O empresário Joesley Batista, um dos donos da
J&F, afirmou em depoimento prestado na semana passada a
investigadores da Lava Jato que tem gravações ainda não entregues.
Joesley prestou depoimento no último dia 7 ao Minsitério
Público Federal. O acordo de delação dele e de outros executivos da J&F,
entre os quais Ricardo Saud, está em processo de revisão, o que pode
levar à rescisão.
Como o MPF decidiu apurar se eles omitiram informações, os
benefícios foram temporariamente suspensos.
Saiba abaixo detalhes dos depoimentos de Joesley Batista e
de Ricardo Saud:
Marcello Miller
No depoimento da última quinta, os procuradores perguntaram
Joesley sobre a atuação do ex-procurador Marcello Miller,
citado na conversa gravada entre o empresário e o executivo da J&F Ricardo
Saud.
Joesley disse que o primeiro contato com Miller foi feito
no fim de fevereiro ou começo de março, por meio do advogado da empresa
Francisco de Assis e Silva. Joesley disse que, nesse primeiro contato, não
falou de colaboração premiada, mas, nos outros, sim.
Joesley disse também que os outros encontros em março com
Marcelo Miller foram na empresa, a JBS, e que Miller se apresentava como
ex-procurador do Rio de Janeiro.
Joesley disse que conversou com Marcello Miller sobre
colaboração premiada, como se faz, o procedimento, se funciona ou não, e que
Marcelo Miller dizia que tinha saído do MPF e em um mês iria para um escritório
grande. Disse também que Marcello Miller dava orientações abstratas sobre
colaboração e crimes, tendo servido para entender o processo de colaboração
premiada.
Já o executivo da J&F Ricardo Saud disse no depoimento
que o primeiro encontro com Marcello Miller foi no dia 8 de março. Nessa data,
miller tinha pedido demissão do cargo de procurador, mas ainda não tinha sido
exonerado.
Saud contou que teve dificuldades em fazer os anexos da
delação e que por isso procurou novamente Marcello Miller, que disse que
ajudaria, embora não pudesse instrui-lo; que escrevia os anexos e Marcello
Niller passava os olhos e dizia a Francisco de Assis e Silva para analisar o
que tinha ou não ato de oficio.
Já Joesley disse que nunca recebeu orientação de Marcello Miller
sobre elaboração dos anexos da colaboração nem sobre a produção de uma prova
específica; e que Marcelo Miller nunca o orientou a gravar alguém para fins de
colaboração premiada, nem o presidente Michel Temer. Também disse que nunca
pagou nada diretamente a Marcello Miller.
Joesley disse que que Marcelo Miller jamais vendeu
facilidades por ser do MPF; que Marcello Miller inclusive se referia a algumas
pessoas da PGR como "ex-colegas", jamais como pessoas que poderia
facilitar alguma coisa.
Rodrigo Janot
Sobre a suposta conversa com Rodrigo Janot mencionada no
áudio, Joesley disse que nunca esteve com ele nem em lugar público,
de modo que não sabe qual é esse contexto; e que nessa data da gravação, que
foi a da "operação Carne Fraca" no dia 17 de março, estava no meio da
"predisposição" de colaborador; que, assim, estava inseguro sobre
colaborar.
Joesley disse que que as menções a Rodrigo Janot são na
verdade à PGR e ao MPF, e que nunca nem tentou falar com Rodrigo Janot.
Joesley disse também que nunca viu mensagens de Rodrigo
Janot a Marcelo Miller e que, para ele, Marcelo Miller estava voluntariamente
prestando as informações, sem nenhum contrato ou pagamento, no período de
férias entre a saída do MPF e o início do trabalho no escritório de advocacia.
O empresário disse que chegou a perguntar a Marcelo Miller
se poderiam conversar pelo fato de ele ser ex-procurador, se não haveria
problema; que sempre teve Marcelo Miller como ex-procurador e que pode
assegurar que não teve nenhum beneficio nem acerto com Marcelo Miller.
'Não vamos ser presos'
Sobre o trecho da gravação em que Joesley disse "nós sabemos que não vamos ser presos",
o empresário explicou que era uma espécie de "mantra" que repetia
para passar credibilidade à familia e à equipe dele.
Ele negou ter conseguido algum acerto ilícito para não ser preso. Disse
inclusive que sabia que poderia ser preso a qualquer momento.
Gravações
Joesley contou que a gravação dele com Ricardo Saud foi
feita por engano. Disse que "não gravou Marcelo Miller em nenhuma
oportunidade; que acha que não gravou os encontros na PGR; que não entregou
nada que não tinha crime; mas adimitiu que tem outras gravações ainda não
entregues".
Cardozo
Uma dessas gravações é com o ex-ministro da Justiça José
Eduardo Cardozo. Joesley disse, no entanto, que esse material está fora do
Brasil porque apenas ele manuseia e que gravou até encontros com amigos e não
sabe a quantidade de áudios que tem. Segundo o delator, a avaliação sobre os
áudios serem ou não prova de crime foi apenas dele, Joesley.
Sobre a gravação com Cardozo, Joesley disse que não tem
nenhum crime. Joesley afirmou que a conversa com Cardozo "envolveu a Lava
Jato", mas não tinha nada de errado, segundo ele, que queria saber como
estava andando a operação a fim de saber se tinha solução para ele fora da
colaboração.
Leia também: Cardozo diz que não discutiu oferta de sentenças
favoráveis no STF em reunião com Joesley
Joesley também contou que a menção à palavra escritório na
gravação é escritório de advocacia de Marco Aurélio Carvalho, sócio de José
Eduardo Cardozo, que emitia mensalmente notas de R$ 70 mil ou R$ 80 mil para
contratos fictícios e que parte desse dinheiro iria, segundo Marco Aurélio,
para Cardozo.
E que esse contrato fictício era para manter "boa
relação" com Cardozo; que Marco Aurélio dizia que o dinheiro chegava a
Cardozo que tratava muito bem Joesley. No entanto, Joesley disse que nunca
perguntou se o dinheiro chegava.
Políticos com os quais falava
Joesley contou que os políticos com os quais mais falou
sobre tudo que acontecia com a empresa no âmbito da Operação Lava Jato durante
os últimos três anos foram o senador Ciro Nogueira (PP), o ex-deputado Eduardo
Cunha (PMDB) e o presidente Michel Temer.
Joesley admitiu que, durante a Lava Jato, até decidir por colaborar, tratou com
vários políticos sobre como parar a operação.
Avaliação dos procuradores
As explicações de Joesley e outros colaboradores sobre a
gravação não convenceram os procuradores, que consideraram os fatos graves.
Afirmam que Joesley e Saud foram evasivos e confusos quando
tiveram que se explicar à procuradoria.
Esses depoimentos e as provas encontradas pela Polícia
Federal nas buscas desta segunda ajudarão Janot a decidir se o acordo da
J&F será mantido ou se os delatores perderão os benefícios.