Victor Samedi, nome que André Ávila usava nas redes sociais, é suspeito de matar Laila Vitória, no que seria um feminicídio, segundo a polícia Reprodução.
Suspeito de matar a paraense Laila Vitória, de 20 anos, no último sábado, o gaúcho André Ávila, de 37, foi detido pela Brigada Militar nesta quarta-feira. Ávila, que se autodenomina "necromante" em seus perfis no Tik Tok e Instagram, é conhecido pelo nome de Victor Samedi nas redes. No seu primeiro depoimento a Polícia Civil, ele alegou que agiu após ser atacado pela jovem com uma espada.
Segundo as autoridades, o caso é investigado como
um episódio de violência de gênero, sem conatação religiosa ou de
"satanismo", como foi suscitado nas redes sociais devido a atividade
profissional do suspeito, que vende "rituais mágicos" e fundou a
própria religião.
O casal se conheceu na internet em meados de
janeiro. No mês seguinte, Laila Vitória deixou a cidade de Parauapebas (PA) e
foi para Porto Alegre conhecer o namorado. Nos dias seguintes, ela relatou a amigas
ter sido vítima de agressões e que havia decidido acabar com o relacionamento
com o homem, que se identificou às autoridades como profissional das
"Ciências Ocultas", segundo a polícia.
De acordo com o relato apresentado nesta
quarta-feira por Ávila, ele e Laila passaram o último sábado bebendo, e que a
relação do casal se desgastara desde que ela comprara a passagem para retornar
a Parauapebas. Ele afirmou que, em dado momento, durante uma discussão, a jovem
teria pego em uma espada:
— Ele alega que eles brigaram e que ela veio para
cima dele com essa espada, mas ele conseguiu desarmá-la. Ele diz ter usado a
mesma espada para praticar diversos golpes, que não lembra onde, não lembra
como. A partir daí ele diz que foi muita adrenalina e só consegue lembrar do
corpo dela com muito sangue no chão —diz a delegada responsável do caso,
Cristiane Ramos.
Segundo a delegada, as evidências reunidas pela
investigação vão em sentido contrário a versão apresentada pelo suspeito:
— Não é o que nossos indícios nos trazem. Eles
apontam que existiu luta corporal, que ela tentou se defender dele. Ela tem
marcas no corpo de defesa — ressalta.
Após matar a jovem, Ávila levou seu corpo para um
templo que estava construíndo no terreno onde mora. O local seria dedicado a
uma divindidade criada por ele próprio, segundo a delegada. Dentro do espaço,
ele jogou gasolina no corpo e ateou fogo.
Além de registros de ocorrências envolvendo ameaça
e violência doméstica, André Ávila já foi condenado por uma tentativa de triplo
homicídio em 2007, quando disparou contra dois policiais militares e um civil,
após uma briga. Atualmente, ele se encontrava em regime semiaberto e era
monitorado por tornozeleira eletrônica. Segundo a Polícia Civil, ele quebrou o
dispositivo após o crime ao fugir.
Ávila foi capturado pela Brigada Militar do Rio
Grande do Sul no município de Viamão, próximo a uma reserva indígena. Segundo
as autoridades, ele foi localizado após deixar uma área de mato onde estava
escondido para pedir água em um galpão da região.
Procurada, a defesa de Ávila ainda não respondeu
aos pedidos da reportagem. O espaço segue aberto.
'Necromante'
Ávila se identifica nas redes pela alcunha de
Victor Samedi e tem perfis com mais de 30 mil seguidores. Ele se autointula
"necromante", um sinônimo de bruxo, e vende rituais mágicos diversos
através de suas contas, com promessas de "fortuna em 66 dias",
"separação de casal", "fazer seu inimigo perder a beleza" e
"atrair desemprego"
Os cenários repletos de estátuas de esqueletos,
velas e caveiras nos quais grava seus vídeos levantaram associações com
"satanismo" nas redes sociais. A hipótese foi descartada pela Polícia
Civil do Rio Grande do Sul, que trata o caso como um episódio de violência de
gênero motivada por ciúmes. Motivações religiosas por trás do crime também
foram negadas pela sua defesa, em nota.
— Essa questão religiosa afastamos de pronto. A vítima tem marcas de defesa e conseguimos identificar que existiu luta corporal.
Mas não há nenhuma simbologia na morte — ressalta a
delegada.
Fonte: O Globo
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