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Foto: Reprodução |
Segundo familiares, Kaianne
Bezerra já havia tentado a separação após conflitos por causa de dívidas do
marido. Uma das linhas de investigação é que ele tenha planejado o crime para
obter dinheiro do seguro.
A contratação do seguro de
vida de Kaianne Bezerra Lima Chaves foi feita um mês antes de ela
ser torturada e assassinada dentro de casa, em Aquiraz, na Região
Metropolitana de Fortaleza.
Uma das principais linhas de investigação da Polícia Civil é que o marido da
vítima, Leonardo Nascimento Chaves, tenha encomendado a morte para obter o
valor do seguro, de R$ 60 mil; R$ 30 mil pela morte e R$ 30 mil adicionais em
caso de morte violenta.
A participação de Leonardo no crime foi admitida pelos outros dois envolvidos depois que a investigação obteve imagens em vídeo que registravam o encontro dos três no estacionamento de um shopping, momentos antes do crime.
A investigação não foi
concluída, e outras hipóteses para a motivação do crime não foram totalmente
descartadas, disse ao Fantástico o
delegado Gustavo Pernambuco. Após reviravolta na investigação do caso, Leonardo
foi preso na última quarta-feira (6).
Brigas por dívidas
Familiares de Kaianne, que
tinha 35 anos, afirmam que a contadora já havia tentado se separar de
Leonardo após conflitos por causa dos gastos do marido.
Uma parente da vítima, que
preferiu não ser identificada, relatou que este seria o único atrito que chegou
ao conhecimento da família. Fora isso, o casal demonstrava viver em aparente
harmonia.
“O único conflito assim que,
anos atrás era até um motivo que a Kaiane queria se separar, era dívidas no
cartão dele. Porque, segundo ela, ele gastava com muitas coisas assim
supérfluas, besteiras, hobbies dele… Tipo colecionar carrinhos em miniatura,
jogos eletrônicos. Mas essa foi a briga mais pesada que a gente já teve
conhecimento, já teve acesso", detalhou a parente em entrevista.
A quase separação também foi
comentada por Luciano Moura Bezerra, tio de Kaianne. Ele detalha que a
contadora tentava controlar os gastos enquanto Leonardo cometia excessos. Ele
explica que a família não sabia que gastos eram esses ou a quem ele devia.
Comportamento do suspeito após
o crime
Após a morte de Kaianne,
familiares relatam que o suspeito participou do velório e do enterro e que
continuou em contato com a família da esposa, prometendo dormir na casa da
sogra e levando alguns dos pertences pessoais da vítima. Quando foi preso,
Leonardo foi capturado após sair da casa da sogra.
Em entrevista, uma das
familiares afirmou que, nos momentos iniciais do luto por Kaianne, Leonardo
seria a última pessoa de quem os parentes desconfiariam por conta de uma
convivência próxima e harmoniosa com ele.
"Assim que aconteceu o
crime também, ele foi na casa dos familiares se dizendo muito arrasado,
chorando, pedindo perdão por não ter conseguido proteger ela. Dizendo também
que foi agredido e mostrando os hematomas. Mas depois, ligando os pontos, a
gente percebeu que ele falava mais dele do que dela", relata a parente.
A mulher também conta que,
após as prisões dos dois homens envolvidos no crime, Leonardo não demonstrava
interesse em acompanhar o caso. Segundo ela, ele
pedia para que os familiares parassem de usar hashtags e marcar autoridades nas
redes sociais cobrando a solução do caso.
Os esforços de Leonardo em
chamar atenção para si e elementos estranhos na história que contava levantaram
as suspeitas do tio de Kaianne. Ele conta que não era próximo de Leonardo e que
ficou desconfiado em várias situações, chegando a ser repreendido pela esposa
por fazer muitas perguntas.
O tio foi à residência do
casal depois que o crime aconteceu. "E ele dizia: 'Olha, me torturaram.
Olha aqui, olha o meu pulso, (a marca) das amarras.' E realmente tava marcado.
Tinha uma marca roxa das amarras, só isso", conta Luciano.
Um dos motivos para que ele
desconfiasse foi quando Leonardo narrou ter ouvido a mulher dando as senhas de
dez cartões e depois afirmou que nenhum cartão havia sido levado. Outra
inconsistência foi o fato de o casal ter sido amarrado em cômodos diferentes da
casa.
"A gente sabe que colocam
é os dois juntos. E aí torturam um na frente do outro, que é pro outro ficar
com pena e entregar logo tudo. Se o problema era dinheiro, era assim que teria
que ser feito, pelo menos é o que a gente vê nos filmes", comentou
Luciano.
De acordo com o delegado
Gustavo Pernambuco, Leonardo fez questão de procurar a Delegacia Metropolitana
de Aquiraz para realizar o exame de corpo de delito. A motivação poderia ser
para deixar comprovado que ele também havia sido agredido na ação.
As investigações também
apuraram que Leonardo estava de passagens compradas para ir a Portugal. Ao ser
perguntado, ele teria explicado que havia feito um acordo com Kaianne para que,
caso um deles dois morresse, o sobrevivente jogaria as cinzas do outro em um
lugar de Portugal. Segundo o delegado, a viagem poderia ser uma tentativa de
fuga.
A morte de Kaianne Bezerra
começou a ser investigada como um latrocínio, nome usado para roubos seguidos
de homicídio.
Na madrugada do sábado, 26 de
agosto, dois homens invadiram a residência do casal, amarraram e agrediram os
dois. Kaianne foi atingida com um pedaço de madeira e não resistiu aos
ferimentos. Ela também levou socos em diversas partes do corpo e foi sufocada
com o uso de um travesseiro.
Três dias após o crime, a
Polícia Civil prendeu duas pessoas apontadas como executoras do latrocínio. O
motorista de aplicativo Adriano Andrade Ribeiro, de 39 anos, foi encontrado com
pertences da vítima em um imóvel do bairro Jardim das Oliveiras, em Fortaleza.
No mesmo dia, foi feita a apreensão do adolescente de 16 anos em uma residência
no bairro Tancredo Neves.
Segundo o delegado Gustavo
Pernambuco, diversos fatores levaram à reviravolta no caso, que passou a ter a
principal linha de investigação a hipótese de que Leonardo tenha sido o autor
intelectual de feminicídio com intenção de obter o dinheiro do seguro de vida.
Ao tentar reconstituir os
acontecimentos de antes do crime, os depoimentos dos dois envolvidos e de Leonardo
tinham divergências.
Houve desconfiança quanto à
facilidade que os dois homens tiveram para entrar na casa, além do excesso de
informações que eles tinham para realizar a ação.
Ter as duas vítimas amarradas
em cômodos diferentes demonstrou uma dinâmica diferente em relação aos casos de
latrocínio.
Como os executores usaram um
carro de aluguel com GPS, foi possível identificar que eles estiveram no
estacionamento de um shopping antes do crime. As imagens em vídeo revelaram o
encontro deles com Leonardo, que durou cerca de dez minutos.
"Ali a gente descobriu
que tudo o que estava sendo passado tratava-se de uma farsa, de um teatro que
provavelmente foi feito pelo marido da vítima", detalha o delegado. Ao
confrontar os dois homens detidos sobre o encontro com Leonardo, eles
confessaram o envolvimento do marido da vítima.
Outro detalhe apurado na
investigação foi que o que Leonardo teria prometido aos dois homens envolvidos.
No primeiro momento, eles poderiam levar qualquer objeto da residência.
Posteriormente, eles receberiam uma parte do seguro de vida de Kaianne.
Fonte: G1
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