O oxigênio adulterado era fornecido para clínicas e hospitais públicos
A Justiça do Ceará recebeu a
denúncia feita pelo Ministério Público do Ceará (MPCE) acusando 12 empresários
de adulterar oxigênio medicinal durante a pandemia da Covid-19. Desde
novembro de 2020, o MP vinha investigando as empresas, quando deflagrou a
'Operação Oxida'.
A denúncia oferecida pelo
Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas (Gaeco) foi
recebida na quinta-feira da semana passada, pela 11ª Vara Criminal de
Fortaleza. Agora, os empresários ficam na condição de réus e devem apresentar
suas defesas nos próximos dias.
O processo tramita em segredo
de Justiça. A reportagem não obteve os nomes dos investigados e as defesas não
foram localizadas.
"Conforme as
investigações, as empresas dos denunciados teriam produzido e fornecido
oxigênio industrial (utilizado em oficinas mecânicas e congêneres) em vez de
oxigênio medicinal para clínicas e hospitais públicos de vários municípios do
Ceará", disse o MP.
Os acusados podem responder
pelos crimes de falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto
destinado a fins terapêuticos ou medicinais. Se condenados, as penas variam de
10 a 15 anos de prisão.
Ar utilizado em soldas de
oficinas mecânicas
Em 2020, o Diário do Nordeste
noticiou o início da operação. Na época, 11 mandados de busca e apreensão foram
expedidos pela 11ª Vara Criminal de Fortaleza e cumpridos contra empresas
localizadas em Fortaleza (3), Caucaia (2), Eusébio (1), Jaguaribe (2), Juazeiro
do Norte (2) e Barbalha (1).
Um homem identificado apenas
como 'Ramon' foi preso em Caucaia, Município da Região Metropolitana. O
suspeito estava engarrafando gás adulterado no momento que as diligências
aconteciam, conforme as autoridades.
O médico pneumologista e então
presidente da Sociedade Cearense de Pneumologia e Tisiologia, Ricardo Coelho
Reis, alerta que os riscos são altos. Segundo o especialista, em determinados
casos, o uso de oxigênio medicinal adulterado pode levar à morte do paciente.
Investigação
O Gaeco instaurou um
Procedimento Investigatório Criminal (PIC) após tomar conhecimento de que
empresas estariam produzindo e armazenando o produto sem, no entanto, possuírem
autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para esta atividade.
"Os estabelecimentos
também não estariam observando cuidados mínimos de higiene e segurança
necessários para a produção e comercialização do oxigênio. A prática criminosa
levou o Gaeco a deflagrar, no dia 26 de novembro de 2020, a operação “Oxida”, que
buscou desarticular o esquema", segundo o MP.
O órgão afirma ainda que foi
constatado que as empresas investigadas vendiam o oxigênio industrial
diretamente a hospitais e clínicas e a intermediários, "que mesmo ciente
das irregularidades, também comercializavam o produto com unidades de saúde. Para
burlar a fiscalização, alguns dos estabelecimentos teriam utilizado lacres
falsos de empresas que efetivamente tinham autorização para comercializar
oxigênio medicinal".
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