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Em cúpulas anteriores de
líderes da União
Europeia em Bruxelas, o presidente francês, Emmanuel Macron,
foi muitas vezes acusado de tentar roubar a cena.
E não há dúvida de que ele conseguiu fazer isso no domingo (9/6). Embora provavelmente não da maneira que gostaria.
Enquanto os votos para o
Parlamento Europeu ainda estavam sendo apurados, Macron dominava as manchetes
dos jornais.
Sua derrota nas urnas para os nacionalistas franceses de direita radical era esperada. Mas sua decisão de dissolver o Parlamento da França na sequência, foi um choque.
Ele havia cogitado esta ideia
no ano passado, após perder maioria no Parlamento nas últimas eleições gerais
na França, mas poucos esperavam esta medida agora.
As
eleições gerais antecipadas vão ser realizadas em dois turnos — em 30 de junho
e 7 de julho —, e podem fazer com que ele tenha de governar ao lado de um
primeiro-ministro francês de direita radical eurocética.
Marine Le Pen,
regularmente retratada como sua inimiga política, declarou no domingo que seu
partido estava pronto para governar.
Já
aconteceu na França de o presidente, que é o político mais poderoso do país, e
o primeiro-ministro, serem de partidos diferentes.
Mas
se o novo primeiro-ministro for da ultradireita, será algo inédito para a
França.
Marine
Le Pen tem trabalhado arduamente nos últimos anos para tentar aumentar o apelo
do seu movimento político e suavizar a imagem
radical.
Ela
e seus apoiadores esperam que este triunfo significativo na votação para o
Parlamento Europeu — seu partido Rassemblement National (Reagrupamento
Nacional) obteve mais do que o dobro do número de votos do partido Renaissance (Renascimento),
do presidente Macron — se traduza em grandes vitórias nas eleições antecipadas
dentro do país.
O
sonho dela seria que estas conquistas deixassem ela ou seu popular afilhado
político prodígio, Jordan Bardella, de 28 anos, mais perto de se tornar
presidente da França — algo que ela tentou (e não conseguiu alcançar) várias
vezes. A próxima eleição presidencial na França está marcada para 2027.
Na
eleição para o Parlamento Europeu, a direita radical e a direita nacionalista
avançaram em muitas partes da União Europeia, à medida que os eleitores estão
preocupados com a questão da migração, a inflação e o
custo das reformas ambientais.
Mas
não está claro se vão realmente ser capazes de influenciar a futura política do
bloco europeu.
A
maioria dos assentos no Parlamento Europeu — onde as leis do bloco são
debatidas, modificadas, aprovadas ou rejeitadas — permanecem firmemente nas
mãos dos partidos de centro.
Para
afetar a política da União Europeia, os partidos de direita radical de todo o
bloco vão precisar se unir, para ganhar influência.
E
isso é um desafio. Eles têm prioridades nacionais diferentes, e algumas
diferenças profundas, como até que ponto
apoiar a Ucrânia contra a Rússia.
Uma
questão que afeta a vida de todos os cidadãos da União Europeia, e que a
direita radical já influenciou, é a reforma ambiental, com um custo estimado de
trilhões de euros. Trata-se de uma prioridade para a União Europeia, que há
muito tempo tem a ambição de querer ser líder mundial na ação climática.
Mas
os partidos verdes perderam 20 assentos na votação para o Parlamento Europeu.
Diante
da crise do
custo de vida, os contribuintes da União Europeia estão cada vez mais
nervosos e até mesmo resistentes às novas regras ambientais, que fazem pressão
para adquirirem um novo sistema de aquecimento para suas casas ou um carro
menos poluente.
Agricultores
de toda a União Europeia organizaram protestos em massa contra as regras
ambientais que consideram injustas e desastrosas.
A
direita radical em toda a Europa usou claramente este descontentamento para se
apresentar como a voz do povo, enfrentando as "elites no comando" em
Bruxelas e no governo nacional.
O
resultado: sob pressão antes da votação para o Parlamento Europeu, uma série de
regulamentações ambientais do bloco foram diluídas ou revogadas, incluindo uma
relativa às regras sobre pesticidas. Este enfraquecimento dos objetivos
ecológicos pode muito bem ser uma indicação do que está por vir.
Uma
reflexão final: ao tentar fazer previsões sólidas sobre o tipo de poder que a
direita nacionalista vai exercer, ou não, na União Europeia no futuro, os
rótulos muitas vezes não são muito úteis.
Alguns
nacionalistas de direita radical estão se tornando mais convencionais com o
objetivo de atrair mais eleitores, enquanto um número cada vez maior de
políticos de centro-direita tem adotado a linguagem da direita radical em
questões polêmicas, como migração e meio ambiente, numa tentativa de manter
seus apoiadores.
No
geral, o bloco de centro-direita conquistou o maior número de assentos, e
obteve o maior número de conquistas no Parlamento Europeu.
Você
pode não ver esta manchete com tanta frequência nos jornais. É menos atraente
do que um debate sobre os avanços da direita radical.
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