Considerado o maior produtor de cinema do Brasil
na atualidade, e com uma carreira internacional que coleciona os mais
prestigiados prêmios, o carioca radicado em São Paulo Rodrigo Teixeira, 41,
conseguiu um feito. O filme Me chame pelo seu nome, do qual é um dos
produtores, foi indicado ao Oscar 2018 em quatro categorias, inclusive a
principal delas, Melhor Filme.
Fundador da RT Features, que tem no portfólio
títulos como Frances Ha e A Bruxa, Rodrigo colocou o Brasil na cara de um gol
inédito.
No próximo dia 4 de março, a cobiçada estatueta
dourada pode passar a ter residência brasileira pela primeira vez na história.
Em entrevista ao O POVO, ele fala sobre essa experiência e
próximos projetos. O POVO: Como o projeto de Me chame pelo seu
nome chegou até você?
Rodrigo
Teixeira: Na
verdade, eu estou para trabalhar com o Luca Guadagnino (diretor do filme) há
muito tempo. A gente conversou sobre fazer um outro projeto há uns seis anos,
que acabou não acontecendo, mas criou uma relação. E me ofereceram esse projeto
antes do Luca estar atachado como diretor. Aí eu falei para eles: “Eu gosto do
roteiro, tenho interesse de entrar, mas enquanto vocês não tiverem o nome do diretor
a gente não tem o que fazer”. Quando o Luca entrou, um mês depois eles me
procuraram e entrei no projeto.
Isso foi em 2015. OP: Me chame pelo seu nome
é um projeto multinacional. Como se deu o acompanhamento do filme?
Rodrigo: Todo o desenvolvimento a gente fazia em reuniões
semanais, via Skype e via conference call, porque eram quatro produtores em
países diferentes. Era um nos Estados Unidos, um na França, um no Brasil e um
na Itália, não tinha como estarmos juntos. Nos encontramos em Nova York, em
fevereiro de 2016. Fizemos uns cortes no roteiro, algumas coisas foram
alteradas, fechamos o elenco. O único ator que já tínhamos meio pré-definido,
que já tinha atachado ao projeto era o Timothée (Chalamet, que interpreta o
adolescente Elio), que era uma aposta. E quanto aos outros atores a gente foi
discutindo até chegar à conclusão de quem seriam. E aí, a gente aprovou o
orçamento, discutiu o contrato individual de todos os chefes de equipe, entrou
em pré-produção e começou a produzir em maio de 2016. OP: O que você
sentiu quando saíram as indicações para o Oscar?
Rodrigo: Cara, é uma emoção muito grande! Você trabalha a
vida inteira para isso. Eu trabalho com cinema... É óbvio que o ponto alto de
quem trabalha com cinema é ter um filme que é indicado ao Oscar! A minha
carreira está no começo, tenho muita coisa ainda para fazer, e espero ter
outras oportunidades como essa, mas chegar lá com Call me by your name foi
ótimo! Eu acho que o filme estar indicado entre os melhores filmes do ano, e
vários prêmios que a gente já recebeu o credenciam, está sendo um momento
maravilhoso.
Não poderia estar vivendo uma situação melhor. OP:
Algumas indicações do filme já eram esperadas. Houve alguma surpresa para
vocês?
Rodrigo: A gente já estava esperando. Desde a indicação
para o Globo de Ouro, a gente já esperava que o filme seria indicado. Mas,
obviamente é uma surpresa! Uma surpresa positiva, porque você já está sabendo,
mas até sair a indicação você fica na expectativa. Na verdade, eu achei que o
filme seria indicado para mais categorias. E não foi! OP: Quais as
categorias que você esperava uma indicação que não chegou?
Rodrigo: A gente tinha uma expectativa muito grande em
Ator Coadjuvante e em Diretor. E a gente não foi indicado nas duas categorias.
Então, tinha expectativa de mais indicações. Call me by your name acabou sendo
indicado a Filme, que eu acho que é uma grande vitória, e credencia o Luca; o
filme foi indicado a Roteiro Adaptado (do premiado norte-americano James
Ivory); a Canção Original (Mistery Of Love, de Sufjan Stevens), que eu acho uma
das músicas mais bonitas, sem dúvida nenhuma; e a atuação do Timothée Chalamet,
deslumbrante! Eu acho que ele deveria ter sido indicado sim, se ele não fosse
indicado seria uma tragédia. OP: Curiosamente, Me chame pelo seu nome
também é uma adaptação literária, que é um gênero que vem marcando sua
trajetória como produtor cinematográfico. Como é essa relação que você tem com
a transposição da literatura para o cinema?
Rodrigo: É interessante essa pergunta, porque é uma
pergunta pouco comum (pausa). A minha formação é literária e cinematográfica.
Então, quando eu consigo ver algo que una as duas coisas, e que chega onde o
Call me by your name chegou, é óbvio que valoriza cada vez mais meu pensamento
enquanto produtor. Mas isso não significa que eu opte apenas por trabalhar com
adaptações. Eu trabalho também com roteiros originais.
OP: Ainda neste semestre, você vai
repetir uma parceria com o cineasta cearense Karim Aïnouz. Como é este novo
projeto?
Rodrigo: O filme chama A vida invisível, é baseado no
livro A vida invisível de Eurídice Gusmão, da Marta Batalha. É um filme de
época, se passa nos anos 1940 e 1950, e o Karim está dando um escopo. É sobre a
condição da mulher nesta época e a relação entre duas irmãs. É um roteiro
maravilhoso e estou muito empolgado com esse filme, acho que é um filme forte
que a gente vai fazer no Brasil. OP: Vocês já haviam trabalhado juntos
em O abismo prateado. Como é essa parceria com o Karim?
Rodrigo: Eu tenho uma relação com o Karim há 15 anos já. É
uma relação diferente, a gente é superfeliz trabalhando juntos.
Compartilhamos um gosto de cinema muito próximo.
Sou muito feliz de participar de filmes com o Karim. É um diretor que eu tenho
muita vontade de trabalhar com ele e cada vez trabalhar mais. OP: Quando
saiu a relação dos indicados ao Oscar teve uma polêmica pela ausência do seu
nome entre os produtores do Me chame pelo seu nome...
Rodrigo: (interrompendo) Na verdade isso não é uma
polêmica. Não teve polêmica em lugar nenhum! O que teve foi uma conversa de
internet, aqui no Brasil, de algumas pessoas.
O filme foi indicado a Melhor Filme, as produtoras
todas são mencionadas, são três só, e o PGA (Producers Guild of America,
Associação dos Produtores de Cinema, TV e Novas Mídias) passa só quatro nomes
para serem nomeados na indicação. E foram os quatro que apareceram. São sete
produtores, os sete sobem no palco se o filme ganhar, os sete participam de
todo o processo. Só no Brasil esse tipo de coisa gera polêmica, lá fora passou batido.
Eu sou membro da Academia (de Artes e Ciências Cinematográficas, organização
que concede o Oscar).
O único dos produtores que é membro da Academia sou
eu.
Estive com o presidente da Academia na
segunda-feira passada, um dia antes do anúncio, conversamos sobre isso.
Ele falou: “Rodrigo, isso aí é zero preocupação. Se
o filme for indicado você ganha igual a todo mundo. Só que os quatro nomes que
aparecem é o que o PGA mostra”. Não é só com a gente. Todos os filmes tiveram produtores
que não foram citados nas indicações. Faz parte.
Mais RT Features
Rodrigo Teixeira acaba de lançar no Festival de
Sundance (EUA) o filme Skate Kitchen, dirigido por Crystal Moselle. No fim do
ano deve chegar às telas sua nova produção internacional, a ficção científica
Ad Astra, de James Gray, com Brad Pitt e Tommy Lee Jones no elenco.
ÉMERSON MARANHÃO- O Povo