Após encerrar o ano passado com
uma colheita de 559 mil toneladas (t)de grãos, cerca de 11,5% menor que no ano
anterior (632 mil t), o setor agropecuário cearense projeta uma melhor colheita
para este ano. O otimismo é ancorado na projeção da Fundação Cearense de
Meteorologia (Funceme) para o primeiro trimestre da quadra chuvosa no Estado,
iniciado em fevereiro que aponta 45% de chances de chuvas acima da média.
O
presidente da Câmara Setorial do Agronegócio, José Amilcar Silveira, avalia
que, além de melhorar a colheita de grãos, as chuvas devem reduzir os preços.
“A saca do milho chegou a R$ 57. É muito caro. Em março, esse valor deve cair
para R$ 46 caso a previsão da Funceme se confirme, que é um bom preço. Isso vai
permitir que o produtor aumente o plantio”, afirma.
Ele
ainda ressalta que só deve ter uma estimativa de quanto será o crescimento da
safra no Estado em março, quando for possível observar parte do desempenho da
quadra chuvosa. Além disso, é nesse período em que o plantio acontece com mais
força.
O
presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Ceará (Faec),
Flávio Saboya, reforça que, para a agricultura, as condições serão melhores do
que no ano passado. “Na região de Tauá, a situação das reservas hídricas, dos
plantios, nós sentimos claramente que, neste ano, teremos uma safra superior à
do ano passado, tanto de milho, como de feijão”.
Frutas
Sobre
as frutas, Saboya relata a dependência dos reservatórios do Estado para o
plantio. “Em particular no caso do melão, aqueles produtores que se dedicaram a
plantar na Chapada do Apodi fazem a irrigação com águas do Castanhão, que ainda
está abaixo de 3% e só está podendo ser utilizado para o consumo humano”.
Ainda
assim, o presidente da Faec alimenta à esperança de que os níveis dos reservatórios
melhorem. “O açude do Orós está com uma reserva significativa de água, e ainda
estamos no mês de fevereiro, podendo ter chuvas em março e abril. A expectativa
é de que todo esse quadro mude”.
Já
Tom Prado, CEO da produtora especializada em melões Itaueira Rei Alimentos,
está menos otimista com relação à melhora do nível de armazenamento. Ele revela
que, no ano passado, a empresa praticamente não produziu no Estado por conta da
baixa capacidade do Castanhão.
“O
principal reservatório para nós é o Castanhão, que continua muito baixo. Neste
ano, a expectativa é a mesma (de baixa produção no Ceará), caso esse quadro não
mude. Mas a quadra chuvosa oficial ainda não começou”, aponta.
IBGE
Contrário
às previsões do setor produtivo local, o Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE) projeta uma queda de 17,44% na safra de grãos cearense em
comparação com o obtido no ano passado. Segundo o Levantamento Sistemático da
Produção Agrícola (LSPA), deverão ser 466,1 mil toneladas de grãos este ano. O volume
também é 3,22% menor que o primeiro prognóstico realizado no ano, quando foram
estimadas 481,6 mil toneladas.
Caso
se confirme a previsão mais recente, a safra deste ano será a menor do Estado
desde 2016, quando foram colhidos apenas 187 mil toneladas de grãos. Em 2011, o
Ceará chegou a produzir 1,29 milhão de toneladas de grãos.
De
acordo com o relatório, oito dos 14 produtos monitorados sofreram redução na
expectativa de produção para este ano, incluindo o feijão e o milho, os dois
principais grãos plantados no Estado. O principal motivo para a queda é a
retração da área plantada, uma vez que os produtores ainda estão receosos em
relação ao desempenho da quadra chuvosa do ano.
“Essa
reunião (para o prognóstico) foi realizada ainda em dezembro. Ainda não
tínhamos a previsão da Funceme e havia um grande receio, apesar de já termos
passado os cinco anos do ciclo da seca. Nos próximos relatórios, deveremos ter
um acréscimo nesses resultados”, explica Regina Feitosa, coordenadora da
Reunião Estadual das Estatísticas Agropecuárias do Ceará (Reagro Ceará), núcleo
do IBGE encarregado de acompanhar o setor agrícola.
Pecuária
O
maior volume de chuva ainda deve contribuir para o desempenho da pecuária
cearense, segundo Flávio Saboya, presidente da Faec. Ele lembra que, no Estado,
cerca de 45% do valor da produção agropecuária bruta é relativa à produção de
leite. “O leite tem necessidade de pastagens e de água para o gado. E isso nós
estamos tranquilos, porque já atingimos as necessidades, com oferta de água superior
a do ano passado”.
Previsão
da Funceme de 45% de chance de chuvas acima da média na quadra chuvosa anima
produtores, que preveem aumento da produção. Queda estipulada pelo IBGE ainda
não considerava a expectativa meteorológica do órgão.
Fonte: Diário do Nordeste