Preta Gil (1974-2025) — Foto: TV Globo
Preta Gil, cantora, atriz, apresentadora e empresária,
morreu neste domingo aos 50 anos, em decorrência de um câncer. A informação foi
confirmada pela assessoria de imprensa dela. Preta passou as últimas semanas
nos Estados Unidos, onde tentava um tratamento experimental contra a doença.
Filha do cantor e compositor
Gilberto Gil, ela enfrentou um câncer quase dois anos contra um câncer no
intestino, que a levou a cirurgias e exames no Brasil e, por fim, um tratamento
nos Estados Unidos. A maneira corajosa e transparente como Preta lidou com a
doença emocionou o Brasil. "Sei que fiz a escolha certa em dividir com as
pessoas as minhas vulnerabilidades e meus sofrimentos. Mas com a cabeça
erguida, como sempre foi, desde o começo", disse ela quando venceu o Prêmio
faz Diferença, do GLOBO, em 2024.
Preta Maria Gadelha Gil
Moreira foi diagnosticada em janeiro de 2023 com adenocarcinoma, um câncer no
intestino. Após cirurgia e tratamentos de quimioterapia e radioterapia, a
cantora chegou a anunciar que a doença estava em remissão. Em agosto de 2024,
contudo, ela foi a público dizer que o câncer havia voltado em diferentes
partes do seu corpo: dois tumores nos linfonodos, um nódulo no ureter e
metástase no peritônio.
Também em agosto de 2024,
Preta Gil comemorou o aniversário de 50 anos com uma festa para 700 pessoas num
dos armazéns da Zona Portuária do Rio, com shows da banda Psirico e da cantora
Ludmilla. Na mesma época, ela lançou a autobiografia, "Preta Gil: os
primeiros 50" (Globo Livros), no qual relata a luta contra o câncer e o
término do casamento de oito anos com o produtor Rodrigo Godoy, em 2023, após
descobrir que ele a tinha traído enquanto ela fazia o tratamento contra o
câncer.
Em dezembro, ela passou por
uma cirurgia que durou mais de 18 horas para a retirada de tumores espalhados
pelo corpo.
Tratamento nos EUA
Em maio de 2025,
Preta Gil viajou aos Estados Unidos, onde fez uma consulta no Virginia Cancer
Institute, em Washington, para saber se poderia integrar grupos de pacientes
que recebem tratamentos inovadores. Em seguida, ela viajou a Nova York para
exames no Sloan Kettering Cancer Center, instituição que é referência mundial
em tratamento e pesquisa de câncer. Amigos e familiares se revezaram na cidade
americana para acompanhar a cantora, que seguia postando parte de sua rotina
nas suas redes sociais. "Mais uma dose", escreveu em uma das fotos.
Em
participação no no programa "Domingão com Huck", da TV Globo, Preta
havia contado sobre a ideia de dar continuidade ao tratamento fora do Brasil.
"Sou grata por passar por tudo isso podendo me tratar com dignidade. Entro
em uma fase difícil. No Brasil, já fizemos tudo que podíamos, agora a minha
chance de cura está no exterior, e é para lá que eu vou", disse, na
ocasião.
Preta Gil está internada no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo — Foto: Divulgação
Relembre a trajetória de Preta
Gil
Primeiro disco em 2013
Preta Gil lançou seu primeiro álbum,
"Prêt-à-porter", em 2003, quando seu pai era ministro da Cultura do
primeiro governo Lula, com um repertório mesclando pop, MPB, samba e funk. Na
capa e no encarte do CD, ela estava nua. Diante da polêmica causada pelas
fotos, ela disse, em entrevista a Fernanda Young que o barulho não teria
acontecido se ela fosse magra. A partir desse momento, Preta passou a ser uma
referência para a autoaceitação feminina, se posicionando contra pressão
estética pela magreza ou por padrões físicos.
O segundo disco, "Preta", veio dois anos depois,
seguido pela turnê e o DVD "Noite Preta". Em 2010, ela apresentou o talk
show "Vai e vem", com conversas sobre sexo, no canal GNT. Seu
terceiro álbum, "Sou como sou", foi lançado em 2012. No ano seguinte,
ela comemorou dez anos de carreira com a gravação do DVD "Bloco da
Preta", do qual participam Lulu Santos, Ivete Sangalo, Anitta, Israel
Novaes e Thiaguinho. O terceiro álbum, "Todas as cores", veio em
2017.
No Bloco da Preta, no Rio — Foto: Cléber Júnior/Agência O Globo
Em 2009, a cantora lançou o Bloco da Preta, que logo
tornou-se um sucesso do carnaval do Rio de Janeiro e, dez anos depois, estreou
em São Paulo. Bissexual, ela era vista como símbolo de empoderamento pela
comunidade LGBTQIA+.
Em paralelo com a carreira musical, Preta participou de
novelas como "Caminhos do coração" (2007) e "Os Mutantes"
(2008), da Record. Também atuou na série "As cariocas" (2010) e na
novela "Cheias de charme" (2012), da TV Globo; além de filmes como
"Billi Pig" (2011), "Crô em família" (2018) e "Filho
da mãe" (2022).
Além da música e das novela, Preta Gil também se dedicou
aos negócios. Em 2017, ela fundou a Mynd, ao lado de Fátima Pissarra e Carlos
Scappini. A empresa é especializada em música, marketing de influência e
entretenimento.
Autobiografia
Em agosto de 2024, Preta lançou sua autobiografia, “Preta
Gil: os primeiros 50”, pela Globo Livros. "Vivi muitos altos e baixos, não
foi uma vida fake. Foi vivida com tudo de bom e de ruim", disse ela ao
GLOBO na ocasião do lançamento. O livro não segue uma ordem cronológica: começa
com seus relatos com a descoberta do câncer. Também lembra da infância no Rio,
num colégio de classe alta, as primeiras experiências amorosas — com mulheres e
com homens —,o acidente de carro que matou o irmão Pedro, em 1990, o sucesso
como jovem produtora e o dia em que se entregou de corpo e alma ao posar nua
para a capa de seu primeiro álbum, “Prêt-à porter”, em 2003.
— Com o disco, tive uma compreensão muito forte de que não
era o mundo da “Preta no País da Tropicália”. Existiam pessoas que pensavam
diferente de mim, que educavam seus filhos de forma diferente dos meus pais,
com preconceitos, moralismos, racismo, gordofobia, machismo — disse ela na
entrevista. — Tive que começar a lidar com a realidade, com pessoas que me julgavam,
me odiavam. Isso foi um baque, mas enfrentei, enfrento até hoje, e tenho
vencido, acho.
A madrinha Gal Costa sempre foi um colo seguro onde ela se
agarrava quando pequena. “Minha madrinha sempre foi uma grande paixão. E, mais
do que do meu pai, eu queria era estar atrás dela”, relembra Preta na
autobiografia.
— Na infância e adolescência, fui muito próxima dela. Na
vida adulta, a gente se encontrava muito esporadicamente. Mas, a partir de
2017, quando gravamos a música “Vá se benzer”, a gente virou amiga mesmo, de
trocar ideia, de ligar para saber como estavam as coisas — afirmou.
Vida pessoal
Filha de Gilberto Gil e de Sandra Gadelha, Preta casou com
o ator Otávio Muller, pai de seu único filho, Francisco Gadelha Gil Moreira
Muller de Sá. O segundo casamento foi com o mergulhador Carlos Henrique de
Lima. Entre 2015 e 2023, ela foi casada com o personal trainer Rodrigo Godoy,
relação que terminou durante o tratamento contra o câncer.
Preta Gil afirmava-se bissexual, nunca escondeu que tinha
tido relações com mulheres, e era uma defensora dos direitos das pessoas
LGBTQIA+.
Fonte: O Globo
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