"Os sinais e sintomas de intoxicação são múltiplos, como por exemplo alterações cardiovasculares"
Mais um caso de envenenamento
chocou o Brasil neste início de ano. Oito pessoas passaram mal em Parnaíba, no
Piauí, após consumirem um prato de baião de dois na ceia de Ano Novo. Quatro
faleceram, três receberam alta hospitalar e uma pessoa segue internada. O
padrasto das vítimas, Francisco de Assis Pereira da Costa, foi preso sob
suspeita de envolvimento no crime. O caso também levou à reabertura de
investigações sobre mortes anteriores na família, inicialmente atribuídas a uma
vizinha, que estava presa há cinco meses.
O caso aconteceu em Parnaíba, no dia 1º de
janeiro de 2025, após as vítimas consumirem um baião de dois contaminado com
terbufós, conhecido como chumbinho, proibido para uso doméstico. A perícia identificou a presença da
substância no alimento, um pesticida altamente tóxico utilizado em lavouras
como a do café, cuja venda e uso doméstico são proibidos no Brasil. Seguindo as
evidências, o padrasto das vítimas é o principal suspeito.
De acordo com a especialista
em medicina legal e perícia médica, Dra. Caroline Daitx, o terbufós, é um
composto organofosforado com ação altamente tóxica. “Essa substância pode ser
absorvida pela pele, inalada ou ingerida, sendo metabolizada principalmente no
fígado. Sua toxicidade ocorre devido à inibição irreversível da enzima
acetilcolinesterase, que resulta no acúmulo de acetilcolina. Esse acúmulo leva
à estimulação constante dos receptores colinérgicos, causando sintomas graves e
potencialmente fatais”, explicou.
“Os sinais e sintomas de
intoxicação são múltiplos, como alterações cardiovasculares (disritmias,
bradicardia, hipo ou hipertensão), broncoespasmo, dispneia, sudorese e
salivação excessivas, diarreia, vômitos, espasmos musculares, cefaleia,
convulsões, coma e até mesmo óbito, afirma a médica.
A respeito do tratamento Daitx
explica que “o tratamento é específico e inclui o uso de Pralidoxima, que
reativa a enzima colinesterase, e Atropina, que antagoniza os efeitos da
acetilcolina. A eficiência do tratamento depende de um diagnóstico rápido e
intervenções precoces”, ressaltou.
As autoridades continuam
apurando os detalhes e motivações por trás do envenenamento. O caso também
trouxe uma reviravolta, com novas evidências que podem inocentar a vizinha
Lucélia Maria Gonçalves, acusada pelas mortes de dois irmãos, de 7 e 8 anos, em
agosto do ano passado, após comerem cajus supostamente envenenados.
Fonte: Caroline Daitx: médica
especialista em medicina legal e perícia médica. Possui residência em Medicina
Legal e Perícia Médica pela Universidade de São Paulo (USP). Atuou como médica
concursada na polícia científica do Paraná e foi diretora científica da
Associação dos Médicos Legistas do Paraná. Pós-graduada em gestão da qualidade
e segurança do paciente. Atua como médica perita particular e promove cursos
para médicos sobre medicina legal e perícia médica.
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