Inspirado no Palmeiras e R$ 15 milhões investidos: conheça o CT que mudou a história do Mirassol

 

Foto: Reprodução

Os prédios da metrópole São José do Rio Preto já ficaram para trás, após 25 quilômetros percorridos entre as rodovias Washington Luiz e Euclides da Cunha. O cenário muda completamente e o destino é a zona rural da pequena Mirassol, de 63 mil habitantes. Vizinho a pastos e plantações de cana está o imponente centro de treinamento do clube que leva o nome da cidade e é o terceiro colocado da Série B do Campeonato Brasileiro.

Ao entrar pelo portão, com identificação facial aos visitantes, o ambiente rural é substituído pela modernidade. A simplicidade dos cenários característicos de uma cidade pacata é totalmente oposta ao refino e às tecnologias ostentadas em um dos principais CTs do futebol brasileiro.

O centro de treinamento de R$ 15 milhões (e contando) recebe investimento nos melhores equipamentos do mercado e tem aparelhos que custam até R$ 400 mil. O mais recente da coleção é uma câmara de flutuação com sais, que custou R$ 110 mil (veja detalhes abaixo).

ge conheceu o CT do Mirassol e mostra, a partir de agora, por que o local é o trunfo do terceiro colocado da Série B, que sonha em subir para a elite do Brasileirão pela primeira vez em sua história.

Revelado pelo Mirassolo jogador foi vendido pelo São Paulo para o Lille, da França. O Leão tinha 30% dos direitos econômicos dele e faturou quase R$ 8 milhões com o negócio. Boa parte desse dinheiro, R$ 5,4 milhões, foi usado para construir o CT inaugurado em 2018.

Com área de 1,5 mil m², o espaço conta hoje com quatro campos, 20 apartamentos para 40 pessoas, cápsula de flutuação, banheiras (quente e fria), refeitório, cozinha, sala de jogos, sala de imprensa, sala de diretoria, rouparia base e profissional, lavanderia, academia, fisioterapia, fisiologia, piscina, estacionamento, vestiários para comissão e atletas profissionais, além da base.

As atividades dentro do CT são comandadas por profissionais qualificados. Até atividades menos convencionais no futebol, como o pilates, são aplicadas.

Coordenador de performance do Mirassol, Flávio de Oliveira é preparador físico de formação e já trabalhou em grandes clubes como Corinthians, Internacional, Grêmio, Vasco e Santos.

Orgulhoso do desenvolvimento de todos esses anos, Flávio coloca o espaço entre os 15 melhores do país.

Modernização do CT

O centro de treinamento não parou no tempo. O local foi modernizado ano a ano, mês a mês, até chegar à sua versão atual de 2024. O valor inicial da construção foi de R$ 5,4 milhões. Desde então, foram investidos mais R$ 9,6 milhões, totalizando R$ 15 milhões gastos com o CT.

Além de inaugurar novos espaços, como a academia da base e os campos extras, o clube não para de investir nos mais modernos equipamentos de academia, fisioterapia e fisiologia.

A mais recente aquisição do Mirassol é uma câmara de flutuação, que custou R$ 110 mil. O clube é o primeiro da América Latina a comprar este equipamento. O Flamengo também adquiriu o mesmo modelo, mas só deve receber em outubro.

O médico do Mirassol, Francys França, disse ao ge que a câmara é bastante utilizada na NBA, NFL, além de clubes internacionais e atletas de ponta do tênis. O doutor explicou que o aparelho tem o efeito de sono profundo e é útil para a recuperação muscular e saúde mental.

– A terapia tem sido utilizada em outros países e outras ligas. Nosso objetivo é acelerar a recuperação muscular. Tem o benefício mental que ajuda na redução do stress, no relaxamento, no sono profundo. O atleta faz uma sessão de 40, 50 minutos e chega a equivaler de quatro a seis horas de sono profundo – revelou o médico do Mirassol.

O aparelho mais caro é o "Kineo", avaliado em até R$ 400 mil. O equipamento é usado para monitorar força muscular e fortalecer jogadores em reabilitação.

Ele é capaz de identificar se o atleta sente dor em parte do movimento e adequa a carga e a angulação de acordo com a necessidade de quem faz o exercício.

No CT, também há aparelhos com interação e geração de resultados instantâneos, como a "escala subjetiva". Antes dos treinos, os jogadores fazem o controle do peso e respondem a um questionário sobre nível de cansaço, horas de sono e dores musculares.

Depois, eles passam pela câmera termográfica, que mede a temperatura do músculo e ajuda na prevenção de lesões.

Em seguida, os saltos na plataforma ajudam o departamento de fisiologia a identificar a potência muscular do jogador. Antes de sair da sala, os atletas colocam o colete com o GPS, que mede distância percorrida, número de sprints e intensidade das atividades em todos os treinos e jogos.

A sala de fisioterapia, aliás, é uma das mais modernas, equipada com aparelhos que poucos clubes no Brasil têm. O laser de alta intensidade ajuda no tratamento de lesões e no trabalho regenerativo pós-jogo.

Ele é usado para diminuição de edemas, relaxamento muscular e tem função analgésica. As ondas de choque são fundamentais no tratamento de tendinopatia e para facilitar a consolidação óssea.

O sistema super indutivo usa correntes eletromagnéticas para atingir tecidos profundos e é usado no tratamento de lesões e relaxamento muscular. O departamento médico também conta com dois tipos de botas: as de compressão e as de termoterapia, com circulação de água fria ou quente.

Os investimentos em tecnologia também estão presentes na lavanderia: uma lavadora e uma secadora com capacidade para 35 quilos de roupas e com sistema inteligente que pode ser adequado para diferentes tipos de tecido. Em pouco mais de duas horas, as peças vestidas em um treino, por exemplo, já estão limpas e prontas para serem usadas novamente.

Na cozinha, onde são preparadas todas as cinco refeições do elenco profissional e da base, o forno "rational" pode ser programado para cozinhar, à vapor, até dez tipos de pratos diferentes e ao mesmo tempo.

Um dos grandes responsáveis pelo planejamento da construção do centro de treinamento é o fisiologia do Mirassol, Rafael Pinto. Ele conta ao ge que foi no Palmeiras que viu a inspiração para o projeto do CT do Leão, após ficar três dias na Barra Funda em 2017.

Sete anos depois, o profissional segue no Mirassol, e fala com orgulho da estatística que comprova o bom trabalho interno: nenhum jogador teve lesão em treino no clube, neste ano.

– Temos um sistema de controle de informações que os atletas respondem as perguntas no ipad e todos os setores recebem as informações ao mesmo tempo. Todos sabem como esse atleta chegou. Se ele apresentar alguma dor ou queixa, todo o departamento médico e técnico, está integrado, e já tomamos uma decisão rápida. O objetivo nosso não é tirar ninguém do treino e sim ajustar o treino às tecnologias para esse atleta conseguir performar – detalhou o fisiologista.

Terceiro colocado da Série B, o Mirassol soma 43 pontos, um a mais que o Vila Nova, o primeiro fora do G-4. O Leão volta a campo nesta terça-feira, às 21h30, quando visita o lanterna Guarani, no estádio Brinco de Ouro da Princesa, em Campinas.

 


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