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Foto: Reprodução |
Quando nasce uma cidade?
Quando comemorar o aniversário dela? Em Fortaleza, responder
a estas duas perguntas não tem sido fácil. A data celebrada oficialmente é o 13
de abril, em alusão ao dia em que o povoado foi elevado a vila em 1726. Mas nem
esse processo administrativo foi tranquilo.
O passado colonial foi de
confusões entre comerciantes e militares para decidir o local da vila. Nos
últimos séculos, reinou a falta de consenso entre historiadores. Isso porque
eles apontam pelo menos dois marcos que fazem com que a cidade seja mais
velha. Em vez de 298 anos, completados neste sábado (13), a capital
poderia ter 375 anos ou até mesmo 420 anos.
25 de julho de 1604: construção
do Forte de Santiago (também citado na historiografia local como Forte de São
Tiago), nas margens do rio Ceará
10 de abril de 1649: construção
do Forte Schoonenborch, na foz do riacho Pajeú
13 de abril de 1726: criação
da vila no núcleo formado em torno do Forte Schoonenborch
Na data em que Fortaleza faz aniversário no calendário municipal, o g1 relembra outros episódios que podem demarcar a origem da cidade. Os personagens dessa história estavam entre os povos originários do Brasil e os estrangeiros de Portugal, da Espanha e da Holanda.
Fortaleza poderia estar em um
time seleto de cidades brasileiras que têm mais de 400 anos, pontua o
historiador Adauto Leitão de Araújo Jr., que estuda elementos que apontam para
o nascimento de Fortaleza a partir da chegada dos portugueses pela Barra do
Ceará, bairro da capital.
Foi em 1603 que a expedição do
açoriano Pero Coelho começou a se estabelecer às margens do rio Ceará. A
incursão pela capitania foi autorizada pelo rei espanhol Felipe II, que também
governava Portugal no período da União Ibérica (1580-1640).
A ideia era lançar as bases
para a ocupação em um território que não havia despertado o interesse dos
europeus, mesmo um século depois da chegada de Pedro Álvares Cabral ao Brasil.
A historiografia aponta alguns fatores que deixaram a capitania do Siará Grande em segundo plano no início da colonização do Brasil: falta de atrativos econômicos, forte resistência dos povos indígenas e condições geográficas adversas, como as secas.
Conforme Adauto Leitão, a
escolha do estuário do rio como o melhor trecho para atracar a expedição de
Pero Coelho levou em conta os registros do espanhol Vicente Pinzón. O
explorador já havia descrito a costa do Mucuripe até o rio Ceará em fevereiro
de 1500 — antes da expedição de Cabral.
O historiador defende que o
aniversário de Fortaleza é 25 de julho de 1604, data em que o Forte de Santiago
foi erguido. Assim, ele considera que a Barra do Ceará é o marco zero da
cidade. E ressalta: isso não quer dizer que os povos indígenas não existiam ali
antes disso.
Foi nas ruínas do primeiro forte, destruído pela resistência dos povos originários, que o forte de São Sebastião foi erguido na Barra. Quem liderou este segundo momento de expedição colonizadora foi o português Martim Soares Moreno. Ele já havia acompanhado a vinda de Pero Coelho e retornou em 1612.
Conforme Adauto, os diários e
as cartas do primeiro capitão-mor do Ceará mostram que ele teve uma convivência
harmoniosa com os indígenas nos períodos em que esteve na capitania.
Ainda segundo o pesquisador,
Moreno também trouxe de Pernambuco um grupo de pessoas negras, principalmente
homens adolescentes e mulheres sem estarem na condição de escravos, para fins
de povoamento.
O historiador destaca também a relevância que a região continuou tendo depois das primeiras expedições. Um destes elementos foi a instalação da primeira câmara dos vereadores do Ceará na região, em 1701.
Para ele, o bairro continua
seguindo o espírito de resistência às tentativas de apagamento de sua história,
celebrando o aniversário da cidade no mês de julho.
Além de local para demarcar o
Marco Zero, a Barra do Ceará conta com lugares que fazem referências ao nome do
primeiro forte, como a Praça de Santiago e o Cruzeiro de Santiago, monumento
doado pelo governo espanhol.
Fonte: G1
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