Em 10 anos desde o início das pesquisas com a pele da tilápia, a invenção cearense já recebeu 25 prêmios e foi utilizada em missões médicas em diversos locais do mundo.
Depois de 10 anos desde o início das pesquisas
sobre o uso da pele de tilápia liofilizada para tratamento de queimaduras, a
técnica inovadora poderá ser mais amplamente utilizada pela população no
tratamento de lesões em humanos e animais. Neste mês de janeiro, a Universidade
Federal do Ceará (UFC) lançou um edital voltado para empresas interessadas em
produzir curativos com esse biomaterial.
Por meio da Coordenadoria de Propriedade
Intelectual e Transferência de Tecnologia (CPITT) e do Edital nº 01/2025, a
Universidade busca selecionar a proposta mais vantajosa para conceder licença
exclusiva para uso, desenvolvimento, produção e comercialização do curativo de
pele de tilápia. Ainda não há informações sobre o preço final que o produto
deve ter.
Uma solução inovadora criada a partir do peixe
mais consumido no Brasil — a tilápia-do-nilo — e com destaque mundial inclusive
fora do meio científico, o material já foi utilizado no tratamento de úlceras,
em cirurgias de reconstrução vaginal, na redesignação sexual e na veterinária.
As pesquisas deram origem a métodos cirúrgicos
que reduzem a morbidade pós-operatória, os custos das cirurgias e a necessidade
de autoenxertos — como são chamados os procedimentos em que um tecido ou órgão
do próprio paciente é transferido para outra parte do corpo.
O produto melhora a qualidade de vida de
pacientes e reduz o limiar de dor, o número de trocas de curativos e o risco de
infecções. Além disso, a aplicação da técnica diminui a permanência hospitalar,
o gasto de insumos médicos e a carga de trabalho da equipe médica durante o
tratamento de queimaduras e feridas.
Para participar da seleção, as empresas
interessadas devem enviar as propostas até o dia 14 de fevereiro. O
procedimento terá duas fases — uma de habilitação e outra de análise e
qualificação — e o resultado parcial da Fase I será divulgado até 7 de março. O
resultado final da Fase II está previsto para o dia 25 de abril. Veja o edital
na íntegra.
ESTUDOS, APLICAÇÕES E RECONHECIMENTO DA PELE DA
TILÁPIA
As pesquisas sobre o uso da pele da tilápia
tiveram início em 2015, com estudos realizados por pesquisadores da UFC e pelo
médico Edmar Maciel Lima Júnior, do Instituto Dr. José Frota. As primeiras
descobertas foram alcançadas no Núcleo de Pesquisas e Desenvolvimento de
Medicamentos (NPDM), sob coordenação do professor Manoel Odorico de Moraes
Filho.
Enquanto nos Estados Unidos a pele de porco já
era utilizada para o tratamento de queimaduras de segundo grau e em feridas
agudas ou crônicas, a medicina brasileira ainda não tinha, até então, uma
solução desse tipo para ser aplicada nessas lesões. À época, a importação do
produto norte-americano não era comercialmente viável e as pesquisas com a pele
da tilápia preencheram essa lacuna.
O material mostrou-se adequado por ter grande
conteúdo de colágeno tipo I. Ao interagir com feridas ou queimaduras, essa
proteína promove a aceleração da cicatrização e da reparação da matriz dérmica.
O produto evita perda de líquido, promove uma barreira à invasão bacteriana e
alivia a dor do paciente.
Atualmente, 337 pesquisadores estudam o
desenvolvimento de novos produtos com a pele da tilápia. Eles estão espalhados
por nove países, como Colômbia, Argentina, Guatemala, Estados Unidos, Alemanha
e Holanda.
Além de Edmar Maciel, que coordena 100 projetos
de pesquisa sobre o produto, também são inventores a professora Maria Elisabete
Amaral de Moraes, o professor Carlos Roberto Koscky Paier e o professor Felipe
Augusto Rocha Rodrigues, atualmente no Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia do Ceará (IFCE).
Segundo informações da UFC, também foram
desenvolvidos, além da pele liofilizada, a pele no glicerol, a matriz acelular
e o colágeno purificado de pele de tilápia. Os estudos com esses produtos
geraram, até o momento, 41 publicações em revistas científicas nacionais e
internacionais, além de 25 premiações, todas em primeiro lugar.
Ao todo, a UFC depositou quatro patentes com
produtos desenvolvidos a partir da pele da tilápia que já foram utilizados em
missões médicas em diversos locais do mundo. Para além do reconhecimento médico
e científico, a invenção já foi mencionada em produções audiovisuais como
Grey’s Anatomy, The Good Doctor, Vampiros, The Resident e One Piece.
Fonte: Redação - DN
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