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Foto: Reprodução |
No Ceará, o rendimento médio
de 1% da população que ganha mais era 34,4 vezes maior que 50% dos mais pobres
no Estado em 2023. Em números reais, o rendimento domiciliar per capita mensal
dos mais ricos é em média R$ 13.780, contra os R$ 400 dos que recebem
menos.
Os dados são da Pesquisa
Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua 2023 - Rendimento de Todas
as Fontes, que traz o retrato da desigualdade de renda no Brasil e nos estados.
Os resultados foram divulgados nesta sexta-feira (19) pelo Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE).
A massa de rendimento médio
mensal real domiciliar per capita no Ceará totalizou R$ 10,6 bilhões em 2023. O
valor representa um aumento de 5,9% se comparado com 2022, que teve o valor de
R$ 10,0 bilhões. Porém, em relação a 2019 (R$ 10,8 bilhões), observa-se
declínio de 1,1%.
A
pesquisa só leva em conta o rendimento de trabalho para pessoas de 14 anos ou
mais de idade. Além disso, na série histórica, em 2012 o Ceará apresentava a
menor renda, de R$ 159. Durante os anos subsequentes sempre havia um pequeno
aumento, até 2020, quando o valor era de R$ 314. Já em 2021 a renda caiu para
R$ 275. Em 2022, subiu para R$ 361, chegando aos R$ 400 em 2023.
O
mesmo movimento foi apresentado no grupo de maior rendimento. Em 2012 o valor
era de R$ 6.124. O valor se manteve crescente até 2020 quando chegou em R$
12.714. Em 2021 houve a queda, chegando em R$ 10.634, voltando a subir em 2022
(R$ 13.314) e chegando aos R$ 13.780 de 2023.
MELHORIA
NO MERCADO DO TRABALHO INSUFICIENTE
Professor
do Programa de Pós-Graduação em Economia da Universidade Federal do Ceará
(Caen/UFC), João Mário de França afirma que apesar da melhoria no mercado de
trabalho cearense e brasileiro e a ampliação dos programas sociais
principalmente no âmbito federal, como o Bolsa Família, mas também estadual
como o Cartão Mais Infância Ceará e Ceará Sem Fome, em 2023 o nível de
desigualdade no Estado permanece alto, assim como no Brasil.
Ele aponta que o principal
fator que explica esse nível de desigualdade no Estado é a baixa escolaridade,
já que um percentual muito grande de pessoas no mercado de trabalho possuem
ensino básico ou médio incompleto e ainda atuam na informalidade.
AINDA REFLEXOS DA DÉCADA DE
1980
A realidade enfrentada agora
pelo Estado e pelo País, segundo o economista, tem relação direta com a pouca
atenção dada no passado, mais precisamente até o final dos anos 80, aos
investimentos sociais, principalmente na área da educação, quando havia muitas
crianças fora da escola.
“Isso
resultou em uma parcela significativa da população adulta que está no mercado
de trabalho com baixa escolaridade, produtividade e menores salários,
contrastando com os que tiveram mais oportunidades e tiveram mais anos de
estudo”, diz França.
Para
o especialista, a única maneira de reverter esse quadro estrutural de
desigualdade elevada no médio e longo prazo é o Estado continuar priorizando
reduzir a desigualdade de oportunidades com focalização nas famílias mais
vulneráveis.
“É
preciso ser garantida para os filhos destas famílias o acesso a uma boa
educação em todas as fases, mas principalmente na primeira infância (0 até 6
anos) desde a pré-escola permitindo assim um adequado desenvolvimento físico,
cognitivo e socioemocional para que ao longo das fases seguintes essas crianças
tenham mais capacidade de aprendizagem e possam atingir todo o seu potencial”.
França
também aponta que acesso à saúde de qualidade descentralizada, onde se pensa
também no saneamento ambiental (água potável e esgoto) e melhoria da
infraestrutura domiciliar, sendo que algumas sequer possuem banheiro, também
são pontos-chave para a construção dessa diminuição de disparidade de renda.
Além
disso, para o economista, essas políticas sociais só são fortalecidas quando,
além dos programas estaduais de transferência de renda, o Estado preserva o seu
equilíbrio fiscal.
“Com
isso é possível realizar investimentos sociais, sem falar que contas públicas
sustentáveis garantem também maior credibilidade ao Estado no processo de
atração de novos negócios e empresas que geram dinamismo e aumento de emprego e
renda na economia”, completa.
Fonte: Diário do Nordeste
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