Autor: Leopoldo Martins Filho
Advogado Membro Efetivo da Comissão Eleitoral da OAB/CE, Membro Consultor da Comissão Especial Eleitoral da OAB/NACIONAL .
Se a COP do Clima pretende discutir soluções
sustentáveis para o planeta, talvez o primeiro item da pauta deva ser a própria
sobrevivência financeira dos participantes em solo paraense. A conferência do
meio ambiente, prevista para acontecer em Belém, mal começou e já enfrenta seu
primeiro desastre ecológico: a extinção das diárias acessíveis.
O objetivo do evento é nobre: reunir líderes
mundiais para frear o aquecimento global, reduzir emissões e salvar a Amazônia.
Mas antes disso, os delegados precisarão enfrentar um novo desafio climático: a
“temperatura inflacionária” dos preços dos hotéis. Há relatos de diárias que
ultrapassam R$ 6.000 — sem incluir café da manhã, repelente ou bênção dos
pajés. É a COP ou um pacote VIP para Dubai?
Enquanto líderes mundiais discutem
reflorestamento, os hoteleiros locais praticam o desmatamento da carteira. E o
que era pra ser uma oportunidade de mostrar a riqueza natural do Norte virou
piada internacional: Belém virou meme global antes mesmo do evento começar.
Dizem que o turismo é a indústria sem chaminés.
Mas, pelo visto, em Belém ela vem soltando fumaça: a fumaça do lucro fácil. O
mercado descobriu que é mais rentável explorar turistas do que extrair madeira
ilegal — com a vantagem de não precisar de motosserra, só de máquina de cartão.
Organizadores da COP temem que os preços
desmatem a lista de convidados. ONGs já falam em “boicote
ambiental-financeiro”, acadêmicos cancelaram reservas e até os líderes europeus
cogitam participar por videoconferência, direto de suas casas — onde o aquecimento
global é forte, mas os preços são mais amenos.
Claro, os defensores dos altos preços dizem que
é a chance de Belém “lucrar com o protagonismo internacional”. Só esqueceram
que não adianta virar protagonista se o teatro está vazio. A COP corre risco de
virar uma reunião com meia dúzia de gatos pingados... e nem os gatos
conseguirão pagar a diária.
No final das contas, a grande ironia será
assistir a uma conferência sobre a proteção da natureza sendo sabotada por uma
selvageria capitalista. O evento prometia uma imersão na floresta amazônica,
mas tudo indica que será mesmo uma imersão... no débito.
Talvez o maior ensinamento ambiental da COP em
Belém seja este: preservar a Amazônia é urgente — mas preservar o bom senso
econômico também deveria estar no plano de ação.
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