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Falta 1 ano para a Nasa (Agência Espacial
dos Estados Unidos) voltar a enviar humanos à Lua depois de 53 anos. Prevista
para setembro de 2025, a missão Artemis
2 marcará a volta dos Estados Unidos a corrida espacial focada no
satélite natural, mas de uma maneira diferente das missões que eram realizadas
durante a Guerra Fria (1947-1991).
A missão levará 4 astronautas
além da Lua para testar a nave que será usada para o pouso em 2026. Se bem
sucedida, a Artemis 2 levará a humanidada para o ponto mais distante da Terra.
Especialistas entrevistados
pelo Poder360 avaliam que o programa
Artemis tem um objetivo mais científico do que de propaganda, ao
contrário do programa Apollo (1961-1972).
“Claro que isso tem sempre
aquele valor em termos políticos, [como] qual será o 1º país que
estabelecerá uma presença permanente fora da Terra. Sem sombra de dúvida, isso
tem o seu valor político, mas acredito que o ganho científico é muito maior”,
afirmou Rodrigo Picanço Negreiros, professor de astrofísica na UFF
(Universidade Federal Fluminense).
O programa Artemis foi
anunciado pela Nasa em 24 de maio de 2019. Ele é dividido, inicialmente,
em 5 missões numeradas. Visa a estabelecer uma base na Lua e, com isso,
assegurar a presença humana de forma sustentável no satélite natural. A Artemis
2 também levará a 1ª mulher e o 1º homem negro a sobrevoarem a Lua e
possibilitará futuras missões a Marte.
A Artemis 1 foi lançada em 16
de novembro de 2022 e concluída em 11 de dezembro de 2022.
Sem tripulação, essa 1ª fase
testou o SLS (Sistema de Lançamento Espacial, em português). De acordo com a
Nasa, é o foguete mais poderoso já lançado pela agência. O voo também foi uma
prévia da espaçonave Orion, que ser;a responsável por transportar os astronautas
na Artemis 2. Na ocasião, foram coletados dados sobre o desempenho dos sistemas
de ambos equipamentos.
A Artemis 2 estava
inicialmente programa para novembro de 2024, mas a Nasa adiou a missão para
setembro de 2025. “Garantir a segurança da tripulação é o principal
motivador para as mudanças no cronograma”, disse a agência em comunicado. A Artemis 3, que prevê o 1º pouso na Lua desde
1972, também foi alterado: em vez de 2025, será em 2026.
Para Salvador Nogueira,
jornalista de ciência especializado em astronomia e espaço, existe a
possibilidade de a Nasa fazer uma nova alteração no cronograma da Artemis 2. Um
dos motivos seria por problemas no escudo térmico da Orion, que ajuda a
espaçonave a resistir às temperaturas extremas durante a reentrada na atmosfera
terrestre.
Segundo o especialista, a Nasa
detectou, depois da Artemis 1, que o escudo térmico teve um maior desgaste do
que a agência espacial esperava.
“Partes do material se soltou,
formando fissuras que não foram suficientes para abalar a segurança da
espaçonave, mas, como eles não entendem completamente o processo que levou a
essa erosão, eles estão estudando de uma forma frenética para entender isso
melhor. Há uma possibilidade de eles considerarem redesenhar o escudo térmico”,
explicou.
Salvador, no entanto, pondera
que a maioria dos especialistas acredita que o lançamento em setembro de 2025
será cumprido. O professor da UFF (Universidade Federal Fluminense) Rodrigo
Picanço Negreiros faz parte do grupo. “Acho que tudo indica que vai ser de
fato seguido. Quando eu não sei, mas acredito que até setembro de 2025”, disse.
ARTEMIS 2
O percurso que a missão fará é
semelhante ao realizado pela Apollo 8 em 1968. Durará 10 dias, não entrará na
órbita da Lua nem pousará. A ideia é realizar um sobrevoo ao redor do satélite
natural.
A cápsula Orion, com 4
astronautas a bordo, será lançada ao espaço do Centro Espacial Kennedy, na
Flórida (EUA), pelo foguete SLS. Ao alcançar a órbita da Terra, o foguete se
separará e retornará ao planeta enquanto a cápsula Orion seguirá com a missão. Os
seguintes procedimentos serão realizados:
a Orion fará duas voltas na
órbita da Terra para praticar operações a fim de testar o sistema da
cápsula;
depois de completada a 2ª
volta, a Orion realizará uma injeção translunar em direção à Lua;
passará pelo satélite natural
e se distanciará dele em mais de 10.000 km, uma distância ainda não alcançada
pelo ser humano;
será puxada pela gravidade da
Lua e iniciará sua jornada para a Terra. Ao entrar no planeta, pousará no
Oceano Pacífico.
“Você pode pensar como se o
percurso fosse uma espécie de um 8. Ela vai até a Lua, contorna a Lua por trás
e volta na direção da Terra. É o que eles chamam de uma trajetória de retorno
livre”, explica Salvador.
A trajetória de retorno livre
permitirá que a Orion retorne ao planeta sem gastar combustível. “Por que
essa trajetória? Para você não ter nenhum perigo de ter algum problema com o
sistema de propulsão da cápsula e não consegui voltar. Eles fazem essa
trajetória para ter a volta assegurada não importa o que aconteça. É como você
jogar uma pedra para cima e ela cairá de volta. Não tem como evitar”,
disse.
Salvador descreve a Artemis 2
como uma missão mais simples que a Apollo 8. Segundo o especialista, a
principal diferença entre as duas é que a Artemis 2 não entrará na órbita da
Lua, como se deu com a Apollo 8. A missão realizada durante a Guerra Fria teve
que acionar os propulsores na cápsula usada na época para retornar à
Terra.
“A missão Apollo 8 foi mais
arriscada. Eles fizeram o 1º teste dos propulsores com astronautas a bordo,
tendo que ativá-los para frear e ser capturado pela Lua e depois para acelerar
e sair da órbita lunar”, afirmou.
Os 3 primeiros são astronautas
da Nasa. Hansen é integrante da Agência Espacial Canadense. Será a 1ª viagem à Lua composta
por uma mulher e um homem negro.
O RETORNO À LUA
Durante a Guerra Fria, os
Estados Unidos e a União Soviética travaram um confronto ideológico, político,
econômico e militar. A corrida espacial foi uma das maneiras que as
superpotências da época demonstraram seus respectivos poderes tecnológicos. A
busca pelo espaço também foi objeto de propaganda para promover seus ideais
ideológicos e propagar o prestígio internacional.
A União Soviética saiu na
frente. Lançou o 1º satélite artificial (o Sputnik), o 1º animal (a cadela
Laika) e o 1º homem (Iuri Gagarin) ao espaço.
Em maio de 1961, durante um
discurso considerado histórico no Congresso, o então presidente
norte-americano, John F. Kennedy (Democrata), desafiou a nação a colocar um
homem na Lua até o final da década de 1960.
A Nasa, então, desenvolveu o
programa Apollo. O nome é em homenagem ao deus grego Apollo, ligado ao Sol, à
música, à poesia, à beleza, à ordem e à razão. A escolha do nome da divindade
para o programa teve o objetivo de refletir a ambição de alcançar um feito
grandioso e iluminar o caminho para futuras explorações espaciais.
O projeto foi realizado de
1961 a 1972, totalizando 17 missões em direção à Lua. A Apollo 1 foi a única a
causar a morte de astronautas. O incidente se deu por um incêndio na espaçonave
durante uma simulação em solo.
A Apollo 13 teve um grave
problema técnico por causa de uma explosão no módulo de serviço durante a ida à
Lua. Apesar disso, os astronautas conseguiram retornar à Terra em segurança. A
missão ficou famosa pela frase “Houston, we have a problem” (“Houston,
temos um problema”, em português).
A Apollo 11 foi a mais
emblemática. Lançada em 16 de julho de 1969, marcou a 1ª vez que o homem pisou
na Lua. “Este é um pequeno passo para o homem, um salto gigante para a
humanidade”, disse Neil Armstrong, comandantes da missão, ao pisar no solo
lunar.
A Apollo 17, lançada em
dezembro de 1972, foi a última viagem tripulada do programa à Lua e a última
lançada por qualquer país além da órbita terrestre. O projeto custou mais
de US$ 25 bilhões (cerca de US$ 177 bilhões em valores corrigidos pela inflação).
Na época, os recursos do
governo norte-americano destinados ao programa eram altos e mais fáceis de
serem aprovados por causa da disputa com a União Soviética. Com o fim da Guerra
Fria, “ficou cada vez mais difícil justificar a quantidade de recursos
financeiros necessários para um programa especial”, avalia o professor de
astrofísica na UFF Rodrigo Picanço Negreiros.
Salvador Nogueira analisa que
as missões à Lua perderam relevância para o governo dos Estados Unidos. Ele
descreve o processo como uma “ressaca lunar”.
“Os norte-americanos fizeram
as missões lunares, os russos se contentaram com missões robóticas, colheram
umas amostras, viram que a Lua parecia totalmente desprovida de água, que é a
commoditie mais valiosa no espaço. Existia uma sensação de que o que tinha para
fazer na Lua já tinha sido feito”, disse.
As coisas começaram a mudar
quando observações telescópicas, dados coletados por sondas espaciais,
reanálises de amostras lunares adquiridas no programa Apollo e pesquisas
científicas detectaram a presença de moléculas de água no satélite natural,
principalmente em crateras onde a luz do Sol não chega, como no polo sul da
Lua.
Nogueira explica que, depois
do acidente do ônibus espacial Columbia em 2003, que causou a desintegração do
equipamento e a morte de 7 astronautas, a Nasa teve que repensar todo seu
programa espacial. “Eles [então] restabelecem esse objetivo de
voltar a Lua”, afirmou.
O programa Artemis teve o nome
escolhido com objetivo de estabelecer uma conexão simbólica com o projeto
Apollo, ao mesmo tempo que representa um novo capítulo da exploração lunar e
marca a inclusão de mulheres na iniciativa espacial.
Artemis é uma deusa grega
ligada à vida selvagem e à caça. Também é associada à Lua, embora Selene seja a
divindade da mitologia grega que representa o satélite natural. Artemis é irmã
gêmea de Apollo, o deus do Sol.
RECURSOS
A Nasa busca retomar suas
explorações lunares com um orçamento muito menor do que na Guerra Fria. A
agência espacial conta com uma parceria com outros países, incluindo o Brasil,
e empresas privadas para o desenvolvimento de tecnologias. Algumas da principais
companhias envolvidas no programa são:
SpaceX: a empresa de Elon
Musk será responsável pela construção Starship
HSL, que pousará na Lua na missão Artemis 3;
Blue Origin: a empresa de
Jeff Bezos trabalha no desenvolvimento de um módulo de pouso
lunar tripulado, que deve ser usado na Artemis 5;
Dynetics: a empresa
norte-americana desenvolve outro módulo de pouso lunar tripulado.
Para Salvador Nogueira, a
participação do setor privado resulta em uma redução nos custos de programas
espaciais. Também impulsiona a inovação tecnológica e a competição entre as
empresas privadas para desenvolver soluções mais eficientes e econômicas.
Rodrigo Picanço Negreiros
avalia ainda que o envolvimento de empresas privadas incentivam o investimento
do governo dos EUA pelo simbolismo de ser o 1º país a estabelecer uma soberania
no espaço.
“Muitas empresas privadas, que
não representam nenhum país apesar de a maioria ser norte-americana, estão
fazendo parte dessa corrente espacial. Acredito que a Nasa e o governo
norte-americano não querem ficar para trás”, disse o professor da UFF.
A Nasa também promove a
cooperação com outros países no programa por meio do Acordo Artemis.
Atualmente, 42 países, além dos EUA, assinaram a iniciativa. O Brasil foi o 1º
país da América Latina e o 12º no mundo a entrar para a lista de parceiros do programa.
A participação brasileira se
dará pelo projeto SelenITA, desenvolvido pelo ITA (Instituto Tecnológico
de Aeronáutica) em parceria com a agência espacial norte-americana.
A iniciativa foi apresentada
pelo engenheiro do instituto e coordenador do projeto no país, Luis Loures, em
2021 e oficializada em 21 de julho de 2024. No projeto, a sede do ITA em São
José dos Campos (SP) será responsável pela construção de um cubesat –um
satélite cúbico– com formato 12U, ou seja, 12 cubos de 10 centímetros de
aresta.
O projeto, com um custo
estimado em R$ 39 milhões, tem o apoio da AEB (Agência
Espacial Brasileira) e da Finep (Financiadora de Estudos e Projetos). O
equipamento deve contar com instrumentos fornecidos pelas universidades de Iowa
e de Michigan, nos EUA, além do Centro Marshall de Voo Espacial da Nasa. A
previsão é que ele fique pronto em 2028.
Fonte: Poder 360
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