As obras envolvem o bom humor do artista e sua
experimentação a partir de formas geométricas. Ligação com a Suíça marcou a
trajetória do cearense que, em vida, morou na Europa durante 14 anos
Em vida, o cearense Sérvulo Esmeraldo (1929-2017) se tornou
um cidadão do mundo, à luz dos apelos de sua criação artística. Nascido no
Crato, região do Cariri, o artista visual ganhou espaço e respeito no circuito
europeu de artes. A ligação com a Europa é marcada, na história dele, pelo
período em que viveu na França, de 1957 a 1970.
Até
hoje, parte do acervo de Sérvulo está sob os cuidados de Sabrina Esmeraldo, sua
filha mais velha, em território francês. E foi a partir desse conjunto de
obras, produzido durante os anos vividos em Paris, que agora o cearense ganha
nova mostra de seu legado em Zurique, na Suíça, um país de influência da
cultura francesa.
A
exposição "Jouer avec le cercle" ("Brincando com o
círculo", em português) será aberta nesta sexta (10), na Galeria Kogan
Amaro, situada na maior cidade da Suíça. A coleção reúne desenhos, gravuras e
esculturas. Peças nas quais Sérvulo se expressa a partir de formas geométricas
e "animadas". A mostra permanecerá em cartaz até o dia 28 de janeiro.
Para
o curador Ricardo Resende, esse recorte da produção de Sérvulo Esmeraldo revela
um artista de percepção bem humorada. "É uma coisa bonita que observamos
na obra dele, com bastante humor. A gente mostra como o artista brincava. É uma
exposição bem leve, delicada, com desenhos e gravuras de pequeno porte",
sintetiza.
Ricardo lembra que, depois de voltar a morar no Brasil, Sérvulo
sempre retornou a Paris. Além da obra referente ao período de residência
francesa, a nova mostra tem trabalhos mais recentes e dá amplitude sobre o
ritmo de criação do artista.
"Ele
criava o tempo todo. Me lembro de uma vez em que estávamos sentados na
Beira-Mar de Fortaleza, olhando para a escultura dele ("La Femme
Bateau"), daí ele pediu silêncio e apontou para os passarinhos pousados no
fio elétrico, fazendo um desenho no céu", recorda o curador.
Dodora
Guimarães, presidente do Instituto Sérvulo Esmeraldo e viúva do cearense,
recapitula como o espaço da obra do artista na Suíça é antigo. A primeira exposição
dele na Europa aconteceu no país, em 1961.
"O
Sérvulo sempre teve estreita ligação com a Suíça. Ele não somente expôs muito
lá, como também construiu uma relação de amizades e profissional com o País.
Teve grandes amigos suíços, como o Jean-Pierre Chabloz (1910-1984). E a última
exposição dele, em vida, foi na Suíça também", situa Dodora.
Difusão
A
galeria de arte contemporânea Kogan Amaro em Zurique é uma filial, ligada à
matriz de São Paulo. A exposição de Sérvulo Esmeraldo é a primeira de uma
sequência de difusão da arte brasileira na Europa. As obras do cearense devem
dividir espaço com o trabalho de Isabelle Borges, nascida no Brasil e radicada
na Alemanha desde 1993.
"Zurique tem uma influência muito grande dos
abstracionistas geométricos. Tivemos aqui Max Bill (1908-1994), e isso
influenciou também artistas como Sérvulo. Há um interesse grande dos
colecionadores suíços na obra dele, como houve na última mostra no país,
realizada em 2016, em Basel", avalia o curador Ricardo Resende.
Museu
Em
paralelo à exposição, o Instituto Sérvulo Esmeraldo prepara o ateliê do artista
em Fortaleza para visitação pública. Dodora Guimarães prevê a inauguração do
espaço museológico para depois do Carnaval. Por ora, o arquiteto Marcos Novaes
e o engenheiro George Barreto, caririenses, como Sérvulo, trabalham no projeto.
Além
de obras do artista, o espaço vai reunir biblioteca e todo o seu maquinário,
dentro de uma perspectiva museológica. Dodora situa que a obra é delicada, pois
está localizada dentro da própria casa, onde morou com Sérvulo até o fim da
vida dele, no bairro Salinas.
"Queríamos
inaugurar no dia 27 de fevereiro, quando ele completaria 91 anos de vida. Mas
essa data ainda é próxima do Carnaval. Sempre foi desejo do Sérvulo tornar
público seu ateliê, o espaço de pesquisa, estudo e difusão da arte
contemporânea. Fiquei bem temerosa de levar isso adiante, porque é uma
responsabilidade muito grande, mas necessária", reflete Dodora Guimarães.