Foto: Reprodução |
De
origem europeia, o morango é uma fruta apreciada em todo o mundo e ganhou a
mesa do cearense. Geralmente cultivada em regiões mais frias, o avanço
tecnológico permitiu que a fruta tivesse condições de produzida no Estado,
onde, historicamente, uma planta precisa suportar climas nada amenos (exceto
nas serras) para sobreviver.
Poderíamos
dizer que o nome “morango” hoje tem mais a ver com o Ceará e com o Nordeste,
como provam dois elementos: a música “Moranguinho do Nordeste”, de composição
pernambucana de 1987, e uma empresa que tem tudo de cearense: um supermercado
que nasceu do trabalho de um camelô, passou por bodega, mercantil e hoje está
entre os 300 maiores varejistas do País, em uma lista
que conta também com os conterrâneos Pague Menos, Coco Bambu e Mercadinhos São
Luiz.
No ranking dos 300 maiores varejistas do Brasil, da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC), o Supermercados Moranguinho aparece na 295ª posição com faturamento de R$ 408 milhões no ano passado.Assim como as grandes redes supermercadistas do Estado, o Moranguinho incorporou as transformações digitais que atravessaram o varejo - inclusive antes mesmo da pandemia, a exemplo do aplicativo de compras online.
Mas o que é difícil de se ver
atualmente é uma empresa que consegue sobreviver e ainda crescer mantendo
tradições tão antigas - e fortemente presentes no imaginário alencarino,
principalmente no Interior. No Moranguinho, ainda há quem compre fiado, conforme
contou, com orgulho, a esta coluna, o presidente da empresa, José Albecir da
Silva.
Digo orgulho porque há muito por trás dessa postura e isso é possível entender ao longo de algumas horas de conversa. Albecir conta que essas pessoas que ainda compram fiado na loja de Pacajus foram “os clientes que o trouxeram até onde ele está”. “O pessoal se 'extrema', diz que não pode mais vender assim e eu digo que pode, que para tudo tem um jeito. Eles compram fiado e eu pago, porque hoje tem o sistema, depois eles me pagam”.“Como eu vou deixar de vender a quem, quando eu tinha um botequim, ia lá e fazia uma feirinha boa só para me ajudar? Aí hoje, que eu estou com o supermercado, vou deixar de vender a essa pessoa?”, questiona Albecir.
O “caderninho do fiado” não é
a única curiosidade tradicional acerca do Moranguinho. O supermercado também
dispõe de um ônibus para que os moradores de áreas mais afastadas possam fazer
suas compras. E disponibiliza outro veículo para levar as compras desses
moradores. “Às vezes me perguntam se compensa, mas eu continuo mandando. Isso
tem uma gratidão lá de trás. Essas pessoas compram minha mercadoria hoje, mas
eles também compraram quando eu era pequeno”.
Camelô,
bodega, mercantil e supermercado
O
supermercado, hoje com unidades presentes em Horizonte, Pacajus, Barreira,
Pindoretama, Beberibe e Cascavel, e atuação no varejo e no atacarejo (sob a
bandeira Jangada) nasceu (com o nome Moranguinho) oficialmente em 2002, mas a
gratidão da qual Albecir fala vem de muito antes: década de 1980, quando ele
era camelô e recebia o carinho de quem lhe comprava cheiro-verde, manga e
outros produtos que vendia.
Posteriormente, experimentou a gratidão mais uma vez quando, depois de ganhar experiência na bodega do avô, na adolescência, e de abrir um pequeno mercantil com o tio, resolveu colocar o próprio negócio. Sem dinheiro suficiente para tocar a empreitada, contou com a ajuda e a confiança de alguns amigos e clientes pelo caminho para conseguir prosperar.“Eu apartei com (o negócio do) meu tio em 1991. Aí eu digo: ter conhecimento e relacionamento é fundamental na vida de um ser humano. O dono do depósito de frente a esse mercantil que eu tinha com meu tio chegou e disse: eu estou sabendo da situação, mas eu aluguei um ponto ali para você”, lembra Albecir.
De
São Francisco a Moranguinho
Na época, o negócio se chamava Mercantil São Francisco. Pode ser óbvio pensar que o nome “Moranguinho” teria alguma relação com a música “Moranguinho do Nordeste”, mas não. Albecir conta que, um dia, reunido com família e amigos, um deles tentou falar a palavra “morango” e saiu “morongo”.A situação se tornou uma brincadeira entre eles, até que Albecir viu que da brincadeira sairia o novo nome do negócio: Supermercado Moranguinho.
“Em
um domingo, a família estava em um sítio. Numa brincadeira, um amigo tinha
trazido uns morangos e ele não sabia chamar, chamava de ‘morongo’. Aí eu disse:
rapaz, sabe que eu devia botar (o nome do supermercado) morango, mesmo? Vou
colocar mercantil Moranguinho. Aí tem um cara que pinta fachada aqui e eu pedi
a ele para pintar 10h da noite, para amanhecer já como Moranguinho”.
O
marketing a partir do impacto e de um nome ‘estranho’
Ele lembra que as pessoas passavam em frente ao supermercado e estranhavam o nome, que havia mudado de São Francisco para Moranguinho. “As pessoas falavam, achavam o negócio esquisito a gente mudar de São Francisco para Moranguinho. Aí de as pessoas falarem que era estranho, foi pegando e pegou”, conta Albecir.Entre percalços, fechamentos e reaberturas, o Moranguinho hoje possui 15 lojas, 1.500 funcionários - fora prestadores e promotores - e inaugurou quatro unidades em 2023.
Questionado sobre as
perspectivas para novas aberturas em 2024, Albecir revela que ainda está
avaliando as possibilidades, mas afirma que Fortaleza, pelo menos por enquanto,
não está na rota de expansão do negócio. “Não adianta só abrir loja, tem que
reforçar, fazer os alicerces. Abrir e não olhar para trás é deixar o seu
negócio sucateado”, ensina.
Dentre as novidades para o ano que se aproxima, porém, está a transformação de uma das unidades de atacarejo em varejo. Se trata da loja Jangada de Horizonte, que vai passar a ser Moranguinho em 90 dias. A mudança, de acordo com Albecir, está ligada à filosofia do Moranguinho.“É que a gente tem muito forte essa atenção ao cliente. No atacarejo, eu não tenho condições de dar essa atenção maior para o meu consumidor, então fica um pouco vazio para mim”, pontua o empresário.
“No
meu presente, eu me espelho no meu passado. A gente teve erros, a gente não
teve só acertos. Tivemos altos e baixos, mas a minha vantagem sempre foi a
coragem de trabalhar e fazer por amor. Então, para mim, não existe dificuldade,
nem de noite, nem de dia. E nem ambição. Prazer pelo que eu faço. Se for pra eu
viver no meu supermercado sem andar no chão de loja, vendo meus clientes, para
mim não tem sentido”, arremata Albecir.
Fonte: Diário do Nordeste
0 Comentários