Ronnie Lessa durante o depoimento no Tribunal do Juri — Foto: Reprodução
Seap de SP nega denúncia de ex-policial sobre veneno na
comida servida em penitenciária e informa que arquivou o caso
A Secretaria da Administração
Penitenciária de São Paulo (SAP-SP) apurou a denúncia do assassino confesso da
vereadora Marielle Franco, o ex-policial militar Ronnie Lessa, de que teria
sido envenenado dentro da Penitenciária 1 de Tremembé (SP). O caso foi revelado
nesta segunda-feira pelo blog Segredos do Crime. Após suspeitar da comida
fornecida na unidade prisional, Lessa deixou de se alimentar das refeições
servidas e passou a pedir que visitantes levassem frutas, biscoitos e caixas de
caldo de frango e carne.
Lessa foi transferido no
sábado (22/11) para a Penitenciária IV do Distrito Federal, em Brasília, após o
quarto pedido de sua defesa ao Supremo Tribunal Federal (STF), fundamentado no
risco à sua “integridade física”. De acordo com o advogado, ele teria emagrecido
cerca de 10 quilos entre junho do ano passado e a semana passada.
A SAP informou ao blog que a
investigação concluiu que “não foram encontrados quaisquer indícios” de veneno
na comida servida ao interno. Em nota, a secretaria classificou a acusação como
falsa e decidiu arquivar o caso.
O advogado Saulo Carvalho
afirmou ao STF que seu cliente passava mal sempre que comia as refeições da
penitenciária. Por isso, ao perceber que os sintomas não eram provocados pelos
remédios que tomava — já que ficou alguns dias sem usá-los para testar a hipótese
— Lessa passou a recusar os alimentos da unidade.
Mesmo sem ter realizado greve
de fome, segundo a defesa, a penitenciária instaurou um Processo Administrativo
Disciplinar (PAD) contra ele por esse motivo. Para não ficar sem comer, Lessa
preparava uma espécie de “pastinha”, misturando caldos de carne ou frango com
água para passar nos biscoitos, além de consumir frutas.
A SAP também informou que
Lessa cumpria pena em cela individual, medida adotada, segundo o órgão, para
preservar sua integridade física. Seus banhos de sol eram diários e realizados
em pátio reservado, sem contato com os demais presos. A Penitenciária 1 de
Tremembé abriga internos comuns e integrantes de facções criminosas; já a
Penitenciária 2, onde Lessa gostaria de permanecer, é destinada a presos
midiáticos — envolvidos em casos de grande repercussão.
A secretaria afirmou ainda que
o ex-policial participou de projetos culturais na unidade e mantinha a mesma
rotina dos demais custodiados. A defesa, no entanto, alegou ao STF que ele
vivia em uma espécie de “solitária” e não tinha acesso aos mesmos benefícios. O
advogado também disse que Lessa foi impedido de realizar o Exame Nacional do
Ensino Médio (Enem) deste ano. A SAP ainda não se manifestou sobre esse ponto.
Em nota, o órgão destacou que
“a unidade disponibiliza atendimento médico, de enfermagem, odontológico,
psicológico e do serviço social sempre que solicitado”. Sobre a alimentação,
afirmou que “a comida oferecida seguiu um cardápio padrão instituído pela SAP”.
O ex-policial Ronnie Lessa
firmou acordo de delação premiada e confessou ter executado Marielle Franco e
Anderson Gomes, no dia 14 de março de 2018. Lessa disparou os tiros, enquanto
Élcio Queiroz, outro ex-policial militar e seu compadre, dirigia o carro. Eles
foram condenados a 78 anos e 59 anos de prisão, respectivamente, no IV Tribunal
do Júri do Rio.
Em sua delação premiada,
homologada pelo STF, Lessa apontou como supostos mandantes do homicídio de
Marielle e Anderson o conselheiro do Tribunal de Contas do Rio (TCE-RJ),
Domingos Brazão; seu irmão, o ex-deputado federal Chiquinho Brazão; e o
ex-chefe da Polícia Civil do Rio Rivaldo Barbosa. O acordo foi celebrado em
março de 2024. A motivação do crime, segundo o colaborador, seria a grilagem de
terras na região de Jacarepaguá, na Zona Oeste do Rio. O julgamento deles ainda
não foi marcado pelo relator do caso, o ministro Alexandre de Moraes.
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