Ainda que represente menos de
5% do eleitorado brasileiro nos últimos pleitos, o Ceará virou uma
região estratégica para os candidatos à Presidência da República.
Parlamentares locais ganharam espaço nos debates nacionais ao passo em que as
disputas no Estado são cada vez mais “nacionalizadas”. Soma-se a isso um
eleitorado majoritariamente de esquerda, mas onde a direita tem investido
para reduzir a distância para os adversários.
Atualmente, o Estado é o único
em que a Capital é governada pelo PT, um feito que não ocorria há oito anos no
País. A vitória de Evandro Leitão (PT) em Fortaleza também foi uma sinalização
da força política daquele que atualmente é apontado por políticos e analistas
como o líder do grupo governista: o ministro Camilo Santana (PT).
O papel de Camilo Santana
Após oito anos à frente do
Governo do Ceará — e uma aprovação recorde —, o hoje ministro da Educação
conseguiu indicar o sucessor, Elmano de Freitas (PT), que foi eleito ainda no
primeiro turno contra adversários de peso, como o ex-deputado Capitão Wagner
(União) e o ex-prefeito Roberto Cláudio (PDT).
Aliados também atribuem às
articulações de Camilo o maior apoio recebido por Lula entre o primeiro e o
segundo turno das eleições de 2022, passando de 65,9% para 69,9% no Estado.
Naquele ano, inclusive, o ex-governador foi eleito para o Senado com quase 70%
dos votos. Com a posse do presidente, ele assumiu o Ministério da Educação,
pasta que tem um dos principais programas sociais lançados pela gestão federal:
o Pé-de-Meia. O cearense, inclusive, aparece nos bastidores como possível
candidato à Presidência em 2026. Possibilidade que ele nega sempre que
questionado.
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| Foto: Reprodução |
Outra liderança cearense com
destaque no cenário nacional é o líder do governo Lula, o deputado federal José
Guimarães (PT). O político já foi cotado para presidir o PT nacionalmente, no
entanto, tem demonstrado mais interesse em disputar o Senado Federal.
Professor de Teoria Política
da Universidade Estadual do Ceará (Uece), Emanuel Freitas pondera que a
conjuntura local de forças indica um PT “superlotado” para 2026. Para o
cientista político, isso pode dificultar as articulações da sigla,
principalmente a nível local. A legenda domina a Prefeitura da Capital, o
Governo do Ceará e a Presidência da República.
“Embora o Elmano seja o
governador do PT e tenha o nome do PT, não podemos esquecer que o camilismo não
é o mesmo que um petismo no Ceará, embora para a oposição seja. O camilismo é
um arco de aliança muito grande, por conta disso, não acho que possa favorecer
o nome do PT, favorece o nome do Elmano como continuidade deste projeto, que é
um projeto amplo, governista, para além do PT”, aponta.
Seja pela presença dessas
lideranças, seja pelo interesse eleitoral, Lula tem feito do Ceará um de seus
principais destinos. Considerando as capitais, Fortaleza foi a quarta onde ele
mais esteve neste mandato, com seis visitas. À frente da capital cearense estão
apenas São Paulo (22), Rio de Janeiro (10) e Salvador (7). Esse placar, no
entanto, deve mudar, já que Elmano anunciou uma nova viagem do presidente no
fim deste mês para a inauguração do Hospital Universitário do Ceará.
Reduto da esquerda
De acordo com dados da Justiça
Eleitoral, em 2022, o eleitorado cearense representou 4,59% dos votantes
brasileiros para o cargo de Presidente da República, o maior valor em duas
décadas. Historicamente, a esquerda tem ampla vantagem no Ceará, com apoio a
candidatos do PT no segundo turno sempre acima de 70%.
Em 2002, Lula chegou a 71,78%
contra Geraldo Alckmin (então no PSDB) no Estado. O tucano, que hoje é
vice-presidente, ficou com 28,22%. Quatro anos depois, em nova disputa entre os
dois, Lula chegou a 82,38% de apoio dos cearenses, com o tucano ficando com
17,62%.
A partir dali, nomes mais
alinhados à direita ou à centro-direita foram ganhando espaço, ainda que longe
de ameaçar a vantagem do PT entre os cearenses. Em 2010, Dilma Rousseff (PT)
obteve 77,35% de apoio, já José Serra (PSDB) somou 22,65%. Na reeleição, a
petista conseguiu 76,73%, já Aécio Neves somou 23,27%.
Em 2018, Fernando Haddad (PT)
somou 71,11% e Jair Bolsonaro (então no PSL) totalizou 28,89%. No último pleito
geral, pela primeira vez em duas décadas, um nome da direita chegou a 30% no
Estado. Lula somou 69,97% e Bolsonaro ficou com 30,03%.
O desafio da oposição
Ainda que avance sobre o
eleitorado, a oposição tem uma barreira de entrada no Ceará. Mesmo assim, desde
as últimas eleições gerais, o grupo oposicionista passou por mudanças com a
aproximação de antigos adversários e o surgimento de novos nomes competitivos
em disputas majoritárias.
Mesmo quando era presidente,
Jair Bolsonaro não tinha aliados competitivos no Estado. À época, o nome que
mais se aproximava de ameaçar os petistas era o do ex-deputado Capitão Wagner
(União). No entanto, ainda que figure no rol de aliados do ex-presidente, o
político sempre oscilou entre momentos de aproximação e distanciamento das alas
bolsonaristas.
Enquanto ocupou a Presidência,
por outro lado, Bolsonaro intensificou as visitas ao Ceará na segunda metade do
mandato, fazendo acenos a diversos setores sociais e anunciando obras
estruturantes. No pleito de 2022, tais investidas se mostraram suficientes
apenas para ele somar cerca de 30% de apoio do eleitorado local.
Somente em 2024 um aliado de
primeira ordem do ex-presidente surgiu nas disputas majoritárias para ameaçar o
grupo governista estadual. Nome mais próximo ao de Bolsonaro no Estado, o
deputado federal André Fernandes chegou a 49,62% dos votos, contra 50,38% de
Evandro Leitão. A diferença entre os dois foi a mais acirrada entre as
capitais, uma diferença de 10,8 mil votos.
Mais que os números, André
Fernandes conseguiu aglutinar entre seus apoiadores Capitão Wagner, que ficou
em quarto lugar na disputa majoritária. Outro nome que apoiou o candidato do PL
no segundo turno foi o ex-prefeito Roberto Cláudio, que desde 2022 passou a
integrar a oposição no Estado junto ao ex-ministro Ciro Gomes. Nacionalmente,
também há uma incógnita sobre o nome que irá aglutinar a oposição ao PT, já que
Bolsonaro está inelegível.
A cientista política Luciana
Santana aponta que, de fato, a direita ganhou território nos municípios
nordestinos nos últimos anos. Contudo, ela pondera que isso não tem ressoado
até agora nas disputas para a Presidência. “Tivemos candidaturas da direita e
da extrema direita bem competitivas no último pleito, então, no âmbito
municipal e nas disputas estaduais, vimos a direita crescer. Acontece que o
comportamento do eleitor nas eleições presidenciais não segue essa direção, é
um voto mais progressista, mais de esquerda”, pondera.
“Quando olhamos para os
estados, vemos alguns perfis mais de centro que conseguiram se colocar, como a
Raquel Lyra (PSDB), que venceu em Pernambuco, e o Fábio Mitidieri (PSD),
governador de Sergipe. No âmbito municipal, tem uma centro-direita muito forte
com o PSD, PP e MDB. Então, há comportamentos diferentes”, acrescenta.
O professor Emanuel Freitas
também destaca o papel do “centrão” nas articulações locais. “É muito recente o
fortalecimento e a expansão do eleitorado de direita porque temos uma tradição
no Ceará e no Nordeste de um centrão que, nessas eleições (anteriores), esteve
com os candidatos da esquerda, Lula e Dilma. A partir de 2018, esse centrão vai
dando lugar a uma direita mais orgânica até chegar à extrema-direita. Então, eu
não penso que seja uma composição do eleitorado à esquerda, é mais o
aparecimento tardio de uma classe política identificada aberta e extremamente
com a direita”, aponta.
O PDT na oposição
Alinhados à oposição, o grupo
pedetista tem acumulado derrotas. Em 2022, o ex-prefeito disputou o Governo do
Ceará e perdeu já no primeiro turno. À época, outra derrota contabilizada pelo
PDT foi a de Ciro Gomes, que disputou a Presidência e ficou em quarto lugar,
totalizando 3,04% dos votos no País, e em terceiro lugar no Ceará, com 6,8%,
seu pior resultado nos pleitos locais. Para efeito de comparação, em 2018, Ciro
havia recebido apoio de 40,9% dos cearenses no primeiro turno, deixando Haddad
em segundo e Bolsonaro em terceiro no Estado.
“O Ceará tem essa
especificidade histórica por ter um nome nacional de peso, mas, hoje, a
situação do Ciro é outra. Ele perdeu o capital político, perdeu essa
liderança”, afirma a cientista política Luciana Santana.
Em 2024, o grupo sofreu nova
derrota com o terceiro lugar de José Sarto (PDT) na tentativa de se reeleger
como prefeito de Fortaleza. Soma-se a isso a debandada de vereadores e
prefeitos da sigla, além da saída de deputados estaduais e da promessa de desfiliação
de deputados federais, desidratando o partido tanto ao nível local quanto
nacional, conforme
mostrou o Diário do Nordeste.
Para Emanuel Freitas, mais que
qualquer outro nome da oposição, quem saiu mais fortalecido no Estado foi André
Fernandes. “A oposição hoje tem o PDT, o Roberto Cláudio, o Ciro, então tem
muita gente, muitos nomes e nomes com muito peso. Então, hoje, a grande questão
a ser respondida é quem é que vai se constituir como líder oposicionista.
Depois que isso for respondido, aí sim poderemos ver como é que ela chegará, se
fortalecida ou pulverizada”, conclui.
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