Próximo de
completar 70 anos de idade, Raimundo Fagner continua com a marca que pautou uma
carreira de quase cinco décadas. Com personalidade forte, temperamental, o
cantor e compositor sempre foi determinado pelo sucesso popular. Conseguiu
transitar e engatar parcerias para além da música - seu principal metiê até
hoje.
A biografia “Raimundo Fagner:
quem me levará sou eu” (Editora Agir) oferece um recorte sobre o perfil do
cearense para além do músico: um sujeito extremamente ligado às raízes, e
afeito a circular dentre outros meios com apelo massivo e de poder, como o
futebol e a política.
Com a presença de Fagner, o
livro será lançado nesta terça (16), às 18h30, na Livraria Cultura (Aldeota),
ao lado da autora Regina Echeverria e da editora Janaína Senna. O encontro é
aberto ao público e inclui uma sessão de autógrafos da obra. Em entrevista ao
Verso, o cantor pontua que a publicação integra as comemorações de seus 70 anos
e antecede o lançamento de um álbum inédito.
Até
outubro – Fagner aniversaria no dia 13 desse mês – ele lançará o disco,
incluindo parcerias com Renato Teixeira, Zeca Baleiro e Moacir Luz. Com a
biografia lançada, o artista enfatiza que está na melhor fase de sua carreira e
finaliza um ciclo de vida. “É como pular de uma fogueira e ir pra outra.
Eu não estou só ‘vivo’, estou muito vivo. E recebendo um reconhecimento que nunca
imaginei. Sempre busquei muito realizar coisas, o sucesso, porque a gente
depende da competição no nosso trabalho. Mas nunca imaginei ser tão reconhecido
pelas gerações novas também”, observa o cantor.
Apurada e escrita pela
jornalista Regina Echeverria, a biografia é aberta com a história de Bruno, o
filho de Fagner, reconhecido pelo cantor depois de adulto, e segue,
evidenciando o crescimento pessoal do cearense, sempre ligado à terra natal e à
família dos pais, Seu Fares e Dona Chiquinha. A narrativa ainda foca no caminho
de um artista obstinado pela música – sob os reflexos do desinteresse de Fagner
como aluno do ensino escolar. Fotos de várias fases da vida pessoal e
profissional do biografado também ilustram boa parte das 440 páginas.
A obra é
temperada por trechos das cartas que Fagner escrevia para a família enquanto
vivia por Brasília (DF), Rio de Janeiro (RJ), São Paulo (SP), dentre outros
lugares pelo Brasil e pelo mundo. Nessas declarações, o cearense sai da figura
“forte” que sempre envolveu sua personalidade, demonstra fragilidades e tenta
defender, perante o conservadorismo familiar, a própria vocação
artística.
Pesquisa
O cantor situa que sua irmã,
Marta Lopes, e Tereza Tavares, diretora administrativa-financeira da Fundação
Raimundo Fagner, tocaram boa parte do processo de realização do livro.
Organizadora do Acervo Raimundo Fagner, Marta serviu de referência para a
pesquisa de Regina Echeverria.
“Quando entrei, já foi no
tempo de acompanhar o que a Regina tinha escrito. Houve uns contratempos no
meio disso, demorou bastante. Foi uma coisa muito dolorosa mesmo esse processo,
mas graças a Deus está aí na rua. As pessoas gostando, outras criticando, mas
isso faz parte do jogo mesmo”, recapitula o cantor.
Indagado se conseguia
recordar da maior parte das histórias do livro, garante que lembra de tudo. Ele
acrescenta que dentre os vários conflitos que teve, precisou aliviar em alguns
episódios. “Você lidar com tantos fatos, tive atritos com muita gente. No meu
livro, eu quis um pouco amenizar. Regina teve uma certa dificuldade com isso,
mas o livro é meu”. A autora confirma a interferência. “O que ele falou tá
falado. Eu fiz o que ele quis”, conta a biógrafa.
O estranhamento com Belchior
(1946 – 2017), parceiro no clássico “Mucuripe”, aparece em vários capítulos.
Fagner se queixava da “inveja” do poeta sobralense, quando os dois ainda
dividiam apartamento no Rio de Janeiro e o cantor fortalezense começou a
receber uma série de convites pra tocar. E o conflito, segundo a narrativa do
livro, culminou, mais adiante, até em briga por um casaco.
Intensidade
“A sensação que eu tenho é
que vivi muito, trabalhei muito, desde criança sempre gostei disso. Virei o
mundo inteiro, viajei muito. Muita coisa não entrou, mas eu posso fazer outro
livro, sobre futebol, por exemplo. E isso me motiva a contar outras histórias”,
vislumbra.
A linha do
tempo da obra abarca os primeiros anos de vida, em Fortaleza (onde nasceu) e
Orós (sua cidade de coração), e reforça como Fagner começou a cantar cedo, a
sonhar com música e programas de auditório. “Sempre pensei no estudo como um
plano B, fui um péssimo aluno, só estudava o que eu queria. Já tinha essa
intuição, de que minha vida seria na música”, recorda.
Sem diminuir a ambição do
biografado, a obra revela que a meta de Fagner era alcançar a posição de
sucesso de Roberto Carlos. Indagado se, como leitor da própria história,
destacaria alguma revelação do livro, o cantor aponta passagens da biografia:
“Naturalmente, muita gente não sabia do Bruno. Agora mesmo, quando faço show,
as pessoas vêm falar comigo e perguntam por ele. E muita coisa aconteceu no
aspecto profissional, os atrevimentos da infância”.
Segundo ele, a biografia se
distingue por se tratar da trajetória de um músico que se relacionou com outras
áreas. “Num contexto geral, é uma pessoa que trabalhou em grupo, e sempre teve
bons parceiros, a começar pelo Belchior, o Fausto (Nilo). Aqui no Rio, Vinicius
(de Moraes), Ferreira Gullar, tantos poetas. Gente no mundo do futebol, música,
política. Acho que isso pode fazer diferença em relação a outras biografias”,
avalia Fagner.
Serviço
Lançamento do livro “Raimundo Fagner: quem me levará sou eu”
Com sessão de autógrafos para o público. Nesta terça (16), às 18h30, na
Livraria Cultura (Shopping Varanda Mall, Av. Dom Luís, 1010, loja 8, Aldeota).
Acesso gratuito. Contato: (85) 4008.0800
Fonte: DN