Grão moído teve alta de cerca de 33% no acumulado dos 12 meses até novembro, segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Seca e altas temperaturas foram as principais causas das perdas na lavoura.
A seca e as altas temperaturas
prejudicaram a produção de café e estão deixando a bebida cada vez mais cara. O
grão moído teve uma alta de quase 33% no acumulado dos 12 meses até novembro,
segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgado nesta
terça-feira (10).
Nos supermercados, o pacote de
1 kg está sendo comercializado, em média, a R$ 48,57, segundo a Associação
Brasileira da Indústria de Café (Abic). Em janeiro, o valor era de R$ 35,09.
‘De acordo com os especialistas do setor, os preços
devem se manter elevados, pelo menos, até 2026, uma vez que as lavouras podem
demorar para se recuperar. ’
Confira abaixo alguns fatores que prejudicaram a
produção e elevaram os preços do café, segundo os entrevistados pelo g1.
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Calor
e seca: o
clima gerou um estresse na planta, que, para sobreviver, teve que abortar os
frutos, ou seja, impedir o seu desenvolvimento.
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Incerteza
do futuro: 2024 não
foi o único período em que o café sofreu com intempéries climáticas.
Problemas, como geadas e ondas de calor, vêm acontecendo há 4
anos. A possibilidade de que as próximas safras também sejam ruins influencia o
encarecimento.
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Aumento
do consumo: o café é
a segunda bebida mais consumida no Brasil e no mundo, atrás apenas da água.
Mesmo com os preços elevados, a tendência é que a demanda continue subindo.
Além disso, o Brasil tem aberto espaço em novos mercados internacionais, o que
influencia na oferta da bebida internamente.
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Maior
custo de logística: as
guerras no Oriente Médio encareceram o embarque do café nas
vendas internacionais, elevando também o preço dos contêineres, principal meio
para a exportação.
Calor e
seca
O primeiro semestre de 2024 teve períodos longos de altas
temperaturas e secas nas regiões produtoras, como Minas Gerais e São Paulo. O
clima acabou debilitando o pé de café. Para
sobreviver e economizar energia, a planta precisou perder muitas folhas,
explica Cesar Castro Alves, consultor de café no Itaú BBA.
Apesar de ter
chovido durante a florada, período fundamental para o desenvolvimento do grão,
as árvores ainda precisaram abortar os frutos.
"Era para
estar uma condição muito mais saudável, para que a planta tivesse uma boa
produção. Provavelmente, as plantas vão gastar energia, agora, fazendo folha,
formando galhos, sendo que era o momento de ela cuidar dos grãos", diz
Renato Garcia Ribeiro, pesquisador especializado em café do Centro de Estudos
Avançados em Economia Aplicada (Cepea).
Atualmente, o grão está sendo
formado no pé, para a colheita em 2025.
Segundo Alves, consultor do
Itaú, mesmo as áreas irrigadas foram prejudicadas.
"Os produtores estão até
'esqueletando' as lavouras, fazendo podas drásticas. Ele conclui que não vale a
pena colher 10 sacas; não compensa. Então, ele anula essa produção do ano que
vem e não tem o gasto com colheita", diz.
A técnica de 'esqueletar'
permite que a planta se recupere para que tenha uma melhor safra no ano
seguinte.
A falta de água é considerada
o pior dano para a lavoura, segundo Celírio Inácio da Silva, diretor executivo
da Abic.
"Quando acontece uma
geada, ela não deixa tantos estragos para as próximas safras. Já a seca,
sim", afirma.
A safra de 2024 deve atingir
54,8 milhões de sacas, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). O
dado representa 0,5% a menos na comparação com o ano anterior.
O plantio do café funciona em
um sistema de bienalidade, ou seja, em um ano há uma produção maior e, no
outro, menor. Mas, nos últimos 4 anos, essa regra foi quebrada e as safras são
sempre menores, devido aos problemas climáticos, explica Silva.
No período, além das secas e
do calor, o café também sofreu com as geadas.
Com produções menores e uma
demanda que tem aumentado cada vez mais, os produtores têm dúvidas sobre o que
vai acontecer no ano seguinte, segundo ele. "A gente tem que lembrar que o
café é uma cultura que é colhida uma vez por ano", diz o diretor da Abic.
"Essa insegurança fez com
que os preços disparassem", completa.
O preço do fruto cru, para a
industrialização, também tem batido recordes, alcançando valores que não eram
atingidos desde 1977.
"Isso está assustando,
porque é um aumento bastante significativo. A gente falava em janeiro em termos
de R$ 700, R$ 750 a saca. Hoje, está entre R$ 2.100 e R$ 2.200",
exemplifica Silva, da Abic.
Em 11 de dezembro, a saca de
60 kg de café fechou a R$ 2.561,78 na bolsa de Nova York.
Aumento do consumo
Mesmo com o encarecimento, o
consumo do café tem aumentado cada vez mais, com novas receitas usando o grão.
Entre janeiro e outubro de 2024, o consumo cresceu 0,78%, apontam dados da
Abic.
Silva, diretor da associação,
explica que o consumidor de café é resiliente e, tradicionalmente, tem um
pequeno estoque de pacotes de 1 kg em casa. Assim, quando o preço é alterado,
ele consegue segurar a compra para um momento de maior estabilidade.
"Então, existe uma menor
compra do café, mas não significa que está havendo um menor consumo",
afirma.
Já no exterior, o Brasil tem
cada vez mais explorado novos clientes. A China, por exemplo, tem elevado as
compras em uma taxa anual de cerca de 17%, segundo a instituição.
"Uma parte grande do
consumo no mundo são em países ricos desenvolvidos, que são muito menos
sensíveis a altas de preços", afirma Alves, consultor do Itaú BBA.
"Uma outra parte do
crescimento do consumo tem ocorrido na Ásia, que são países que estão
conhecendo agora o café. Então, não daria para dizer que o consumo vai cair e
isso vai fazer o preço se ajustar", completa.
Substituindo o Vietnã
O Vietnã, que é o maior
produtor mundial do café robusta, também tem enfrentado prejuízos por causa do
clima, afirma o consultor do Itaú BBA.
Deste modo, não apenas o grão
do tipo arábica disparou, mas o robusta também tem batido recordes. Em
setembro, pela primeira vez em 7 anos, o robusta teve o preço mais elevado do
que o arábica.
O arábica é a variedade mais
produzida no Brasil, bem como a mais consumida. Ela é mais valorizada pelo seu
sabor, mas também é mais sensível ao clima.
Geralmente, o café moído
tradicional encontrado nos supermercados é feito a partir de misturas dos dois
tipos de grão: o robusta e o arábica, explica Renato Garcia Ribeiro, do Cepea.
Como a produção robusta
brasileira é de cerca de apenas 20% de toda a área plantada, a safra costuma
suprir apenas o mercado interno. No entanto, os problemas no Vietnã abriram
novos mercados para o grão, e o Brasil passou a exportá-lo em maior volume.
Maior custo de logística
As guerras no Oriente Médio
dificultaram a exportação de diversos alimentos pelo globo.
A comercialização do café da
Ásia para a Europa, por exemplo, passa pelo canal de Suez, que chegou a sofrer
ataques de rebeldes, incluindo até mesmo sequestro de navios. Isso obrigou os
exportadores a usarem novas rotas, que aumentam em até 20 dias o trajeto, diz
Alves, do Itaú BBA.
Este maior período de trajeto
congestionou o aluguel de contêineres, que também tiveram seus preços elevados.
Os contêineres são o principal meio para transportar café.
No Brasil, há ainda uma
deficiência nos portos, que não comportam navios maiores, e isso torna mais
lenta a exportação, afirma Silva.
Preço alto até 2026
Para os especialistas
entrevistados, os valores devem se manter altos até 2026.
"Não tem condição de
nascer uma nova safra de café. O ano que vem ele não existe mais. A gente
imagina que a safra vai ser menor, apesar de o conilon não ter problemas para
crescer. Mas o arábica vai cair muito", afirma Alves.
O café conilon, produzido no
Brasil e semelhante ao robusta, é mais resistente que o arábica em altas
temperaturas.
Mas, para 2026, como as
plantas estarão cheias de folhas, elas terão mais possibilidades de ter uma boa
florada e render frutos. Contudo, isso depende das condições climáticas de
2025.
Silva, da Abic, acredita que é
cedo para saber como será a safra de 2025. "Se houver chuva em janeiro,
fevereiro, e um pouco de março, então a expectativa vai ser boa. Se não houver,
a expectativa é mais estressante", afirma.
"O mercado está em alta,
não tem nenhum indício de queda e não há nenhum fundamento para a queda de
preço. Então, vamos iniciar 2025 com continuidade do aumento do café",
completa.
Fonte: G1
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