Foto: Ilustrativa - Redes Sociais
Por: Leopoldo Martins Filho
Advogado -Membro Efetivo
Comissão Eleitoral da OAB/CE
Membro Consultivo da Comissão
Especial Eleitoral da OAB/NACIONAL
No elevador de um prédio, o
tempo parece ter parado. Em poucos segundos, uma mulher foi agredida
brutalmente por um ex-namorado com 61 socos no rosto. Sessenta e um. Não é
força de expressão, nem exagero de manchete. É a contagem fria de uma violência
real, registrada por câmeras de segurança, que transformaram o pequeno espaço
em uma espécie de cela de tortura. E como outros casos, poderia ter terminado
em feminicídio.
O que assusta não é só a
violência em si, mas a recorrência com que ela acontece — e a frieza com que é
tratada. Casos assim vêm se multiplicando diante de nossos olhos. Mudam os
nomes, os endereços, os detalhes. Mas a brutalidade é sempre a mesma. E pior:
acompanhada por um silêncio institucional e jurídico.
Sessenta e um golpes não são
cometidos por acidente. Não são fruto de um impulso momentâneo. São a expressão
máxima de um sentimento de posse, de domínio, de impunidade.
Mas e a mulher? Essa, muitas
vezes, carrega os hematomas não só no corpo, mas na alma. É julgada,
questionada, desacreditada. “Por que ainda estava com ele?”, “Será que não
provocou?”, “Deve ter algo por trás.” A revitimização é parte do ciclo de
violência. E ela afasta, isola, silencia.
É urgente romper esse ciclo. A
sociedade precisa parar de tratar esses episódios como exceções ou tragédias
inevitáveis. São crimes previsíveis. Anunciados. Muitas vezes denunciados — e
ignorados. É preciso agir com rigor contra os agressores, garantir medidas de
proteção eficazes, e criar políticas públicas voltadas à prevenção. A educação
emocional, o combate ao machismo estrutural e o fortalecimento de redes de
apoio são tão importantes quanto a punição.
O elevador, espaço de passagem
e convivência, virou palco de terror. Que o vídeo não seja só mais um viral da
internet, mas um alerta. Cada soco ali foi um golpe contra todas as mulheres.
Contra a humanidade. E contra o Estado que ainda não cumpre seu papel de
proteger.
Que a sociedade não se cale.
Porque o silêncio, nesse caso, também
mata.
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