“Seria o acordo mais
excepcional já feito neste começo de século e uma resposta ao unilateralismo.
Queremos mostrar que o multilateralismo vai sobreviver e que ele é a razão pela
qual o mundo deu um salto de qualidade depois da Segunda Guerra Mundial”. Com
essa frase, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reforçou na manhã deste
sábado (7) a importância estratégica da conclusão do acordo comercial entre
Mercosul e União Europeia. A declaração foi dada durante entrevista coletiva em
Paris.
Vamos continuar conversando
com a França, porque a França é um bom parceiro político, econômico, cultural e
histórico. Estou convencido de que até eu deixar a Presidência do Mercosul
vamos ter esse acordo assinado com todo mundo sorrindo”
Luiz Inácio Lula da Silva, presidente da República
O tema foi um dos assuntos debatidos na visita de Estado do líder brasileiro à
França e nas conversas bilaterais com o presidente Emmanuel Macron. “Eu disse
ao Macron: abra o seu coração para o Brasil e vamos assinar esse acordo”,
brincou Lula. Ele enfatizou a disposição do Brasil, que estará à frente da
presidência do bloco sul-americano a partir de julho, em debater pontos que
ainda despertem divergências na visão dos franceses.
“A França não tem melhor amigo
do que o Brasil na América do Sul e o Brasil não tem nenhum amigo melhor do que
a França na Europa. Se tiver problema, vamos sentar em uma mesa e encontrar
onde está a diferença e vamos acabar com isso. É importante a gente nunca
esquecer: o Mercosul e a União Europeia compõem uma população de 722 milhões de
habitantes, com PIB de 22 trilhões de dólares”, lembrou o presidente.
AGRICULTURA - Um dos
focos da contrariedade manifestada pelos franceses estaria no temor de perdas
para a agricultura do país europeu na competição com o agronegócio brasileiro.
Segundo Lula, o agro nacional já exporta produtos como soja e milho para a
Europa e não há intenção de prejudicar o fluxo dos produtores franceses. Lula
diz enxergar, na realidade, pontos de intersecção nos interesses.
DUAS MÃOS - “A nossa
agricultura pequena e média, possivelmente, tenha complementaridade com a
francesa. Longe de mim querer prejudicar o pequeno agricultor francês”,
afirmou. “Eu não quero que a gente pare de comprar vinho da França, embora a
gente produza vinho. Não quero deixar de comprar champanhe da França, embora a
gente produza. Não quero deixar de comprar queijo francês, embora a gente
produza também. A política comercial é uma via de duas mãos. A gente vende, a
gente compra”, comparou Lula. Ele ressaltou que o Brasil tem quase seis milhões
de pequenas propriedades de até 100 hectares e 2,5 milhões de pequenos
produtores de zero a 10 hectares, que não integram o agronegócio.
COLETIVO - O acordo entre Mercosul e União Europeia leva em conta os interesses dos 27 países europeus e os quatro da América do Sul. A conclusão do texto do documento foi anunciada pelas partes em Montevidéu, no fim de 2024. Para Lula, ainda que o trâmite remanescente possa correr independentemente da discordância francesa, ele gostaria de estabelecer consensos. “Eu não quero que seja um acordo em que as pessoas fiquem de cara feia. Nós vamos continuar conversando com a França, porque a França é um bom parceiro político, econômico, cultural e histórico. Eu estou convencido de que até eu deixar a Presidência do Mercosul vamos ter esse acordo assinado com todo mundo sorrindo”, disse Lula. “Eu vou encontrar com o Macron na COP30 e penso que lá, quando ele estiver embaixo de uma árvore de 30 metros, quando perceber a beleza da floresta, ele vai fazer o acordo”.
HISTÓRICO – Composto por
20 capítulos, além de anexos e documentos adicionais, o Acordo entre Mercosul e
União Europeia foi concluído durante a Cúpula do Mercosul, em Montevidéu, em 6
de dezembro. A parceria é o maior acordo comercial já realizado pelo bloco
sul-americano. A entrada em vigor passa pelo processo de revisão legal e
tradução, assinatura, além da ratificação final por instâncias dos dois blocos.
DIMENSÃO — A União
Europeia é o segundo principal parceiro comercial do Brasil, com corrente de
comércio de US$ 92 bilhões em 2023. O acordo diversifica parcerias comerciais
do Brasil, além de fomentar a modernização do parque industrial brasileiro com
a integração às cadeias produtivas da União Europeia. Também se espera que o
tratado dinamize fluxos de investimentos, o que deve reforçar a atual posição
da UE como a detentora de quase metade do estoque de investimento estrangeiro
direto no Brasil.
Fonte: Secretaria de
Comunicação Social da Presidência da República

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