![]() |
Foto Reprodução |
Moradores de edifícios
residenciais de bairros da área nobre de Fortaleza denunciam a falta de
manutenção dos prédios da Construtora e Imobiliária SAD LTDA.
Ao Diário do Nordeste,
os inquilinos acusam a empresa de negligência em relação ao atendimento e ao
cumprimento de demandas para resolução de diversos problemas.
Segundo moradores ouvidos pela
reportagem, as reclamações para a SAD, proprietária de pelo menos 12 prédios,
cuja característica comum é o sobrenome "Linhares", e administradora
dos condomínios, envolvem grandes infiltrações nos imóveis e nas áreas comuns,
problemas com os revestimentos externos das construções — que estariam caindo,
elevadores antigos e sem manutenção, entre outros.
A reportagem tentou contato com a
construtora pelo número de telefone fixo e WhatsApp, mas não houve retorno. O
espaço para manifestação da SAD segue aberto. Esta reportagem será atualizada,
caso a empresa se manifeste.
Os imóveis estão localizados,
principalmente, nos bairros Meireles, Aldeota, Dionísio Torres, Joaquim Távora
e Centro. Em anúncios encontrados pelo Diário do Nordeste, a
média de aluguel é de R$ 2,5 mil e a taxa condominial de R$ 500.
Além disso, laudo do Corpo de
Bombeiros aponta reprovação de pelo menos umas das construções por
"desacordo com o Código de Segurança contra Incêndio e Pânico do Estado do
Ceará".
Os locais também não teriam
síndicos constituídos, sendo que a taxa condominial é paga à própria SAD, que
não estaria fazendo as manutenções necessárias nas edificações.
Infiltrações comprometem
estrutura, dizem moradores
Fotos enviadas por moradores e
ex-inquilinos do edifício Gentil Linhares Cardoso, localizado na Rua Fiuza
de Pontes, no Centro de Fortaleza, mostram vigas de ferro aparentes,
buraco ao redor de uma lâmpada nos corredores das escadas e infiltrações nos
tetos dos prédios.
Um inquilino de 31 anos, bacharel
em Comércio Exterior, morador do prédio Gentil Linhares Cardoso, conversou com
o Diário do Nordeste e pediu para não ser identificado por
medo de represálias.
Ele conta que o descaso iniciou
logo após a assinatura de contrato de locação. No interior do apartamento havia
algumas pequenas infiltrações e um armário que estava torto e quebrado. Na
época, a imobiliária prometeu resolver os problemas no primeiro mês de
contrato.
"Estou com quase dois anos
de contrato e nunca recebi ninguém, de canto nenhum, para resolver nada. Falo
com a imobiliária, eles passam para a SAD. Falo com a SAD, dizem que vão
resolver e somem. Aliás, o maior comportamento deles é visualizar as mensagens
e não responder de jeito nenhum".
Sobre os problemas nas áreas
comuns, ele destaca o revestimento do prédio que constantemente tem azulejos
danificados que caem sobre o telhado das garagens e veículos, além de risco
iminente de machucar alguém. Sobre as escadas, muitos andares têm vazamentos e
não têm luz.
"Além disso, tivemos um
buraco enorme no teto do estacionamento que passou um ano para ser resolvido.
Essa semana foram abertos dois novos buracos, também para resolver um problema
de vazamento, e a gente não tem a menor perspectiva de quando eles serão
resolvidos", diz o homem.
Elevadores "sempre
estragados"
Um engenheiro de 31 anos, que
morou no local até janeiro deste ano, revela os problemas constantes com os
elevadores do edifício Gentil Linhares Cardoso.
"A coisa que marca muito o
local é que os elevadores estão sempre com defeito ou com a operação
deficitária. Ou seja, é muito difícil ter os dois elevadores funcionando em
segurança. Quando entrei lá lutei muito para receber laudos das condições dos
equipamentos e acabei expulso do condomínio".
Ele conta que o mais problemático
era o elevador de serviço. Além disso, o homem revela ter ficado preso por
diversas vezes nos equipamentos, como também presenciou os elevadores descendo
sozinhos.
"Uma moradora fez cirurgia
no joelho e não pôde voltar para casa porque não tinha elevador e ela não
poderia subir as escadas. Uma outra mulher teve um filho, o bebê precisou ficar
no hospital e ela não conseguia sair e voltar de casa, para visitar criança,
porque não tinha elevador funcionando".
O problema teria durado semanas,
sendo que o prédio tem mais de dez andares. Ao ficarem presos, os moradores
também não conseguem, segundo relatos, comunicação para avisar o problema, pois
os equipamentos não teriam interfone.
O fato fez com que idosos e
pessoas com problemas de locomoção precisassem enfrentar escadas, muitas vezes
impraticáveis para sua condição. Além disso, pets de grande porte precisaram
ser carregados pelos tutores no colo, o que causou transtorno e desgaste para
ambos.
Moradores relatam falta de
transparência na administração condominial
Tanto o morador atual quanto o
que saiu do prédio da Rua Fiuza Pontes relatam a falta de transparência na
administração condominial. Segundo eles, não são feitas prestações de contas
aos condôminos de nenhuma forma.
Recentemente o local passou pela
mudança de portaria presencial para eletrônica e os condôminos teriam sido
apenas comunicados após a decisão.
"A SAD é dona de tudo, então
quando fizeram essa troca, só informaram. Ou seja, quem mora, quem paga a conta
não viu orçamentos ou teve condição de optar por uma de três empresas
apresentadas, por exemplo. Essa é a forma de operar deles. Não se consegue
contato e a manutenção não é feita", comenta o engenheiro.
Ele reforça que os valores não
são transformados em manutenção. "E quando fazem, não seguem normas de
segurança, como, por exemplo, dos azulejos das fachadas que ficam caindo. Já
caiu uma janela de cozinha do prédio e ninguém toma providências".
Laudo dos Bombeiros de 2024
apontava irregularidades
A reportagem teve acesso a um
"Relatório de Irregularidades" emitido pelo Corpo de Bombeiros em
fevereiro de 2024, que declara nove pontos em que o edifício Gentil Linhares
Cardoso estaria em "desacordo com o Código de Segurança contra Incêndio e
Pânico do Estado do Ceará". Veja o documento abaixo:
Relatório de irregularidades do edifício Gentil Linhares CBMCE
Questionado sobre o caso e se a
administração do prédio teria feito as adequações para se tornar
"aprovado", o Corpo de Bombeiros informou que "se trata de
informação sensível. Só pode ser repassada por meio de solicitação por ofício
ao comando-geral do Corpo de Bombeiros Militar do Ceará (CBMCE)". O ofício
foi enviado, e a reportagem aguarda retorno.
No ofício enviado pelo Diário
do Nordeste ao comando do Corpo de Bombeiros, foram perguntados quais
são os riscos que as centenas de moradores, levando em conta que são 102
unidades habitacionais, estão correndo por conta das irregularidades de
segurança apontadas pelos bombeiros.
Além disso, houve pedido de
informações de mais 11 imóveis de propriedade da SAD, sobre a regularidade do
Código de Segurança contra Incêndio e Pânico do Estado do Ceará. Caso a
corporação responda, esta reportagem será atualizada.
Problemas para encerrar
contrato de locação
Uma jornalista e ex-moradora do
edifício Alda Linhares, também da SAD, na esquina das ruas Padre Valdevino com
Rui Barbosa, na Aldeota, relata os problemas que teve enquanto ocupava o local
e as dificuldades para encerrar o contrato de locação.
No banheiro do apartamento, um
vazamento colocou em risco a vida da gata da família. Com um buraco que abriu
no forro por conta da água, o animal subiu e ficou preso no local.
"Após entrar, passei por uma
série de dificuldades para lidar com a administração do imóvel. Inclusive os
boletos de aluguel e condomínio que não chegavam, eu precisava cobrar diversas
vezes para receber".
Assim como no empreendimento
imobiliário do Centro, neste da Aldeota são centenas de unidades habitacionais
e moradores relatam problemas de manutenção.
"Os problemas estruturais
não eram resolvidos. O elevador era todo quebrado, tinha um fosso aberto. A
falta de luz era constante, o prédio era sujo, o estacionamento tomado por
goteiras", comenta a jornalista, lembrando que os moradores tentavam fazer
demandas, mas que a construtora não era receptiva, assim como "nada
estrutural do prédio era resolvido".
A jornalista reforça ainda que
quando finalmente decidiu desocupar, passou por problemas na entrega.
"Eles foram totalmente
desonestos na entrega do apartamento. Fizeram cobranças de boletos que eu não
recebi, alegaram diversas questões do apartamento que não condiziam com a forma
com que entreguei e, além da caução que tinha dado e que retiveram, ainda me
cobraram mais R$ 2 mil. Saí para nunca mais", desabafou.
Fonte Diario do Nordeste
Postar um comentário