O
agricultor Francisco Magalhães, sentado no alpendre de casa, na localidade de
Piripiri, zona rural de Iguatu, olha para a terra seca, para o céu parcialmente
nublado e comenta: "Acho que, neste próximo ano, vamos ter um bom inverno.
As chuvas devagarinho já estão começando a chegar".
O sertanejo se alimenta de
esperança e de crença de que a crise hídrica que castiga grande parte do sertão
cearense desde 2012 vai passar. Neste ano, Magalhães perdeu o primeiro plantio
de milho e feijão e parte do segundo por causa das chuvas irregulares. As
perdas, no entanto, não afetaram sua esperança. "Vou plantar de novo, não
vou desistir porque sei que vai dar certo". Para solidificar esse
otimismo, o Governo do Estado lançou, ontem (20), o projeto Hora de Plantar, na
cidade de Crateús. O objetivo da Secretaria de Desenvolvimento Agrário (SDA) é
antecipar, neste ano, a distribuição de sementes para os agricultores.
Plantio
Se a chuva chegar mais cedo,
como anseia Magalhães, os agricultores devem estar preparados para iniciar o
plantio, por isso a importância, segundo o presidente da Ematerce, Antônio
Amorim, de antecipar o prazo de entrega das sementes. "Há expectativa de
que teremos um bom inverno", pontuou.
Até fevereiro do próximo ano,
155 mil agricultores familiares serão atendidos com a distribuição de 3.140 mil
toneladas de sementes com padrão de qualidade fiscalizado pelo Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).
Serão ainda entregues cinco
mil metros cúbicos de maniva-de-mandioca, 4,5 milhões de raquetes de
palma-forrageira e 620.500 mudas frutíferas, de caju-anão precoce e de mudas de
essências florestais e nativas. "O objetivo do programa é fortalecer a
atividade no campo, propiciando o aumento da produtividade das culturas e
melhor nível de renda dos beneficiários", explica o secretário do
Desenvolvimento Agrário, De Assis Diniz.
Previsão
Mas o que dizem os órgãos de
meteorologia para as chuvas de pré-estação (dezembro e janeiro) e para o
próximo inverno (fevereiro a maio)? O Instituto Nacional de Meteorologia
(Inmet) prevê chuva dentro da normalidade até janeiro do próximo ano, e o
Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos - CPTEC/Inpe aponta
precipitação abaixo da média histórica para o momento. "É um período de
pouco volume de chuva", justificou a climatologista do Inpe, Juliana
Anochi.
Já com relação à quadra
chuvosa, os dois institutos de estudos climáticos pedem cautela, pois avaliam
que ainda é cedo para qualquer prognóstico. "Em janeiro, haverá uma
análise em conjunto com a Funceme e teremos uma definição melhor", disse a
meteorologista do Inmet, Maytê Coutinho.
Já a Fundação Cearense de
Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme) não faz previsão para o período de
pré-estação e, somente em janeiro, vai divulgar o primeiro prognóstico para o
trimestre fevereiro, março e abril.
A justificativa é que os
meses de dezembro e janeiro sofrem influências de sistemas de baixa
previsibilidade (Vórtices Ciclônicos de Altos Níveis, Cavados e a Zona de
Convergência do Atlântico Sul). Foram esses sistemas que aturam nos últimos dois
dias no Ceará, associado ao fenômeno 'Oscilação de Maden Julian', que ocorre em
grande escala e que traz influência indireta para a formação de nuvens de chuva
na porção norte do Nordeste brasileiro, que contribuíram para registro
pluviométrico em algumas cidades do Ceará.
Entre as 7 horas de
terça-feira (19) e 7 horas de ontem (20), a Funceme registrou precipitação em
16 cidades, com destaque para o Sertão Central e dos Inhamuns. No entanto,
apesar das chuvas, o meteorologista da Funceme, David Ferran, observa que
"essas chuvas de agora não têm nenhuma relação com a próxima estação
chuvosa, não é indício de nada".
O especialista explica que a
quadra chuvosa guarda relação direta com as condições de temperatura da água
superficial dos oceanos Pacífico e Atlântico, na área Equatorial. Os
institutos, em consenso, indicam que o Pacífico está neutro e que não há
tendência de formação de El Niño, o que é bom para o Nordeste brasileiro. O
oceano Atlântico está ligeiramente desfavorável, pois a porção norte está mais
aquecida do que o sul, entretanto os meteorologistas lembram que esse quadro
sofre mudanças muito mais rápidas em relação ao Pacífico.
O período
de chuvas no Ceará coincide com o Verão no Hemisfério Sul, por isso, espera-se
que a temperatura da água superficial no Atlântico Equatorial esteja mais
aquecida em relação à parte Norte, favorecendo, portanto, o deslocamento da
Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), que é uma larga banda de nuvens e o
principal sistema que traz chuvas para o sertão nordestino.
Já o meteorologista da
Universidade Federal de Alagoas (Ufal), Humberto Barbosa, vai um pouco além.
Ele adianta que as análises iniciais favorecem a ocorrência de chuvas acima da
média no período de janeiro a março do próximo ano. "Precisamos olhar com
mais consistência, mas podemos antecipar que a tendência atual é favorável ao
sertão nordestino para 2020", afirmou. "São estudos com base em
modelo europeu que apresentam uma média de tendência".
Fonte: DN