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Este povo africano tem adaptações genéticas para viver em condições desfavoráveis, diz estudo.

 

 



A região habitada pelo povo Turkana é caracterizada por calor extremo, escassez de água e vegetação limitada. Isso demandou adaptações genéticas da população — Foto: Unsplash/ Regarn Hope

 

Estudo pioneiro revela como seleção natural há 5 mil anos preparou a comunidade Turkana, do Quênia, para prosperar em uma região pouco favorável à sobrevivência humana

 

A região habitada pelo povo Turkana é caracterizada por calor extremo, escassez de água e vegetação limitada. Isso demandou adaptações genéticas da população


Um estudo publicado na revista Science nesta sexta-feira (19) indica que o povo Turkana, do norte do Quênia, desenvolveu adaptações genéticas que permitem viver em uma das regiões mais áridas do planeta. Essa pesquisa, realizada por cientistas africanos e americanos, analisou 367 genomas completos e identificou mais de 7 milhões de variantes genéticas.

 

 

 

 

Entre os achados, destaca-se o gene STC1, ligado à resposta do corpo à desidratação e ao processamento de alimentos ricos em purina, como carne e sangue são a base da dieta Turkana. Apesar do alto consumo dessas substâncias, a comunidade raramente apresenta doenças como a gota.

 

“Cerca de 90% das pessoas avaliadas estavam desidratadas, mas, em geral, saudáveis”, afirma Julien Ayroles, da Universidade da Califórnia, Berkeley, ao The Guardian. Os pesquisadores também estimam que as adaptações surgiram há cerca de 5 mil anos, quando a região enfrentou um processo de aridificação.

 

Atualmente, 70% a 80% da dieta Turkana vem de fontes animais. Esse padrão alimentar, comum em sociedades pastoris, é fruto da escassez de água e vegetação, que inviabiliza a agricultura.

 

Descompasso evolutivo

O estudo também alerta para o chamado descompasso evolutivo. Acontece que ao migrarem para áreas urbanas, os Turkana passam a enfrentar novos riscos de saúde, como hipertensão e obesidade, porque as adaptações que antes eram vantajosas se tornaram problemáticas em outro ambiente.

 




O povo Turkana, no árido norte do Quênia, carrega no DNA adaptações únicas que lhes permitem prosperar com pouca água e uma dieta baseada em carne e sangue — Foto: Unsplash/ Regarn Hope

Ciência e tradição

O projeto envolveu quase uma década de diálogo com a comunidade, integrando genética, ecologia e antropologia. Pesquisadores se reuniam com anciãos e moradores em conversas noturnas ao redor da fogueira para discutir saúde, alimentação e mudanças no estilo de vida.

 

 

Como parte da devolutiva, a equipe lançará um podcast em idioma Turkana e recomendações práticas de saúde. Outros povos pastoris da África Oriental, como Rendille, Samburu e Borana, também podem ter adaptações semelhantes.

 

“A descoberta acrescenta mais uma peça à compreensão de como o clima molda a evolução e a saúde humanas”, conclui Dino Martins, diretor do Instituto da Bacia de Turkana.

 

Fonte: Carina Gonçalves Galileu

 

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