As dispensas estão ocorrendo desde o final do mês de agosto, após o acidente com uma aeronave da empresa que resultou em 62 mortos, no interior de São Paulo.
O grande montante de demissões
ocorreu com os funcionários que ficavam em terra, conforme ex-funcionários. No
Ceará, são três os aeroportos em que a Voepass encerrou suas atividades. São
eles: Fortaleza, Aracati e Juazeiro do Norte. Na Capital, segundo o Sindicato
Nacional dos Aeroviarios (SNA), foram 12 pessoas dispensadas e em Juazeiro, 3.
No Nordeste todo seriam 22
pessoas, mas os prejudicados afirmam que possuem um grupo em rede social como
mais de 100 pessoas, advindas de todo o território nocional. Todos estariam na
mesma situação: sem receber a rescisão e sem ter o que sacar do FGTS, já que a
empresa não fazia os depósitos periódicos.
O Diário do Nordeste conversou
com dois cearenses despedidos pela Voepass que, por medo de represálias,
pediram para não ter os nomes e cidade em que atuavam divulgados. Um deles é
uma mulher de 39 anos que estava há pouco mais de dois anos trabalhando para a
empresa em terra.
Ela relata que, desde o
acidente, os funcionários estavam trabalhando com medo e que, em um certo
momento, todos que tinham direito a férias foram obrigados a tirá-las. Na
volta, eles eram dispensados.
"Estava um zoom, zoom,
zoom grande e começaram a dar férias, e quem não tinha férias já era demitido.
Só chegavam os documentos para assinar, ou as férias, ou o aviso prévio. Sem
orientação, a maioria assinava. As pessoas assinam porque têm medo".
Porém, ao assinarem a
rescisão, os trabalhadores eram informados de que não receberiam nenhum valor
naquele momento. "As pessoas foram demitidas online. Não teve reunião,
nada. E, para ninguém colocar na justiça, eles ainda disseram que vão voltar em
março e recontratar todo mundo. Eles colocaram medo assim".
A mulher ainda comenta que já
aconteceu da Voepass colocar os funcionários de terra para a rua, aqui no
Ceará, e meses depois recontratar. Esse fato também estaria fazendo com que
muitos acreditassem na possibilidade.
RESCISÃO PARCELADA E FGTS EM ATÉ
5 ANOS
"Agora, quem consegue
abrir um chamado para falar online com o RH da empresa recebe a informação que
da rescisão seria paga entre 10 e 12 vezes de meio salário mínimo e, após essas
parcelas, seria quitado o restante. Já o FGTS eles estão dando o prazo de até
cinco anos para depositar", fala a mulher, com indignação.
A ex-funcionária ainda comenta
que questionados sobre a ilegalidade do não pagamento, os representantes da
empresa falariam que sabiam que era "errado", mas que essa seria a
"única forma que a empresa tem para pagar".
"As pessoas aceitam
porque tem medo, inclusive de não conseguir outro emprego em outra companhia. A
gente saiu sem receber um centavo. A gente se dedicava muito. Aguentamos muito
e somos tratados como lixo. Como se não fossemos mães e pais de família
dependendo desse dinheiro e de emprego para sobreviver".
POSICIONAMENTO DA EMPRESA
CAUSA INSEGURANÇA
Outro colaborador cearense de
31 anos, demitido com pouco mais de um ano de empresa, afirma que os
colaboradores de todas as bases fechadas em todo o Brasil, depois do acidente,
estão passando por essa situação.
"A sensação é difícil de
descrever. Não sei se voltaria a trabalhar assim. Não temos certeza de nada,
não tem nada concreto que eles vão voltar".
Ele ainda comenta que outras
pessoas demitidas em outras oportunidades pela Voepass começaram a receber o
parcelamento da rescisão, mas esse foi cancelado antes de acabar, o que causou
também grande dor de cabeça. "As pessoas que passaram por essa situação
tiveram que entrar na justiça. Dizem que vão começar a pagar as parcelas em
dezembro e estamos esperando", reforça o homem que está procurando outras
oportunidades de emprego.
RESPOSTA DA VOEPASS SOBRE O
CASO
A Voepass informou, por meio
de sua assessoria de comunicação, que "as questões trabalhistas estão
sendo devidamente tratadas". Além disso, sobre os depósitos dos fundos de
garantia, a nota afirma que "existe um fluxo de parcelamento sendo pago
referente ao FGTS dos funcionários".
MAPA DE PESSOAS DEMITIDAS
SEGUNDO O SNA
• Fortaleza: 12
• Juazeiro no Norte: 3
• Mossoró: 5
• Campina Grande: 2
SAIBA QUAIS OS AEROPORTOS EM
QUE A VOEPASS FECHOU A OPERAÇÃO NO NORDESTE
• Porto seguro- BA
• Mossoró -RN
• Campina Grande -PB
• Vitória da Conquista-BA
• Fortaleza-CE
• Juazeiro do Norte -CE
• Aracati -CE
SINDICATO NACIONAL DOS
AEROVIÁRIOS VAI ENTRAR NA JUSTIÇA
O coordenador Regional
Nordeste do SNA, Lucas Viana, afirma que o sindicato moverá ações trabalhistas
contra a Voepass, "para garantir os direitos dos trabalhadores".
"Essa empresa costuma não cumprir com o direito dos seus trabalhadores,
não cumpre a Convenção Coletiva de Trabalho (CCT) e explora seus trabalhadores
com jornadas excessivas de trabalho. Além disso, (há relatos) de desvio de
funções, assim como também não paga a periculosidade dos trabalhadores que
ficam expostos aos agentes nocivos, como abastecimento das aeronaves".
Viana reforça que a entidade
de classe já cobrou a empresa e o Sindicato Nacional das Empresas Aéreas (SNEA)
sobre o não pagamento das verbas rescisórias e dos recolhimentos do FGTS dos
colaboradores, tanto os demitidos quanto os que continuam na ativa, porém não
obtiveram nenhum retorno.
Além disso, quanto a
possibilidade da Voepass retomar as operações nos aeroportos fechados no
Nordeste, o coordenador regional do SNA diz haver informação de um retorno,
porém, isso ocorreria apenas no mês de abril, devido à falta de aeronaves na malha
da empresa.
O Diário do Nordeste procurou
o SNEA e foi orientado a buscar a assessoria de imprensa da Associação
Brasileira das Empresas Aéreas (Abear) para saber se essas entidades estavam
cientes sobre as demissões e não pagamentos e se alguma ação seria tomada com
relação a Voepass. No entanto, a resposta foi para que procurássemos a Voepass.
"Pois a Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear) não tem qualquer
gerência sobre essas medidas".
NO NORDESTE, VOEPASS SÓ VOA
PARA RECIFE E FERNANDO DE NORONHA
No último domingo (27), a
empresa anunciou a nova malha aérea que irá operar, ao todo, com 16 destinos,
divididos entre as regiões Nordeste, Norte, Sul e Sudeste. Aqui na região a
Voepass mantém apenas Recife e Fernando de Noronha como destino.
A medida foi tomada após a
empresa demitir diretores e cortar pelo menos 13 rotas, entre elas Aracati,
Fortaleza, Juazeiro do Norte, Campina Grande, Mossoró, Natal, Porto Seguro e
Salvador.
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