O AMBIENTE INSALUBRE E A GUERRA DOS PROCURADORES.





O Procurador Geral da República, Rodrigo Janot, definiu como “insalubre” o ambiente do Ministério Público Federal no Ceará durante conversa, um dia, com um interlocutor local. É a melhor síntese conhecida do que acontece na rotina, só aparentemente calma, dos corredores e salas do prédio localizado na rua João Brígido, 1.260, em Fortaleza. Ali encontram-se abrigados 16 procuradores, de um conjunto de 27 em atuação no Ceará, contadas também as unidades interioranas, que vivem a se digladiar em grupos antagônicos num processo cotidiano interno autofágico incompreensível. Às vezes é silencioso, às vezes apresenta-se aberto e barulhento. Algo ainda mais difícil de entender e aceitar quando atinge a própria rotina de funcionamento de uma instituição fundamental ao processo de limpeza ética pelo qual o País tenta passar. Porque começou e porque precisa continuar a tocá-lo com o máximo de serenidade. Os bastidores do episódio envolvendo o caso do procurador Alessander Sales, cujo nome acabou indiretamente envolvido na delação de um executivo da Odebrecht, por causa de um perito flagrado recebendo propina e identificado como seu assessor informal, diz muito do tamanho do problema. Houve, no que é público, um frenético esforço inicial de tornar o assunto um escândalo através de mensagens de whatsapp insistentemente circulando pelos meios jornalísticos, antes mesmo de virar assunto do noticiário. É fácil imaginar a origem, considerando que o caso até então permanecia sob sigilo, decretado pelo ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no STF, e o interesse de transformar o procurador em alvo principal era evidente naquele momento. Na briga silenciosa dos procuradores cearenses que envolveu os momentos que se seguiram à explosão da crise, teve reunião interna tensa, visita de colegas de Alessander Sales ao superintendente da Polícia Federal atrás de informações sobre o processo, manobras para receber ou rejeitar o comando do inquérito, enfim, um conjunto importante de situações que caminham na linha traçada pela feliz (embora deprimente) definição de Rodrigo Janot sobre o clima na unidade local do Ministério Público Federal. O que é ruim, no frigir dos ovos, porque desvia uma boa parte da energia do órgão para uma briga que não é da sociedade e não interessa a ela. Pelo contrário, fragilizar a instituição só pode beneficiar seus adversários externos, aqueles que precisam de um Estado frágil e dividido para manterem suas ações criminosas a salvo. Claro que Alessander Sales precisa esclarecer melhor suas relações com o tal Marco Antônio Araripe, acusado de pedir propina para usar suas influências sobre o procurador e viabilizar os interesses criminosos da empreiteira. O simples fato dele, nas palavras do próprio delator, sempre eximi-lo de qualquer responsabilidade não significa que deva ser absolvido sumária e previamente. No mínimo, deve-se cobrá-lo pelo crédito absoluto conferido a alguém que se mostrou indigno de merecê-lo, considerando-se que um procurador da República deve ser muito mais atento em relação às parcerias que estabelece no esforço de combater a corrupção.




GUALTER GEORGE
 
O POVO
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