Militares que trabalham no Palácio do
Planalto coordenam uma estratégia para tentar amenizar a pauta negativa gerada
pelo desconforto da família do presidente Jair Bolsonaro com o vice, Hamilton
Mourão.
Os
generais Augusto Heleno, do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), e Otávio
Rêgo Barros, porta-voz da Presidência, mantêm postura de discrição para não
melindrar Bolsonaro, ao mesmo tempo em que, nos bastidores, atuam, eles
próprios e suas equipes, para evitar ruídos.
Na avaliação interna das pastas, os
constantes contrapontos de Mourão a Bolsonaro nos mais diversos assuntos e a
reação do presidente de não frear especulações sobre os interesses do vice
azedaram o clima.
O estafe militar do Planalto trabalha para integrar as estruturas de
comunicação da Vice e da Presidência, hoje apartadas, em uma tentativa de
evitar o que consideram mal-entendidos.
Avalia-se
que Mourão, desde a transição, cometeu alguns excessos, não exatamente por emitir sua
opinião, que é um traço de sua personalidade, mas por insistir na visibilidade
em momentos que requeriam o contrário.
A postura
fez interlocutores frequentes de Mourão, como o general Heleno, recomendarem
mais discrição ao vice. Outros como o general Santos Cruz, ministro da
Secretaria de Governo, aconselharam Bolsonaro a não dar espaço para pautas
negativas.
As novas e
mais incisivas críticas a Mourão vindas de Carlos Bolsonaro, filho do presidente e vereador
pelo PSC-RJ, reabriram a crise que o núcleo militar do governo via como
ultrapassada na noite de segunda-feira (22).
O
problema, apontam generais que atuam como bombeiros no episódio, é que Jair
Bolsonaro se recusou a incluir o filho na leve reprimenda que fez
ao escritor Olavo de Carvalho —o guru da ala que se diz
ideológica do bolsonarismo— pelo vídeo em que Mourão e os militares são
criticados.
"De
uma vez por todas o presidente gostaria de deixar claro o seguinte: quanto a
seus filhos, em particular o Carlos, o presidente enfatiza que ele sempre estará
a seu lado. O filho foi um dos grandes responsáveis pela vitória nas urnas,
contra tudo e contra todos", afirmou Rêgo Barros nesta terça-feira (23).
Ao falar
sobre Carlos, segundo o porta-voz, Bolsonaro disse que ele "é sangue do meu sangue".
O presidente fez um afago a Mourão dizendo que ele é o subcomandante do
governo e que topou o desafio das eleições, acrescentando que o vice tem dele
"consideração e apreço".
O vídeo que deflagrou o novo episódio da crise foi
postado no canal do YouTube de Bolsonaro durante o fim de semana, só sendo
retirado no fim do domingo. Carlos também o repostou. Os militares,
especialmente os da ativa, enxergaram nos fatos um recado à movimentação
política fluida de Mourão, que a família de Bolsonaro vê como interessado em
derrubar o presidente.
Segundo integrantes do governo ouvidos pela Folha, o presidente também manteve
inalterado o acesso de Carlos às suas redes sociais.
Militares do Planalto comemoraram o que
julgam uma mudança de tom de Bolsonaro no Twitter, sem criar polêmicas na rede
nos últimos dias.
Mas o Facebook e o YouTube ainda são canais
em que o filho reina quase sozinho.
Nesta terça-feira, em suas contas pessoais, Carlos voltou à carga contra Mourão, somando-se aos esforços
de Olavo de Carvalho e Filipe Martins, assessor especial da Presidência para
assuntos internacionais, de descredibilizar o vice.
"Esse jogo está muito claro", escreveu Carlos ao
publicar o teor do convite elogioso aceito pelo vice para palestrar no Wilson
Center, nos Estados Unidos, duas semanas atrás.
"Se não visse [o convite], não
acreditaria que [Mourão] aceitou com tais termos", disse o vereador.
O convite, de 9 de abril, apontava o vice
como "uma voz de razão e moderação, capaz de orientar a direção em
assuntos nacionais e internacionais".
Em uma terceira postagem no dia sobre o vice,
Carlos afirmou que, após o pai ser esfaqueado em plena campanha eleitoral em
Minas, "o tal de Mourão disse que aquilo tudo era vitimização".
O vice evitou rebater as críticas. "Todo
mundo emite a sua opinião, tal e coisa. A minha mãe sempre dizia uma coisa:
'Quando um não quer, dois não brigam'. Está certo? Então, essa é a minha linha
de ação. Vamos manter a calma", disse.
O general da reserva afirmou que Bolsonaro
tem a sua "forma de pensar" sobre o assunto. "O presidente é o
presidente, né? Aguarda, né? Filho é filho", concluiu.
Fonte: Folha.com