Foto: Antonio
Rodrigues
A aposta no melhoramento genético de rebanhos vem sendo o
caminho adotado pelos produtores de leite do Ceará para conseguir manter a
produção, apesar de longos períodos de estiagem. Em 2014, segundo o Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Estado produzia 1,364 milhão de
litros por dia. Em 2018, subiu para 1,933 milhão de litros/dia.
Com 2,4 milhões
de cabeças de gado, o rebanho bovino cresceu 5% em um ano, atingindo a 16ª
colocação no ranking nacional, com participação de 1,1% do rebanho brasileiro.
O número representa o início da retomada do crescimento do rebanho, que retraiu
5,7% em 2017. O destaque é justamente o Município do sertão Central,
Quixeramobim, liderança estadual com 85,5 mil cabeças, ou 3,5% do total do
Estado.
Referência
no Ceará, Quixeramobim, por exemplo, desenvolve ações de melhoramento genético
de rebanhos, desde o início da década de 2000, para fortalecer a produtividade
leiteira. A partir da inseminação artificial, o melhoramento genético se
expandiu para outras regiões, como Sertão de Crateús, Inhamuns, Centro-Sul e
Cariri.
Em Juazeiro do Norte, a iniciativa da Secretaria de Agricultura e Abastecimento
do Município (Seagri), em um ano, já alcança mais de 20 pequenos criadores.
O
projeto realizado pela Secretaria de Desenvolvimento Agrário (SDA), em parceria
com associações de produtores e prefeituras, aumentou a produtividade, segundo
Márcio Peixoto, coordenador de Pecuária da SDA. As fazendas atendidas passaram
de 5 litros de leite por vaca/dia para 12 litros/vaca/dia. "O resultado
mostra que, mesmo no período de estiagem, a produção leiteira no Ceará se
manteve", observou Peixoto.
A
SDA distribuiu 90 botijões, cada um, com 100 doses de sêmen de produtor de alta
linhagem das raças gir, holandesa e pardo suíço. As unidades ficam por um tempo
sob a guarda de uma associação de produtores ou da Secretaria de Agricultura de
um município. Depois é feito o rodízio. "Uma dose de sêmen varia entre R$
20 e R$ 45, e tem custo bem reduzido em comparação à compra e criação de um
reprodutor (touro) na fazenda", reforça Peixoto.
Aposta
Na
terra do Padre Cícero, a Seagri lançou um programa próprio do Município, com
apoio do Governo do Estado, que doou um botijão de 20 litros, que custa, em
média R$3,5 mil. Já para a compra dos kits de inseminação, 50 doses de sêmen da
raça gir, mais 50 da raça holandesa, e o restante do material, foram investidos
R$ 6 mil. A recarga de nitrogênio custa, em média, R$ 220, e é feita a cada
dois meses.
Através
de um cadastro, a equipe técnica da Pasta faz uma visita para determinar se a
propriedade está adequada ou indicando adaptações a serem realizadas, pois o
melhoramento genético é baseado no tripé de genética, manejo e nutrição.
"Os animais são avaliados nutricionalmente. A propriedade também. É
realizada uma avaliação de todos os animais e propriedade, como suporte
forrageiro, manejo e sanidade desses animais para as melhorias
necessárias", explica a zootecnista Débora Barbosa, que coordena o
Programa de Melhoramento Genético em Juazeiro.
Após
isso, é realizada a inseminação quando o animal apresentar o cio natural ou a
IATF - Inseminação em Tempo Fixo. Após a injeção, o processo dura entre 48h a
72h. Tudo isso é feito de forma gratuita. Segundo Débora Barbosa, uma das
vantagens da inseminação é a disponibilidade de genética de qualquer touro com
qualidades produtoras. "O animal com uma genética definida fornece ao
produtor a potencialização da aptidão do rebanho, seja ele para corte ou leite,
definida pelo criador", explica.
Após
o nascimento dos bezerros, a Seagri mantém o acompanhamento com sua equipe, que
conta com veterinário, inseminador, agrônomos e técnicos em agropecuária. Em
Juazeiro do Norte, a zona rural foi dividida em cinco territórios, cada uma com
um profissional para visitar mensalmente criadores e agricultores.
Na
propriedade do criador Pedro Gonçalves, no Sítio Jurema, já nasceram seis
bezerros. Trabalhando com o gado há mais de 40 anos, ele acredita que a
estiagem afetou a produção, mas vê com bons olhos o refortalecimento da
bovinocultura em Juazeiro do Norte. "A gente só vai esperar o que é bom.
Aqui vai ser melhor para o leite e espero vender animais pelo dobro",
enfatiza. A expectativa é positiva já que, em outros locais, o programa já tem
boa adesão e vem obtendo bons resultados, como em Várzea Alegre. "Antes, a
vaca produzia no máximo seis litros de leite por dia, mas hoje a qualidade do
rebanho melhorou e produz o dobro", disse o criador, Luís Bezerra.
Referência
No
início da década de 2000, Quixeramobim criou o programa InfoLeite, de gestão de
propriedade rural e de sanidade animal, principais problemas enfrentados pelos
criadores à época. Cinco anos depois, dando continuidade a esse processo,
surgiu o Gera Leite, de assistência técnica, também desenvolvido em parceria
com o Sebrae. Nesse período, a assistência elevou a produção leiteira,
reduzindo ao mesmo tempo os custos no campo.
Esse
trabalho auxiliou na elevação do rebanho. Os últimos números da Pasta municipal
da área são de 2007, com 61.148 animais e sem ultrapassar os 100 mil litros de
leite. O último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), de 2018, aponta 85.200 cabeças. A produção atual diária de leite está
na média de 140 mil, e deve aumentar, estima a equipe da Secretaria de
Desenvolvimento Agropecuário de Recursos Hídricos e Meio Ambiente de
Quixeramobim.
Há
dois anos, a Prefeitura passou a desenvolver mais dois programas focados no
setor leiteiro, por meio do retorno do InfoLeite, com a participação de 241
produtores, e com o Programa de Inseminação Artificial, com mais outros 120.
"Capacitamos 48 técnicos inseminadores e vamos formar mais. Conseguimos
botijões para armazenamento do sêmen, comprado pela Prefeitura, também o
nitrogênio, e a Laticínios Betânia, através de parceria, dá apoio financeiro.
Os resultados já estão sendo alcançados e atraindo o interesse de outras
comunidades", explicou o titular da Pasta agropecuária, o médico
veterinário Kolowyskys Dantas.
Fonte: DN- Antonio Rodrigues
