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Bandeiras tarifárias: por que ainda pagamos tão caro pela energia?

 



Por Tarcísio Neves, CEO da Evolua Energia

O acionamento da bandeira vermelha patamar 1 para os meses de junho e julho reforça uma realidade conhecida dos consumidores brasileiros: o custo da energia elétrica é altamente sensível às condições climáticas e aos níveis dos reservatórios das hidrelétricas. Esse ano temos uma nova variável na determinação das bandeiras tarifárias:  a adoção de uma estratégia mais conservadora na operação do sistema elétrico, acionando as termelétricas mais cedo, em resposta à crescente dificuldade da ONS em operar o sistema. Nesse cenário, a Aneel manteve a cobrança da bandeira vermelha, com o adicional de R$ 4,46 a cada 100 quilowatts-hora (kWh) consumidos.

 

O sistema de bandeiras tarifárias, criado em 2015 para tornar mais claro o custo real de geração de energia no país. A lógica é simples: por meio de cores (verde, amarela ou vermelha), o consumidor é avisado quando a produção fica mais cara. No caso da bandeira vermelha — atualmente em patamar 1 —, há dois níveis de cobrança que indicam graus diferentes de encarecimento. Na prática, porém, a compreensão sobre como isso impacta diretamente a conta de luz ainda é baixa.

 

As bandeiras são acionadas conforme as condições de produção, principalmente nas hidrelétricas, que seguem como base da matriz brasileira. Em períodos de seca ou estiagem, os reservatórios baixam e o governo precisa acionar as termelétricas — mais caras e poluentes. Essa lógica continua em curso: com o agravamento da estiagem, o sinal muda para vermelho e o custo é repassado ao consumidor final. É um modelo que depende fortemente do clima e da oscilação da demanda.

 

É nesse contexto que o mercado livre de energia surge como alternativa mais estável. Um estudo da Abraceel confirmou que, nos últimos 15 anos, enquanto as tarifas do mercado regulado cresceram 45% acima da inflação, os preços negociados no mercado livre ficaram 64% abaixo. Nele, é possível escolher fornecedores, negociar contratos e contratar fontes renováveis — algo que traz mais previsibilidade e, em muitos casos, economia. A boa notícia é que essa estrutura está se expandindo e deve alcançar mais brasileiros em breve.

 

Além disso, iniciativas como a geração distribuída solar vêm ganhando protagonismo e precisam ser mais valorizadas. Modelos que permitem o uso de energia limpa de forma compartilhada — sem depender de investimentos em infraestrutura própria — mostram que é possível consumir eletricidade com menos impacto no orçamento. Em tempos de bandeira vermelha, essas alternativas não são apenas convenientes, mas indispensáveis. Ignorá-las é seguir preso a um sistema que cobra caro pela sua própria ineficiência.

 

E é claro que hábitos cotidianos fazem diferença quando escolhemos eletrodomésticos eficientes, aproveitamos a luz natural, evitamos o ar-condicionado em excesso e desligamos eletrônicos da tomada. Essas atitudes combinadas ajudam a reduzir o valor da despesa. Mais do que ações pontuais, revelam um jeito mais consciente de consumir eletricidade. Ainda assim, muitas pessoas não entendem as tarifas extras e se surpreendem com aumentos sem mudança de consumo. Falta informação clara para que o consumidor tome decisões vantajosas.

 

O sistema de bandeiras, embora tenha nascido com a proposta de tornar tudo mais claro, ainda carrega um peso simbólico de penalidade. Ele alerta sobre os custos, porém, não oferece caminhos. Para que cumpra seu papel de forma justa, precisa vir acompanhado de soluções: mais acesso à energia limpa, incentivos à migração para o mercado livre e modernização da infraestrutura. Até lá, cada atitude consciente será um passo importante rumo a uma conta mais equilibrada e a um setor mais coerente com os tempos em que vivemos. 

 

 

Tarcísio Neves, CEO da Evolua Energia, uma das principais startups do varejo de energia no Brasil com atuação em geração distribuída e mercado livre,

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