Foto:eshoje
Roadmap citado por Lula ficou
fora da agenda oficial, mas o Brasil articula apoio para recolocá-lo. Proposta
prevê grupo de trabalho até 2027 e já reúne dezenas de países, apesar da
resistência petroleira.
O governo brasileiro tem se
mobilizado nos bastidores da COP30 para que o "mapa do caminho" para
abandonar os combustíveis fósseis seja oficializado na agenda da conferência. O
plano havia ficado de fora, mas fontes ligadas ao governo contaram ao g1 e para
a TV Globo que já há apoio de outros países.
➡️ Antes, para você entender: "Mapa do
caminho" ou roadmap (em inglês) é o termo usado em negociações
internacionais para designar planos de ação que estabelecem etapas, prazos e
metas concretas rumo a um objetivo comum. Na prática, trata-se de um roteiro
político e técnico que define "quem faz o quê, até quando e com quais
recursos".
O roadmap foi citado três
vezes pelo presidente Lula em seu discurso de abertura da conferência. A fala
foi vista como uma sinalização clara de que essa era uma tarefa para a COP de
Belém.
➡️ Desde a COP 28 em Dubai, no ano de 2023, os
países concordaram que é preciso fazer uma "transição para longe dos
combustíveis fósseis". No termo em inglês, o texto final citava
"transitioning away from fossil fuels". No entanto, deixou um ponto
cego: não disso, como e quando isso seria feito.
A questão é que, apesar da
sinalização de Lula, o mapa não está na agenda oficial da COP30 — assim como
outros quatro assuntos que ficaram de fora, entre eles o debate sobre a
ampliação do financiamento.
No entanto, fontes ligadas ao
governo explicam que há uma costura sendo feita para a inclusão.
Como isso está sendo feito?
O que o g1 e a TV Globo
apuraram é que o plano é que outro país e não o Brasil lance a discussão. A
ideia é que o país apresente a opção e o Brasil dê suporte. A Colômbia está
buscando apoios para a iniciativa e pode divulgar a ideia na semana que vem.
➡️ A Colômbia já anunciou a proibição de
exploração de petróleo em sua área da Amazônia, por exemplo. Isso como um país
subdesenvolvido. O contexto traz força para pressionar contra a narrativa
econômica.
Segundo a apuração da agência
AFP, a Colômbia já teria o apoio de 60 países entre eles Quênia, Alemanha e
Colômbia.
O maior obstáculo são os
países em que a economia é baseada em petróleo, como a Arábia Saudita. O que os
países falam é que seria necessário mais tempo e condições justas, em que os
subdesenvolvidos não fossem os primeiros.
➡️ Por isso, o objetivo do Brasil não é a entrega
de um mapa do caminho que defina agora como é quando — isso travaria a
discussão. Mas um plano de futuro:
A proposta é a criação de um
grupo de trabalho que atue por dois anos definido como e quando. Esse grupo vai
apresentar os resultados para a COP32, que acontece em 2027.
Ainda não está definido se a
estratégia seria colocada no papel dentro do texto final da COP30 (o que
exigiria consenso de todos os países) ou se seria uma "decisão de
capa". A decisão de capa é um documento apresentado pelo presidente da
Conferência do Clima para incluir temas que não foram negociados por todos os
países.
Uma amostra dessa costura
aconteceu na terça-feira (11) em um evento com a presença da ministra Marina
Silva e representantes de alguns dos países aliados desse plano como Reino
Unido, França e a própria Colômbia.
Eles estiveram reunidos com
Nicholas Stern, vencedor do Nobel de economia e que atua com estudos sobre
economia de baixo carbono. Stern falou sobre as pesquisas e aplicações para uma
economia com menos impacto.
No evento, a representante do
Reino Unido ainda usou a palavra para dizer à ministra que ela tinha o apoio do
país em sua vontade de uma transição energética de forma prática.
“Estamos totalmente com você”,
disse.
Isso é o suficiente?
O que especialistas explicam é
que apesar de não ter datas e regras ainda, isso oficializaria a transição
contra combustíveis fósseis e dá um passo mais largo se comparado ao que foi
feito na COP28.
“Isso é um avanço muito
grande. A gente teria uma obrigação formal de discutir as datas e os formatos
disso em breve. Seria um marco de sucesso da COP”, explica Stela Herschmann.
Paulo Artaxo, que é professor
da USP e membro do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU,
lembra que a COP30 só está ocorrendo por causa da queima de combustiveis
fosseis, que é a razão de 90% do aquecimento global. "Portanto desenhar um
mapa do caminho pra que a humanidade se livre dos combustíveis fosseis é a
melhor coisa e a coisa mais importante que a COP30 pode realizar",
afirmou.
Fonte: Vladimir Neto, Poliana Casemiro, Victor Ferreira, g1 e TV Globo
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