FOTOS E REPORTAGEM:ANDRÉ COSTA, DN
Barbalha. “Estamos mendigando, pedindo esmola para conseguir
atender a população do Cariri”. A forte declaração do secretário-executivo do
Hospital Maternidade São Vicente de Paulo (HMSVP), Antônio Ernani de Freitas,
retrata bem a atual situação deste e de outros dois hospitais da região: o
Hospital do Coração do Cariri e o Hospital Maternidade Santo Antônio. As três
unidades referências para mais de 60 municípios do Ceará e Estados vizinhos
passam por uma grave crise financeira há, pelo menos, sete meses.
De acordo com Ernani, “desde
agosto passado o hospital não recebe uma verba de R$ 250 mil do SUS”. O não
repasse do valor por parte do Ministério da Saúde gerou uma dívida de R$ 1,5
milhão que afetou diretamente diversos setores do Hospital, conforme relata.
“Estamos operando há meses acima do nosso teto. Isso é, atendemos mais
pacientes do que recebemos verba para tal. Ao longo dos meses, isso acarretou
grandes prejuízos. Estamos em atraso com fornecedores de medicamentos e alimentos,
os médicos estão sem receber desde dezembro e a situação só piora”, descreve.
Como medida “emergencial”, a
partir da próxima segunda-feira (13), os atendimentos que ultrapassarem o teto
financeiro do HMSVP não serão realizados e, desde o início do mês, o pronto
socorro do hospital só está atendendo urgência e emergência, os demais casos
estão sendo encaminhados para os PSFs. A direção da unidade de saúde estuda
inclusive a possibilidade de judicializar o problema. “Não sabemos mais a quem
recorrer. A situação só piora. Na radioterapia, há uma fila de pacientes para
serem atendidos, mas não temos mais condições. Essas pessoas estão esperando
para morrer. É uma situação grave”, acrescenta Ernani.
No Hospital do Coração, a
situação é igualmente preocupante. O teto de atendimento está fixado em R$ 272
mil, valor inferior à ampla demanda da unidade. Segundo o diretor de projetos,
Egberto Santos, o hospital tem operado com déficit mensal de R$ 90 mil. “Esse
valor seria ainda maior caso não tivéssemos freado um pouco os atendimentos.
Portanto, o acumulo é grande. Mais de R$ 2 milhão sem receber. O ideal seria
recebermos o dobro desse teto. Vale frisar que esses três hospitais são
referência de atendimento”.
A unidade também estuda a
possibilidade de suspender o atendimento a partir de março. “Claro que é
decisão não é simples. O Hospital do Coração do Cariri é o único especializado
no tratamento de doenças cardiovasculares da região, mas a situação está
insustentável”, lamenta. Egberto ressalta que a fila de atendimento hoje do
hospital de coração ultrapassa a marca dos 200 pacientes. “São pessoas que
podem morrer em casa, esperando por atendimento”, afirma. De acordo com os
diretores das três unidades, que juntas atendem 1.500 pessoas por dia, “há dez
anos não há reajuste na tabela de repasse dos SUS”.
Dentre as três unidades, o
Hospital Santo Antônio é o que apresenta um quadro menos crítico. A direção
está dialogando com os demais hospitais e não decidiu se vai paralisar o
atendimento. A intenção é procurar outras alternativas para driblar a crise
financeira. O Santo Antônio é o único especialista em traumas na região.
Juntos, os três hospitais de Barbalha atendem cerca de 1.500 pacientes por dia.


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