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Diversos
são os tesouros culturais de países colonizados que estão espalhados pela
Europa, seja em museus ou até mesmo aos cuidados de colecionadores. O Brasil
não é diferente. No entanto, um artefato sagrado voltou para casa, 300 anos
depois: um manto dos Tupinambá.
A vestimenta cerimonial feita
de quatro mil penas de araras vermelhas e que mede pouco menos de um metro e
oitenta é um elemento-chave na cultura Tupinambá pois tinha significado
ritualístico e simbólico relacionado às hierarquias sociais e ao poder dentro
da tribo, muitas vezes usada como roupa cerimonial pelos povos indígenas
costeiros.
Porém, o artefato foi levado
do povo Tupinambá durante o período colonial português em uma expedição ao
Brasil. Por meio de saques e comércio, os dinamarqueses se apropriaram de
muitos objetos indígenas durante a exploração do "Novo Mundo", e o
manto foi um dos mais notáveis pela sua beleza e raridade.
O artefato na Europa. Após
o roubo, a manta foi levada para o velho continente como parte da coleção de
Frederico III em 1689, embora posteriormente tenha passado por diversas
coleções de museus reais na Dinamarca, sendo o Museu Nacional da Dinamarca em
Copenhague o último portador de um dos poucos mantos tupinambá que sobreviveram
ao tempo.
Sua preservação é um
testemunho das interações coloniais e do "intercâmbio" cultural entre
a Europa e as Américas, embora, claro, ao longo do tempo também simbolize a
exploração e a pilhagem do patrimônio cultural indígena. Por esses e outros motivos,
é um objeto valioso de estudo por seu desenho intrincado e sua ligação com as
tradições perdidas dos Tupinambá.
O retorno. É assim que
chegamos a 2024. Depois de mais de 300 anos no exílio, o artefato retornou à
sua origem. Após o anúncio de devolução feito pela Dinamarca, em julho, o manto
foi oficialmente apresentado em cerimônia no Rio de Janeiro com a presença do presidente
Luiz Inácio Lula da Silva.
Lá, um grupo de duzentos
Tupinambá acampou ao lado de fora do prédio, com tambores e todas as honras
para ver o precioso manto e se reconectar com suas antigas tradições. Em
discurso no evento, Maria Yakuy Tupinambá, anciã da comunidade dos Tupinambá de
Olivença, ativista e pensadora indígena, disse: "Senti tristeza e alegria.
Uma mistura entre nascimento e morte. Os nossos antepassados dizem que quando
[os europeus] nos tiraram o dinheiro, o nosso povo ficou sem rumo."
Lideranças revelaram no evento
que não se trata apenas de devolver os artefatos às suas terras de origem, mas
de reconhecer os povos indígenas, suas terras e seus direitos.
A importância do artefato. O
retorno do manto ao Brasil repercutiu em todo o mundo. Como explicou Amy Buono, professora associada de história da arte na
Universidade Chapman, ao The Guardian, “essas capas provavelmente
funcionavam como peles sobrenaturais, transferindo força vital de um organismo
vivo para outro. As mantas Tupinambá eram um dos objetos mais procurados no
início do século XVI. Várias foram usados pelos cortesãos durante uma
procissão em 1599 na corte do Duque de Württemberg, em Stuttgart."
Texto traduzido do site
parceiro Xataka*
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