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Foto: Reprodução |
Em sua mensagem enviada ao
diretor-geral da FAO, Qu Dongyu, para o Dia Mundial da Alimentação, celebrado
nesta segunda-feira, 16 de outubro, o Papa Francisco faz um alerta:
"Enormes recursos financeiros e tecnologias inovadoras que poderiam ser
usados para tornar a água uma fonte de vida e progresso para todos estão sendo
desviados para a produção e o comércio de armas".
A mensagem do Papa Francisco é
endereçada ao sr. Qu Dongyu, político chines e nono diretor-geral da FAO
(Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação), por ocasião do
Dia Mundial da Alimentação, que é comemorado nesta segunda-feira, 16 de
outubro. A data celebrativa foi criada com o intuito de desenvolver uma
reflexão a respeito do quadro atual da alimentação mundial. O tema escolhido
para este ano é: “Água é vida, água é alimento. Não deixe ninguém para trás”.
Francisco, ao iniciar,
ressalta que “o Dia Mundial da Alimentação está sendo comemorado em um momento
em que a miséria e o desespero não dão trégua”, e recorda “os gritos de
angústia e desespero dos pobres” que devem nos despertar “da letargia que nos
domina e desafiar nossas consciências”:
“A condição de fome e desnutrição que fere
gravemente tantos seres humanos é o resultado de um acúmulo iníquo de
injustiças e desigualdades que deixa muitos presos na sarjeta da vida e permite
que alguns se estabeleçam em um estado de ostentação e opulência. Isso se
aplica não apenas aos alimentos, mas também a todos os recursos básicos, cuja
inacessibilidade para muitas pessoas representa uma afronta à sua dignidade
intrínseca, dada por Deus. De fato, é um insulto que deveria fazer toda a
humanidade se envergonhar e mobilizar a comunidade internacional.”
Que ninguém seja excluído
Ao recordar o tema deste ano,
"Água é vida, água é alimento. Não deixe ninguém para trás”", o Papa
afirma que é um convite para compreender “o valor insubstituível desse recurso
para todos os seres vivos do nosso planeta, do qual deriva a necessidade urgente
de planejar e implementar sua gestão de forma sábia, cuidadosa e sustentável,
para que todos possam usufruir dele para satisfazer suas necessidades
substanciais e para que o desenvolvimento humano adequado também possa ser
sustentado e promovido, sem que ninguém seja excluído”.
O Pontífice sublinha que a
água é vida porque garante a sobrevivência, entretanto, “atualmente esse
recurso está ameaçado por sérios desafios em termos de quantidade e qualidade.
Em muitas partes do mundo, nossos irmãos e irmãs sofrem de doenças ou morrem
justamente por causa da ausência ou escassez de água potável. As secas causadas
pelas mudanças climáticas estão deixando vastas regiões estéreis e causando
enormes estragos nos ecossistemas e nas populações.”
A água nunca deve ser vista
como uma mera mercadoria
Para Francisco, o
gerenciamento arbitrário dos recursos hídricos, sua distorção e poluição são
particularmente prejudiciais para os pobres e são uma afronta vergonhosa à qual
não podemos ficar de braços cruzados. Com uma citação da Encíclica
Laudato Si' o Papa recorda: "o acesso à água potável e segura é
um direito humano essencial, fundamental e universal, porque determina a
sobrevivência das pessoas e, portanto, é condição para o exercício dos outros
direitos humanos" (n. 30).
“É essencial investir mais em
infraestrutura, em redes de esgoto, em sistemas de saneamento e tratamento de
águas residuais, especialmente nas áreas rurais mais remotas e esquecidas.
Também é importante desenvolver modelos educacionais e culturais que
conscientizem a sociedade sobre a necessidade de respeitar e preservar esse bem
primário. A água nunca deve ser vista como uma mera mercadoria, um produto a
ser comercializado ou um bem a ser especulado.”
O papa recorda ainda a
importância da luta contra a poluição da água, e convida ao incentivo de
medidas para proteger a disponibilidade de recursos hídricos para evitar que a
escassez aguda se torne uma causa de conflito entre comunidades, povos e
nações. Além disso, a ciência e a inovação tecnológica e digital devem ser
colocadas a serviço de um equilíbrio sustentável entre o consumo e os recursos
disponíveis, evitando impactos negativos sobre os ecossistemas e danos
irreversíveis ao meio ambiente. O apelo de Francisco é direcionado às
organizações internacionais, governos, sociedade civil, empresas, instituições
acadêmicas e de pesquisa, bem como outras entidades, que devem unir forças e
ideias para que a água seja patrimônio de todos, seja melhor distribuída e seja
gerenciada de forma sustentável e racional.
Um olhar atento ao famintos e
os sedentos
O Santo Padre, ao finalizar
sua mensagem, destaca que "o Dia Mundial da Alimentação também deve servir
como um lembrete de que a cultura do descarte deve ser incisivamente combatida
por ações baseadas na cooperação responsável e leal de todos. Nosso mundo é
muito interdependente e não pode se dar ao luxo de ser dividido em blocos de
países que promovem seus interesses de forma espúria e tendenciosa”:
“Somos chamados a pensar e
agir como uma comunidade, com solidariedade, tentando dar prioridade à vida de
todos em vez da apropriação dos bens por parte de poucos.”
Dirigindo-se diretamente ao
diretor geral da FAO, Francisco recorda que, “infelizmente, hoje estamos
testemunhando uma escandalosa polarização das relações internacionais devido às
crises e aos confrontos existentes. Enormes recursos financeiros e tecnologias
inovadoras que poderiam ser usados para tornar a água uma fonte de vida e
progresso para todos estão sendo desviados para a produção e o comércio de
armas”.
O apelo do Papa diante desse
cenário é a urgência em nos tornarmos promotores do diálogo e pacificadores. “A
Igreja não se cansa de semear os valores que construirão uma civilização que
encontra no amor, no respeito mútuo e na ajuda recíproca uma bússola para guiar
seus passos, voltando-se sobretudo para os irmãos e irmãs que mais sofrem, como
os famintos e os sedentos”, conclui Francisco.
A mensagem finaliza com um
agradecimento do Pontífice à Organização das Nações Unidas para a Alimentação e
a Agricultura “por tudo o que faz para promover o desenvolvimento agrícola, a
nutrição saudável e suficiente para cada pessoa e o uso sustentável da água”. O
Papa invoca “abundantes bênçãos celestiais sobre todos aqueles que se esforçam
por um mundo melhor e mais fraterno”.
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