De estudante de Direito a falso desembargador: saiba como golpista vem há 12 anos praticando fraudes

 

 

Foto: Reprodução

 

A reportagem teve acesso a seis denúncias, de diferentes processos, nos quais todos Rafael é alvo de acusações, como estelionato, falsidade ideológica e uso de documentos falsos.

Escrito por Emanoela Campelo de Melo

Um homem multidenunciado por fraudes no Ceará voltou à prisão nessa quarta-feira (5). Rafael Lemos Weyne de Almeida Bernadino tem extensa ficha criminal e há 12 anos vem cometendo crimes, como estelionato, falsidade ideológica e uso de documentos falsos. A reportagem não localizou a defesa do investigado.

De estudante de Direito a falso desembargador. O homem transitava no meio jurídico estando à frente de ações falsas, fazendo desde clientes vítimas e até mesmo se passando por um magistrado. A partir da prisão, o Diário do Nordeste apurou o histórico de Rafael, que já chegou a ser condenado na Justiça cearense e com pena recentemente revista em 2º Grau do Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE).

A reportagem teve acesso a seis denúncias, de diferentes processos, nos quais todos eles Rafael é alvo de acusação. A primeira ação é de novembro de 2015, quando ele teria se passado por advogado. Em outro caso, conforme o Ministério Público do Ceará (MPCE), Rafael ainda teria se apresentado como servidor de tribunais superiores e servidor comissionado ligado a desembargadores, mas sequer se formou em Direito.

HISTÓRICO DE CRIMES

Em 2011, o Diário do Nordeste noticiou a prisão de Rafael e a então esposa dele, Aline Bernardino da Silva. Na época, o casal foi investigado pela Delegacia de Defraudações e Falsificações (DDF) por promover golpes em comércios.

Para manter o alto padrão de vida que ostentavam, como andar em carro de luxo, usar roupas de grifes, e se alimentar em restaurantes caros, o casal, segundo a Polícia, criou, pelo menos, 12 personagens, com nome, sobrenome, CPF, declaração de Imposto de Renda, entre outros detalhes, que garantiriam maior veracidade aos golpes.

Quatro anos depois, outro inquérito policial foi instaurado contra Rafael.

Neste caso, o homem foi investigado por ter contratado empréstimos fraudulentos em nome de várias pessoas, oferecendo, em seguida, serviços advocatícios para impugnação de valores consignados em folha.

"Rafael se passou por advogado, ajuizando ações revisionais e de posse do número protocolado gerado pelo Judiciário falsificava documentos públicos atribuídos às Varas Cíveis de Caucaia, oficiando órgãos públicos com intuito de determinar a cessão dos valores consignados em contracheque", diz a acusação.

Ele teria cometido a fraude se apresentando como advogado. Ainda teria confeccionado ofícios falsos e enviado os documentos ao SPC e Serasa. Na época, policiais militares, recepcionistas e servidores do Fórum de Caucaia foram alertados sobre a fraude.

FALSO JUIZ

Os anos passavam e o homem permanecia dentro do 'mundo do crime'. Em 2017, foi expedido um ofício por uma Secretaria do Fórum Clóvis Beviláqua supostamente assinado por um juiz. O ofício causou estranheza e então foi observado que o número do processo que constava no documento era uma fraude.

Rafael teria se passado por um estagiário e participado do esquema, tendo recebido R$ 1 mil por serviços advocatícios. Mais uma vez, ele negou ter participado da fraude.

Sobre esta ação penal, em 2020 o réu foi condenado a três anos e cinco meses por estelionato e uso de documento falso. Pediu para rever a pena e no dia 28 de março de 2023, o 2º Grau do TJCE reduziu a penalidade para oito meses de reclusão.

No mesmo ano, o homem ainda teria se passado por integrante de um escritório de advocacia propondo a uma vítima ingressar com ação judicial revisional para discutir juros pactuados em contratos de empréstimos. Ele novamente disse à Polícia que "jamais se apresentou como advogado".

SUPOSTOS ACORDOS

As denúncias do MP apontam que os supostos acordos judiciais interpelados por Rafael continuaram. Em setembro de 2018, ele foi novamente indiciado porque "utilizando-se de artifício fraudulento ao falsificar supostos acordos com o banco, tentou obter vantagem ilícita em prejuízo alheio".

"Pela análise criteriosa dos autos, percebe-se que houve a tentativa de auferir vantagem ilícita com o uso da falsificação de documento público como meio, e que a ação não logrou êxito por motivos alheios à vontade do agente"

MPCE

As práticas relacionadas ao estelionato se repetiram em 2018. Em nova denúncia, o órgão acusatório revelou um esquema de falsificação de documentos com a finalidade da "prática de diversos crimes de estelionatos, praticados pelos denunciados Rafael Lemos Weyne de Almeida Bernardino e Alyne Bernardino da Silva Lemos Weyne, tendo como vítimas o Tribunal de Justiça do Estado do Ceará, a Secretaria de Planejamento e Gestão do Estado do Ceará (SEPLAG)".

A Pasta teria observado inconsistências nos ofícios. Rafael foi ouvido e negou ter falsificado os documentos.

Outra vez, ainda em 2018, teria deixado prejuízo de R$ 9 mil com um cliente, que pagou o valor pelos honorários do falso advogado.

PRISÃO NO EUSÉBIO

Agora, Rafael Lemos Weyne de Almeida Bernadino foi preso em sua própria casa, no bairro Timbu, no Eusébio, na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), em cumprimento a um mandado de prisão preventiva expedido contra ele.

De acordo com a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), as mais recentes investigações começaram em dezembro de 2022, a partir de uma denúncia da própria presidência do Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE), que informou à Polícia que uma pessoa estava usando perfis falsos para se passar por integrantes da alta corte do Poder Judiciário cearense em redes sociais.

Nas investigações, os policiais civis identificaram que Rafael, também conhecido como 'M', era quem estava por trás dos perfis. Ele foi conduzido ao 26º Distrito Policial e, mais uma vez, deve responder por estelionato.

 

 

Fonte: Diário do Nordeste

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