Por Fabio Murakawa
Cúpula
da pasta vê “tempestade perfeita”, com novas variantes, colapso hospitalar e
falta de vacinas.
A cúpula do Ministério
da Saúde espera que o Brasil atravesse
nas próximas duas semanas o pior momento da pandemia.
O Valor apurou
que, no entorno do ministro Eduardo
Pazuello, a expectativa é que haja uma explosão de casos e
mortes no período, com os óbitos ultrapassando a
barreira dos 3.000 por dia.
O diagnóstico decorre de
uma tempestade perfeita: o alastramento do vírus em todo o país, impulsionado
pelas aglomerações no fim do ano e no Carnaval; a dificuldade da população de
manter-se em isolamento social; a circulação no país de novas variantes mais
contagiosas e com grande carga viral; a iminência de um colapso do sistema
hospitalar em diversos Estados ao mesmo tempo; e a falta de vacinas disponíveis
para imunizar os brasileiros.
As atenções da pasta estão voltadas sobretudo para a região Sul. No Rio Grande do Sul, por exemplo, a ocupação de leitos de UTI tem estado próximo ou acima de 100% durante toda a semana. Na região Norte, embora o número de casos seja menor, há preocupações quanto à pouca disponibilidade de leitos. Os alertas também já dispararam quanto à situação de Estados como Goiás, Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo. Na visão da equipe de Pazuello, São Paulo tem conseguido até o momento evitar o pior por possuir a maior rede hospitalar do Brasil. Principal porta de entrada do país, o Estado mais populoso da federação registrou 60 mil das cerca de 260 mil mortes pelo coronavírus em solo brasileiro. Para a equipe de Pazuello, se um colapso hospitalar ocorrer ali, os números dessa “tragédia anunciada” podem subir exponencialmente.
A cúpula da Saúde entende que não há muito no
momento o que fazer, a não ser estimular a reabertura de hospitais de campanha
nos Estados. O governo federal também cogita novas instalações desse tipo já
nos próximos dias.
As ações de fechamento e
restrições à circulação de pessoas estão nas mãos dos Estados. O governo
federal não vai decretar lockdown nacional,
escorado em decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) e também por acreditar
que as decisões devem ser tomadas levando em critérios regionais.
Para o médio prazo, as projeções da equipe de
Pazuello são mais otimistas. A estimativa é que a vacinação começará a se
acelerar a partir deste mês, com a maior produção do Butantan e da Fiocruz. Em
abril, ambos já deverão estar produzindo 1,4 milhão de doses diárias.
Com as diversas vacinas
importadas começando a chegar, a expectativa de Pazuello é vacinar 70 milhões
de pessoas até o fim de junho. Fazem parte desse grupo prioritário idosos com
mais de 60 anos, pessoas com comorbidades e médicos, professores, policiais,
indígenas, entre outros.
Na
quarta-feira, o Ministério da Saúde anunciou a intenção de comprar 100 milhões
de doses da vacina da Pfizer e outras 38 milhões de doses da vacina da Janssen,
braço farmacêutico da Johnson & Johnson.
Segundo um cronograma ao qual o Valor teve
acesso, o ministério espera para o primeiro semestre a chegada de apenas 9
milhões de doses desse total, todas da Pfizer. Outras 30 milhões de doses da
fabricante americana devem chegar entre julho e setembro. As entregas se aceleram
no último trimestre, com 61 milhões de doses.
Já a Janssen deve entregar 16,9
milhões de doses em setembro e 21,1 milhões de doses em dezembro, segundo ficou
apalavrado entre o ministério e a farmacêutica.
O Ministério da Saúde pretende
autorizar a compra de vacinas por empresas e entes privados somente quando os
grupos prioritários estiverem imunizados. Isso será feito por decreto, e as
empresas terão que doar metade dos lotes para o Plano Nacional de Imunização
(PNI).
O governo, porém, jogará toda sua
força política para evitar que Estados façam o mesmo. O ministério já sinalizou
aos laboratórios, com quem mantém contratos bilionários, que negociar com
governadores individualmente ou em grupo não agradaria o governo federal. A
impressão de governadores que estiveram reunidos com Pazuello nesta semana foi
a mesma: dificilmente conseguirão adquirir vacinas separadamente ou em
consórcios.
Planalto e Saúde tentam evitar que o
governo federal perca o protagonismo na imunização - como aconteceu em janeiro,
quando o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), vacinou a primeira pessoa
em território nacional com transmissão ao vivo pela TV.
·
Ontem, um grupo de 14 governadores
enviou carta a Jair Bolsonaro pedindo a providências “imediatas” para a compra
de novas doses de vacinas contra a covid-19. Eles citaram um “aumento
exponencial dos casos de infecção e do número de óbitos” nos últimos dias. E
disseram que estão “no limite de suas forças e possibilidades”.
Pazuello espera que toda a população
esteja vacinada até o fim do ano. E pretende deixar o cargo somente quando isso
acontecer. Segundo interlocutores, os partidos do Centrão já entenderam que
dificilmente Bolsonaro trocará o auxiliar, de sua extrema confiança, durante a
pandemia.
·
O número diário de 3.000 mortes, caso
seja alcançado, não será um recorde mundial. Os Estados Unidos já chegaram a
registrar mais de 5.000 mortes por dia no início de fevereiro, segundo a
Universidade Johns Hopkins.
Bolsonaro desistiu nesta semana de
fazer um pronunciamento em cadeia de rádio e TV sobre vacinação. A fala seria
veiculada inicialmente na terça-feira, dia em que as mortes pelo coronavírus
atingiram um recorde de 1.726, segundo o consórcio de veículos de imprensa.
Foi, então, adiada para a quarta. Mas, diante de um novo recorde de 1.840
mortes, ele desistiu de vez da ideia.
Ontem, o presidente criticou o
isolamento social e pediu que se pare de “frescura” e “mimimi”.
A despeito da fala de Bolsonaro,
porém, a expectativa geral é que a escalada de mortes continue.
Fonte:valor.globo.com

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