Foto: Ed Alves/CB/D.A Press
Ela já
foi coadjuvante. Entrou na vida pública como primeira-dama do Distrito Federal,
mulher de um governador com personalidade, José Roberto Arruda, que desperta
ódios e paixões. Eleita com 121.340 votos, Flávia Arruda (PL-DF), aos poucos,
conquista seu espaço próprio. Foi a mais votada da bancada do DF na Câmara. Em
dois anos de mandato, tornou-se a primeira deputada a assumir a presidência da
Comissão Mista de Orçamento (CMO) do Congresso. Por aclamação.
A disputa
rolou nos bastidores no ano passado. O então presidente do Senado, Davi
Alcolumbre (DEM-AP), preferia o deputado Elmar Nascimento (DEM-BA) e não
instalou a comissão porque seria derrotado. Flávia Arruda era candidata única
do Centrão. Com a vitória de Arthur Lira (PP-AL), eleito com o apoio dessa
bancada, as portas foram abertas.
Na semana
passada, a CMO iniciou os trabalhos (foto abaixo). Nas mãos da deputada de
Brasília fica a atribuição de conduzir a aprovação de um projeto de lei
orçamentário que está atrasado. Em dois meses, é preciso aprovar o Orçamento de
2021, com duas dificuldades quase intransponíveis: recriar o auxílio
emergencial sem ainda ter a fonte de financiamento e garantir recursos
destinados à compra de vacinas contra a covid-19 para proteger uma população de
200 milhões de habitantes.
A
imunização, segundo Flávia Arruda, é prioridade total. Mas não se pode permitir
que as pessoas morram de fome por causa da crise provocada pela pandemia.
Tarefa difícil.
O Congresso vai conseguir aprovar o Orçamento de 2021 até abril,
como prevê o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco?
Temos de
aprovar o Orçamento até o fim de março, para o país andar, para o governo
ter condições de tocar os projetos prioritários. Esse atraso foi muito ruim,
mas as eleições do deputado Arthur Lira e do senador Rodrigo Pacheco
pacificaram o ambiente político.
Vai ter um novo auxílio emergencial? Em que condições?
A crise
social é grave. Quem tem fome tem pressa. Eu defendo um novo auxílio
emergencial, nos limites do possível.
O presidente Jair Bolsonaro disse que vai precisar fazer dívida
para pagar o auxílio. De onde vai sair o dinheiro?
O relator
do Orçamento, senador Marcio Bittar, e eu tivemos uma primeira reunião com o
ministro Paulo Guedes, e nossas equipes técnicas estão trabalhando. Vamos
encontrar caminhos.
Ao assumir a CMO, você disse que a prioridade são as vacinas. Os
recursos para compra de imunizantes estão assegurados?
A vacina
é prioridade zero. Não pode e não vai faltar dinheiro.
Como é possível acelerar a aquisição de vacinas?
Essa é
uma responsabilidade do Poder Executivo. O mundo todo está correndo atrás das
vacinas. Não podemos ficar para trás. Não podemos perder mais vidas.
Como presidente da CMO, é possível ajudar o Distrito Federal?
A bancada
do DF já tem ajudado muito, destinando emendas importantes para a saúde, para
escolas, creches e outras obras. Vamos continuar trazendo recursos para
Brasília. Creio que, na presidência da Comissão Mista do Orçamento, vou poder
ajudar ainda mais.
Qual é a prioridade aqui?
Vamos
ouvir o governador Ibaneis (Ibaneis Rocha) e definirmos juntos, com os
senadores e deputados, as prioridades do DF já na próxima semana.
Dá para pensar em reajuste para as forças de segurança?
O momento
é muito difícil para qualquer aumento de despesas, tanto no plano federal como
nas unidades da Federação. O cobertor é curto. As prioridades, repito, são a
vacina, o auxílio emergencial para quem está passando fome e a retomada da
economia e dos empregos, que só acontecem se soubermos atender as duas
primeiras prioridades sem desorganizar a economia, sem crescer a dívida
pública. Mas, mesmo em tempos difíceis, não dá para viver sem esperança.
Você é amiga de Rodrigo Maia, mas apoiou Arthur Lira na eleição
para a presidência da Câmara. Como lidou com isso?
Quando a
conversa é franca, a amizade é longa. Sou amiga do Rodrigo e muito amiga do
Arthur. Rodrigo foi o primeiro a quem eu disse que seguiria a orientação do meu
partido, e da minha consciência, e votaria no Arthur, que reuniu as condições
políticas para dar estabilidade às relações institucionais, num momento em que
já temos crises grandes demais.
Ficou alguma mágoa da parte dele?
Tenho
certeza de que não. Já tivemos outras discordâncias políticas e isso nunca
afetou nossas relações pessoais. Ele, inclusive, já esteve na minha casa depois
que deixou a presidência. Eu não deixo eventuais discordâncias afetarem
relações pessoais. Aliás, precisamos acabar com esse radicalismo que divide
amigos e até familiares. Podemos ser capazes de ter posições diferentes num
clima de diálogo e respeito.
Com Arthur Lira na presidência da Câmara, o Centrão vai
reivindicar mais espaço no governo Bolsonaro?
O que eu
penso é que num presidencialismo de coalizão é fundamental o presidente fazer
composições políticas com o Congresso e estabelecer uma maioria parlamentar.
Acredita que Bolsonaro vai recriar o Ministério do Planejamento?
Não tenho
essa informação. O que eu acho é que a crise da covid é a maior da nossa
geração. E as consequências econômicas e sociais são muito grandes. Dar
estabilidade econômica para o país voltar a receber investimentos é
fundamental. Por isso, meu primeiro gesto como presidente da Comissão Mista do
Orçamento, com o relator, o senador Marcio Bittar, foi visitar e estabelecer um
diálogo com o ministro Paulo Guedes.
O
ministro da Economia, Paulo Guedes, fala em aprovar o auxílio emergencial por
meio da PEC da Guerra. O governo não se preparou para uma pandemia prolongada?
Nenhum
governo de nenhum país esperava uma tragédia como esta. A questão é como cada
um reagiu à pandemia. Mas a hora não é de procurar culpados e, sim, de
encontrar soluções. E a única saída é a vacina. E rediscutir a PEC da Guerra
pode ser realmente necessário para termos mais alguns meses de auxílio
emergencial.
Acha que teremos um ano mais difícil em termos econômicos do que
2020, com a lentidão naimunização da população e novas cepas de coronavírus
surgindo?
Tenho
muita esperança de que o mundo, por meio da ciência, vai vencer o vírus. Mas
este ainda será um ano muito difícil. Teremos vários desafios para enfrentar
além da vacina. Vivemos uma crise social grave, em que milhões de brasileiros
não têm comida na mesa. Isso é grave e urgente. Por isso, eu defendo o auxílio
emergencial com responsabilidade fiscal.
Você foi a deputada mais votada do DF. Chegou à Câmara e assumiu
a presidência da Comissão Externa de Combate à Violência contra a Mulher.
Agora, a presidência da CMO. Quais são os próximos planos?
Vivemos o
momento mais difícil da nossa geração. Qualquer projeção futura de caráter
político ou pessoal, neste momento, seria irresponsável. Meu foco é ajudar o
Brasil e Brasília a saírem desta crise.
Acha que você está fazendo um bom trabalho?
Eu me dedico
ao máximo para fazer o melhor, mas esse julgamento não cabe a mim.
Fonte: Diário de Pernambuco
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