densidade era em Iguatu (81,4 acessos por 100
domicílios), seguido por Fortaleza (28,57), Eusébio (10,63), Juazeiro (10,63) e
Quixadá (10,26).
Em
2019, Poranga ficou no topo do ranking, com 79,81 a cada 100 domicílios. Em
segundo lugar ficou Groaíras (76,57), seguida por Juazeiro (56,58), Aracati
(56,35) e, em quinto lugar, a Capital (51,76). O sertão conectado é ainda maior
se levarmos em conta os dados de internet móvel. Afinal, com um smartfone na
mão, o mundo é ainda menor.
Cenário
Pequenos
provedores passaram a suprir a demanda por internet rural no Ceará. As empresas
menores compram espaços de grandes provedores, instalam equipamentos e
redistribuem o sinal wireless (via rádio).
Na
localidade de Juazeirinho, zona rural de Iguatu, a estudante Raíra Maria de
Souza, 12 anos, navega pela internet usando notebook e smartphone. A avó dela,
Antônia Cândido da Silva, professora aposentada, também acompanha vídeos e
mensagens no celular. “É mais uma companhia que a gente tem”, pontuou.
Na
localidade vizinha, Verônica Maria da Silva, aposentada, e Sara Alves de Melo,
dona de casa, também estão conectadas. “Meu sobrinho, estudante, foi quem pediu
para eu instalar internet aqui em casa para os trabalhos de pesquisa da
faculdade”, contou Verônica. “Ele precisava ir para um bairro, na periferia de
Iguatu, numa lan house, à noite, e era perigoso”.Em casa, Sara Melo divide o
tempo entre as tarefas domésticas e o celular, trocando mensagens com amigas e
parentes. “Facilitou muito a nossa vida”.
Superação
O
acesso à internet também estimula histórias de superação. Na localidade de
Malhada Limpa, distante 30 quilômetros do centro urbano de Iguatu, o acesso à
rede mundial de computadores permite que os irmãos deficientes visuais Marcos e
Edilândia Lavor estudem em casa, por meio de notebooks com sistema de leitura
de texto. Os irmãos cursam Licenciatura em Letras na Faculdade de Educação,
Ciências e Letras de Iguatu. “A gente continua morando aqui no sítio graças à
internet”, frisou Marcos Lavor.
Na
zona rural de Quixelô, na localidade de Riacho do Meio, na bacia do Açude Orós,
o artista plástico Ruy Relbquy Silva, 30 anos, que pinta com a boca em
decorrência de uma deficiência, cursou História e divulga sua arte graças à
internet. “Temos de estar conectados porque já é o presente, uma realidade no
campo”, observou Ruy.
Cinturão
A
instalação do cinturão digital no Ceará, a partir de 2011, por meio de uma rede
de fibra ótica de 8.060Km possibilitou o atendimento a cerca de 90% da
população urbana, facilitando a expansão e a velocidade da internet no Ceará.
Em 2015, Iguatu tinha apenas 139 pontos de conexão. Cinco anos depois, são mais
de 20 mil clientes, somente no centro urbano. Tanto na cidade quanto na área
rural, a expansão da internet é contínua por meio de fibra ótica, sinal de
rádio e telefonia móvel.
“Essa
é uma tendência de todas as regiões cearenses”, observa o técnico em
informática Ícaro Alves, que trabalha em um dos três pequenos provedores que
atendem ao campo. Os provedores menores sobreviveram oferecendo os serviços na
zona rural, que tem população dispersa e, em algumas localidades, isolada.
“Atendemos
a vinte localidades e a trezentos clientes na área rural de Iguatu e mais de
mil em cinco municípios vizinhos”, disse. “Se não fosse a internet, com oferta
em banda larga, não teria como oferecer o serviço para os moradores das
localidades mais distantes”, complementou.
A
partir da chegada da fibra ótica, houve expansão da oferta para o sertão e
ampliação dos serviços urbanos.
Iguatu
dispõe de duas empresas de grande porte, que trabalham com fibra ótica, e de
três provedores de pequeno porte que vendem os serviços de internet aos
clientes através do uso de antena, sistema wireless. Os pequenos empreendedores
complementam o trabalho chegando a locais que não interessam às grandes
empresas.
“A
internet hoje é vista como indispensável, como o serviço de água e de luz
elétrica”, observou o técnico em informática de um pequeno provedor regional,
Wydh Machado. “A gente chega aonde outros não querem entrar porque tem custo
alto e poucos clientes em potencial”. Ele estima crescimento anual em torno de
10% a 15% na contratação de novos clientes. “A crise econômica afetou um pouco,
mas é um serviço em expansão”.
Efeito em cadeia
A
chegada da internet às casas, sítios e vilas rurais contribuiu para reduzir o
número de lan houses. “Não tem mais praticamente. As pessoas pesquisam e
estudam em casa porque têm computador, impressora e acesso à internet”, observa
Ícaro Alves.
Outros
setores da economia foram fortemente beneficiados. “A expansão da internet traz
um impacto enorme para a economia local, beneficiando o varejo que também se
expande na zona rural”, observou o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas
(CDL) de Iguatu, Francisco José Mota Luciano. “As empresas nas vilas rurais
estão conectadas, divulgam seus produtos, fazem pagamentos e outros serviços
por meio de aplicativos on line”. A presença da internet facilitou a vida de
todos e o crescimento dos negócios”.
Fonte: Site Miséria