JULIANA CALDAS TIRA A ROUPA EM PROJETO FOTOGRÁFICO. Atriz foi clicada por Brunno Rangel e pelo diretor de arte Marcelo Feitosa




Interpretando a personagem Estela, que sofre maus-tratos nas mãos da vilã Sophia por ter Nanismo, conversou com a Vogue sobre moda, beleza, sua infância e preconceito.
Confira:
Vogue Brasil: Como foi o convite para entrar em O Outro Lado do Paraíso?
A oportunidade de atuar na novela veio por meio da agência de que faço parte, Nany Casting. Fiz o teste para o papel e fui aprovada. Recebi um texto para decorar e, no dia da audição com câmera, fiz a minha interpretação. A produtora de elenco pediu que eu interpretasse de outras duas maneiras. Um tempo depois, veio o resultado.


Você é de São Paulo e se mudou para o Rio de Janeiro. Como foi a mudança?
Foi tranquilo, me adaptei bem. Já conhecia o Rio, vim para cá algumas vezes com peças de teatro, então morar aqui não está sendo um problema.

Você deu conselhos aos autores/diretores de como tratar o Nanismo na novela?
Conversei com os diretores sobre algumas abordagens do Nanismo, sim, mas não muito. O texto já estava bem escrito e a abordagem é ótima.



Já chegou a chorar depois de gravar uma cena pesada, ao lado de Marieta Severo, Grazi, etc?

Sim, no início é difícil controlar a emoção, até porque estamos emprestando nosso corpo, nossas emoções para a personagem. Mas agora já consigo trabalhar essas emoções em mim.
Como foi sua criação?

Meu pai e meu irmão também têm nanismo, mas minha mãe era de estatura normal. Nossa relação era ótima, ela sempre nos incentivou com amor e apoio. Nunca sofri nada parecido com o que a Estela, minha personagem, enfrenta no convívio com a família.



Sua casa era adaptada? A de agora é?

Minha mãe queria que fôssemos fortes e determinados. Por essa razão, nossa casa nunca foi adaptada - o que, no final, foi bom para mim. Aprendi desde cedo a lidar com os obstáculos desse mundo que não é, nem nunca foi adaptado para nós. Mas é importante reforçar que a acessibilidade é um direito nosso. Podemos ter casas normais, mas se optarmos por isso, não porque não temos alternativa.

Você gosta de moda? É difícil encontrar roupas que sejam bacanas?
Gosto muito de moda. Sou vaidosa, adoro me vestir bem, usar maquiagem - não saio de casa sem rímel e batom. Mas encontrar roupas é realmente difícil. Nós temos o tamanho de uma criança, mas não o corpo de uma, nossas medidas são diferentes. Calças e shorts costumam ser um desafio, sempre precisamos ajustar o comprimento e dar uma pence na cintura. Tenho uma stylist em quem confio, a Joventina, que faz minhas roupas sob medida. Ela já conhece meu corpo e meu estilo, às vezes me apresenta sugestões até melhores do que eu havia pensado. Fiz trabalhos como modelo de moda inclusiva e aprendi muito nesse período. Ainda é um nicho muito pouco explorado, espero que a nossa representatividade na moda cresça.
Tem alguma marca que você curte?

Na verdade, eu não costumo comprar roupas de marca. Eu compro roupas que me caiam bem e que me deixem confortável.


Lembra de algum bullying que a marcou? Se sim, qual?
O que mais ocorre é as pessoas caçoarem na rua, mas me dói especialmente quando uma criança aponta e ri e os pais, em vez de ensinarem o certo, riem junto. É quando vemos como a discriminação ainda tem força. O humor também tem a cultura de representar o anão como “coitadinho”. Não julgo quem faz, mas nunca aceitei esse tipo de papel. É uma forma de perpetuar o preconceito. Nós somos capazes, não merecemos ser subestimados nem reduzidos a estereótipos.


Você virou um porta-voz das pessoas com Nanismo. Como é isso para você?
É importante, tenho pensado muito sobre isso. Mas a visibilidade da causa não depende só de mim, depende de todos os pequenos, que eles sejam porta vozes deles mesmos, exigindo respeito e se impondo na sociedade.