Moreira
Franco disse que a tendência é que os Correios passem a atuar mais diretamente
no setor de logística, em vez de se concentrar no monopólio postal.
Os Correios entraram para a lista de estatais que o governo pretende
privatizar, um caminho já anunciado para a Eletrobrás, a Casa da Moeda e a
Infraero. A confirmação veio de Nova York. O ministro Moreira Franco, da
Secretaria Geral da Presidência, declarou que a venda dos Correios está
em estudo, mas que precisa ser feita "com muito cuidado".
Moreira Franco, que integra a comitiva do presidente Michel Temer aos
Estados Unidos, disse que a tendência é que os Correios passem a atuar
mais diretamente no setor de logística, em vez de se concentrar no
monopólio postal. "É o mesmo caso da Casa da Moeda, que produzia mais de 3
milhões de cédulas por ano e agora está (produzindo) 1 milhão e pouco. As
pessoas não usam mais moeda", destacou. "A situação financeira dos
Correios, pelas informações que o (Ministério do) Planejamento tem e nos passa,
é muito difícil. Até porque, do ponto de vista tecnológico, há quanto tempo
você não manda telegrama? As pessoas perderam o hábito do uso da
carta."
A informação irritou a Federação Nacional dos Trabalhadores em Empresas dos
Correios e Similares (Fentect), que desde terça-feira lidera uma greve
dos funcionários da estatal, por um reajuste salarial de 8% e correção
inflacionária. "Somos contrários à privatização. A verdade é que não
existe vontade política do governo federal de melhorar a empresa, o que querem
é entregar os Correios a preço de banana", disse José Rivaldo da Silva,
secretário-geral da Fentect.
A estatal é presidida por Guilherme Campos, ex-deputado federal por São
Paulo e vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e
Comunicações, comandado por Gilberto Kassab. Ambos são do PSD.
Déficit
No fim de agosto, Kassab e Campos se reuniram no Palácio do Planalto com
Temer e os ministros Moreira Franco, Eliseu Padilha (Casa Civil) e Dyogo
Oliveira (Planejamento). Eles discutiram a situação financeira da
empresa e falaram sobre o Postalis (fundo de pensão da companhia) e o
Postal Saúde (plano voltado aos empregados e dependentes) - uma das maiores
causas de déficit anual de cerca de R$ 800 milhões, segundo um integrante da
cúpula do ministério. A privatização é tida por integrantes do governo como uma
"tendência" pela mudança de perfil da empresa no mercado e a
dificuldade de zerar o déficit, mas não existe uma modelagem pronta.
"A privatização é uma hipótese forte com esse buraco que está.
Privatizar ou não vai ser uma decisão de governo. Estamos fazendo um esforço
para recuperar a empresa. O rombo, quando a gente assumiu, era de
cerca de R$ 2 bilhões por ano. A situação está melhorando. Estava morrendo na
UTI, agora continua na UTI, mas não está morrendo", disse Kassab.
O presidente dos Correios, Guilherme Campos, disse que soube pela imprensa
das declarações de Moreira Franco e que não desenvolve nenhum estudo para
privatização, por orientação do Planalto. "A missão que me foi dada pelo
ministro Kassab é a de recuperação da empresa e não existe um
encaminhamento para privatização. Agora, se nada der certo com todos
os esforços para sanear a empresa, o governo pode e tem todo o direito de mudar
essa orientação."