Em "Sete Solidões", Maurício Melo Júnior traça um retrato humano e intenso da capital do país e suas esquinas
Longe das cúpulas e holofotes da política,
Brasília é também feita de silêncios, esquinas e histórias íntimas. É nesse
espaço invisível da capital que se passam as novelas reunidas em Sete
Solidões, obra de Maurício Melo Júnior. Com precisão narrativa,
o autor constrói personagens em busca de liberdade, afeto ou sentido — todos
atravessados por pequenas e grandes tragédias que, mesmo ficcionais, espelham
realidades muito concretas.
Cada história revela uma camada distinta de
isolamento e resistência. Em Cárceres, uma ex-miss vê sua vida se
transformar em uma prisão doméstica. Já em Prelúdio, uma servidora pública
reavalia sua trajetória às vésperas dos 40 anos. Rostos, um homem explora
a confusão da memória ao rever uma mulher do passado em uma fotografia da amiga
de sua filha. Em Pacto, uma senhora descobre um diário da cunhada e
se depara com a liberdade sexual que nunca viveu.
Cantata acompanha uma mãe frustrada que
deposita na filha o peso de seus sonhos não realizados. Duelos apresenta
o drama de um pai impotente diante do sequestro da própria casa. Por fim, Peste se
passa na pandemia, narrando a tentativa de reconexão entre dois irmãos
afastados pelo tempo e pelas escolhas.
Ismênia, em frente ao portão, olha o muro alto
e solitário, só o Cerrado em volta – as árvores baixas e retorcidas e os
cupinzeiros amarelos, cor da terra, alongados, marcam a paisagem. Sob o clima
seco, só aridez. Uma mulher abre o portão, o carro passa, um redemoinho se
alevanta. Solidão. (Sete Solidões, p.14)
Segundo o escritor, a obra visa reposicionar a
capital no imaginário literário: “Esse livro é motivado pela busca de destacar
a Brasília cotidiana, que transita normalmente pelas ruas e esquinas — sim, ao
contrário do senso comum, a cidade tem esquinas”. A publicação retrata
personagens que, em vez de dominar o poder, são afetados por ele ou vivem à sua
sombra. O cenário é a capital, mas as histórias são universais — sobre
envelhecer, desejar, resistir.
Com narrativas que combinam densidade
psicológica e crítica social, a obra transforma o ordinário em matéria de arte.
A linguagem sensível valoriza os detalhes e transmite com elegância o peso das
escolhas e das ausências. Ao final de cada conto, o leitor se reconhece no eco
dessas vozes que, em comum, compartilham o peso de existir. Mais do que um
livro, Sete Solidões é um mapa das emoções humanas — e uma
celebração da literatura como espelho da cidade e do tempo.
FICHA TÉCNICA
Título: Sete Solidões
Autor: Maurício Melo Júnior
Editora: Caos e Letras
ISBN: 978-65-80804-43-6
Páginas: 148
Preço: R$ 55,00
Onde comprar: Amazon | Caos e
Letras
Sobre o autor: Maurício Melo Júnior é escritor,
jornalista, crítico literário e documentarista. Pernambucano radicado em
Brasília, formou-se em Comunicação Social, com pós-graduação em Economia e
Ciência Política. Atuou em alguns dos principais veículos de comunicação do
país, apresenta o programa Leituras, da TV Senado, dedicado à literatura
brasileira. É também autor de romances, contos, crônicas e livros
infantojuvenis, com destaque para Não me empurre para os perdidos e Sujeito
oculto. Foi curador da Feira do Livro de Brasília e a FLIPIRI (GO). Como
documentarista, dirigiu mais de 20 filmes e escreveu para o teatro, com peças
encenadas em diversas regiões do país.
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