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| Foto: Reprodução |
A ameaça feita pelo presidente
eleito dos Estados Unidos (EUA), Donald Trump, de taxar em 100% as importações
dos países do Brics que substituírem o dólar em transações comerciais procura
manter a hegemonia da moeda estadunidense no mercado mundial, avaliam
especialistas consultados pela Agência Brasil.![]()
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O professor de relações
internacionais da Universidade Federal do ABC (UFABC), Gilberto Maringoni,
destacou que Trump se preocupa com a principal arma dos Estados Unidos (EUA)
para a dominação que exerce no mundo, que é o fato do dólar ser a moeda usada no
comércio internacional.
“A perda do poder do dólar
implica uma perda do poder dos Estados Unidos, do poder imperial sobre o mundo.
Se a gente pensar que os Estados Unidos são uma potência militar, financeira e
política que impõe o seu modo de vida através do cinema, da TV e de bens de
consumo, a gente tem que perceber que o centro disso é a hegemonia que o país
tem sobre a moeda padrão circulante no mundo inteiro, que é o dólar”, explicou
Maringoni.
O pesquisador do Centro
Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), Ronaldo Carmona, ressaltou que a
hegemonia do dólar é central na geopolítica estadunidense e cita o congelamento
das reservas russas em dólar que foram sequestradas para financiar a Ucrânia.
“Os países percebem de que a
dependência do dólar é algo que pode ser bastante contraproducente uma vez que
há muitos exemplos do uso do dólar como uma arma geopolítica. É disso que se
trata. Do ponto de vista do Trump, obviamente, ele está falando alto para
tentar manter essa condição de hegemonia do dólar”, explicou.
O presidente eleito dos EUA
afirmou, em uma rede social, que vai exigir “um compromisso desses países de
que eles não criarão uma nova moeda Brics, nem apoiarão nenhuma outra moeda
para substituir o poderoso dólar americano ou enfrentarão tarifas de 100%”,
disse, acrescentando que “não há chance de que o Brics substitua o dólar
americano no comércio internacional, e qualquer país que tente deve dizer adeus
à América”.
A preocupação de Trump se deve
ao fato da moeda emitida pelo Tesouro estadunidense regular as transações em
todo o mundo, explicou Gilberto Maringoni.
“Isso dá um poder imenso ao
país porque ele pode fixar taxas de juros que serão as taxas de juros base das
economias mundiais. Quando o FED [Banco Central dos EUA] mexe nas taxas de
juros, isso impacta as taxas de juros no Brasil e outros países da periferia”,
analisou.
Medidas para substituir o
dólar nas relações comerciais foram discutidas durante a cúpula dos Brics deste
ano em Kazan, na Rússia. O bloco é formado por Brasil, Rússia, Índia, China e
África do Sul, além de Irã, Egito, Etiópia e Emirados Árabes Unidos. Outros 13 países devem ser ainda convidados para
participarem como membros parceiros do bloco.
Limites
Tanto Maringoni, quanto
Carmona avaliaram que tem limites para essa estratégia de Trump de taxar os
produtos dos países que contrariam, de alguma forma, a política trumpista.
“A madeira consumida nos
Estados Unidos (EUA) é canadense [também ameaçado pelas taxações do Trump].
Isso implica um aumento de custos. Várias empresas americanas, a Tesla,
inclusive, que é a empresa do Elon Musk [empresário aliado de Trump], têm
fábricas na China e importam para os Estados Unidos. A Apple ainda tem divisões
na China. Então, isso pode causar um aumento nos preços internos”, ponderou
Maringoni.
Segundo Ronaldo Carmona, Trump
corre o risco de elevar a inflação dos EUA se aplicar essa política de taxação
de importações às últimas consequências.
“Trump vai privilegiar uma
ação de força para a manutenção da hegemonia do dólar mesmo que as custas de
determinados interesses comerciais dos EUA na sua relação com o Brics? Afinal
de contas, estamos falando de grandes países que têm grandes correntes de
comércio com os EUA”, comentou.
Brasil
A substituição do dólar tem
sido defendida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “A criação de uma
moeda para as transações comerciais e investimentos entre os membros do Brics
aumenta nossas condições de pagamento e reduz nossas vulnerabilidades”,
disse Lula na reunião dos Brics de 2023.
O uso de moedas locais em substituição ao dólar tem sido
defendido também pela ex-presidenta brasileira, Dilma Rousseff, que atualmente
preside o banco dos Brics, o Novo Banco de Desenvolvimento (NBD).

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