A Polícia Federal concluiu, ontem, um inquérito instaurado sobre integrantes
do PMDB e considerou que há indícios de crimes cometidos pelo presidente Michel
Temer e outros membros do partido. Também foram implicados no relatório os
ministros Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secretaria-Geral da
Presidência) e os ex-deputados Eduardo Cunha, Geddel Vieira Lima e Henrique
Eduardo Alves -os três últimos estão presos em decorrência de diferentes investigações
da PF. O alvo do inquérito são políticos do PMDB da Câmara dos Deputados.
Para a Polícia Federal, os integrantes da cúpula do partido se organizaram
com o objetivo de obter "vantagens indevidas" na administração
pública direta e indireta. Entre os crimes atribuídos ao grupo, estão corrupção
ativa, passiva, lavagem de dinheiro, fraude em licitação e evasão de divisas.
O relatório afirma que Temer tinha poder de comando no grupo e utilizou
terceiros para executar tarefas sob seu controle.
"Ao lado de Eduardo Cunha, os elementos analisados nos autos demonstram
que o presidente Michel Temer possui poder de decisão nas ações do grupo do
'PMDB da Câmara', tanto para indicações em cargos estratégicos quanto na
articulação com empresários beneficiados nos esquemas, para recebimento de
valores, sob justificativa de doações eleitorais", diz a PF.
'Divisão de tarefas'
O relatório afirmou que, como toda organização criminosa, há "divisão
de tarefas", e Temer tem em Padilha, Moreira Geddel prepostos, em situações
como a "captação de recursos da Odebrecht e OAS (concessão dos
aeroportos)". "De forma consistente, foi apontado como uma das
figuras centrais beneficiadas em pagamentos pelo grupo JBS, inclusive com
possível recebimento", afirma o relatório. A PGR (Procuradoria-Geral da
República) deve apresentar nova denúncia contra Temer ainda nesta semana, que é
a última de Rodrigo Janot à frente da instituição.
O inquérito, apelidado de "quadrilhão do PMDB", deve oferecer
subsídios para essa nova peça de acusação.
Ele teve origem em investigações da Operação Lava-Jato sobre supostas
irregularidades na Petrobras, mas apontou também influência do grupo sobre a
Caixa Econômica Federal.
Em julho passado, Janot pediu para ampliar o rol de investigados no caso e
citou suspeitas relacionadas a Temer. O ministro Edson Fachin, do STF,
respondeu, duas semanas depois, que a inclusão formal de investigados era
desnecessária.
O operador Lúcio Funaro, que se tornou delator, foi ouvido em junho e fez
acusações contra os peemedebistas. Disse, por exemplo, ter pago
"comissões", por empréstimos concedidos pela Caixa, a Geddel, que
ocupou uma vice-presidência do banco até 2013. Em junho, Temer foi denunciado
pela primeira vez por Janot, sob acusação de corrupção envolvendo a JBS, mas a
Câmara decidiu suspender o trâmite no dia 2 de agosto.
Na semana passada, a PGR denunciou cinco senadores do grupo conhecido como
PMDB do Senado.
Geddel
A PF relaciona, em relatório concluído ontem (11), o "bunker" do
ex-ministro Geddel Vieira Lima (PMDB) com a atuação do grupo do PMDB na Câmara.
Funaro havia afirmado em depoimento em junho que repassou R$ 20 milhões de
propina ao peemedebista em troca de aprovação de empréstimos na Caixa Econômica
Federal. A PF disse, então, que como os valores encontrados no
"bunker" superam a cifra citada por Funaro "faz inferir que o
saldo remanescente pode ter se originado de outros esquemas ilícitos destacados
ao longo do relatório, relacionados com a atuação do grupo do PMDB na
Câmara", diz trecho do documento.
"Inclusive envolvendo a ciência e participação do irmão de Geddel, o
deputado Lucio Vieira Lima", completa.
Após a divulgação sobre as conclusões do inquérito policial , a Presidência
da República divulgou um comunicado, dizendo que Michel Temer "não
participou e nem participa de nenhuma quadrilha".