Gabrielle Monice
Psicanalista afirma que a fama cria uma
armadilha psicológica perigosa; colapso emocional de Whinderson Nunes alerta
para cuidados com a saúde mental
A recente decisão de Whindersson Nunes de se
internar voluntariamente em uma clínica psiquiátrica reacende uma questão
delicada e, muitas vezes, incompreendida: por que celebridades que possuem
sucesso, dinheiro e milhões de fãs enfrentam crises severas de saúde mental? A
verdade é que a depressão não escolhe status, seguidores ou conta bancária, e,
em muitos casos, a exposição excessiva e a pressão da fama se tornam gatilhos
silenciosos para transtornos como ansiedade, burnout e depressão profunda.
O caso de Whindersson Nunes escancara um
fenômeno psicológico que atinge muitas celebridades, que é a dissociação da
própria identidade. “Quando alguém se torna uma figura pública, acaba criando
uma nova personalidade para as redes sociais. O problema é que, com o tempo, a
necessidade de sustentar esse personagem pode levar a um completo
distanciamento de quem a pessoa realmente é. Isso gera um vazio existencial
profundo, que muitos confundem com depressão ou ansiedade, mas que, na verdade,
é um deslocamento da própria identidade”, explica a psicanalista Ana Lisboa.
A pressão para estar sempre disponível, manter
um padrão de felicidade e lidar com a expectativa do público cria uma
sobrecarga emocional implacável. “As pessoas acreditam que influenciadores e
artistas não trabalham, mas, na realidade, eles vivem uma carga horária de 24
horas por dia. Não há desligamento, não há descanso da própria imagem. É uma
exposição contínua, um turbilhão de cobranças, críticas e, em muitos casos,
ameaças de morte, como a própria Luísa Sonza revelou que Whindersson
enfrentava. Isso coloca toda a família dentro de uma narrativa de pressão
insustentável”, complementa Ana Lisboa.
A especialista destaca que esse tipo de
sofrimento não afeta apenas os famosos. Pessoas que se dedicam integralmente a
um cargo ou função também podem viver esse tipo de dissociação. “Isso
acontece até mesmo com profissionais que se vinculam mais ao seu papel do que
à sua essência. Quando alguém se torna refém de uma identidade que precisa ser
mantida a qualquer custo, o corpo responde. Ele pode adoecer fisicamente para
tentar trazer a pessoa de volta à sua verdadeira identidade”, explica.
Foi exatamente o que aconteceu com a cantora
Anitta, que no auge de sua carreira precisou resgatar sua essência como
Larissa. O mesmo padrão se repetiu com Justin Bieber, Britney Spears e tantas
outras celebridades. A fama, ao invés de ser sinônimo de liberdade, se torna
uma prisão invisível, onde a necessidade de corresponder às expectativas
externas anula a própria existência.
Para Ana Lisboa, a internação de Whindersson
foi uma escolha acertada. “Esse é um movimento de retorno para si mesmo. De se
reconectar com sua história, seu corpo, sua essência. A fama exige um nível de
entrega que, muitas vezes, gera um senso de morte interna. O corpo reage para
evitar que essa desconexão se torne definitiva. O tratamento psiquiátrico,
nesse caso, não é apenas uma solução para um transtorno, mas um caminho para a
reconstrução de uma identidade real e saudável”, conclui.
Mas a pergunta que fica é até quando vamos,
como sociedade, parar de romantizar a fama e entender que, por trás de milhões
de curtidas, pode existir uma dor imensurável?”, finaliza Lisboa.
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